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Aldina Duarte

Aldina Duarte, nacida en Lisboa,  comenzó a trabajar a los 20 años en un periódico, después en la radio y finalmente en el Centro de Parálisis Cerebral. Cantaba en el coro de un grupo entre musical y teatral «Valdez y las Pirañas Doradas» con el actor Pedro Wilson, mientras trabajaba en el Centro de Parálisis Cerebral.

Participó en la película «Xavier» de Manuel Mozos, en el que interpretaba el fado «A Rua do Capelão».

El repertorio que gravó en «Apenas o Amor», su primer álbum, recoge algunos de los tipos más dignos del fado tradicional ("Fado Menor", "Fado Bailado", "Fado Carriche", "Fado das Horas", "Fado Tango", "Fado Laranjeira"), con especial predominio del fado menor. Los temas de las letras, escritos por la propia Aldina Duarte, acompañan esa elección.

Su segundo álbum «Crua», incluye 12 fados tradicionales con letras de João Monge.

En 2008 lanzó el disco «Mulheres Ao Espelho». En se mismo año la antología "DIGA 33 - OS POETAS DAS QUINTAS DE LEITURA", incluye el poema "Princesa Prometida" de su autoría.

En 2011 editó el disco "Contos de Fados". Todas las letras de los fados están inspiradas en obras da literatura universal.

Su último disco, «Romance(s)» es un interesante experimento auditivo en el que colaboran diferentes artistas del mundo del fado.

Suele actuar en la casa de fados Sr.Vinho, en el barrio de Lapa.

Discografía

Apenas O Amor (2004)

 

1             A Voz E O Silêncio

2             M.F.

3             Anjo Inútil

4             Ai Meu Amor Se Bastasse

5             Lírio Quebrado

6             Antes De Quê?

7             Casa-Mãe / Cidade

8             Quase Lembrança

9             Muro Vazio

10           Nada Mais Na Noite

11           Sonho Lento

12           Canção A Meia Voz

 

A Voz E O Silêncio

No silêncio outra voz / Ao lado duma canção / Repartida entre nós / Tem a força duma oração / Cada qual deve encontrar / Seu caminho desejado / Há um céu para alcançar / Sem virtude e sem pecado / Anda a dor devagarinho / Num coração apressado / Quando o amor fala baixinho / Tristemente amordaçado / Gota a gota na varanda / Seca a chuva distraída /Quem nos pede quem nos manda / Não dar voz à prórpia vida

 

En el silencio otra voz / Al lado de una canción / Tiene la fuerza de una oración / Cada cual debe encontrar / Su camino deseado / Hay un cielo que alcanzar / Sin virtud y sin pecado / Anda el dolor despacito / En un corazón apresurado / Cuando el amor habla bajito / Tristemente amordazado / Gota a gota en la baranda / Se seca la lluvia distraída / Quién nos pide, quién nos manda / No darle voz a la propia vida

M.F.

Na memória uma voz triste / Não pára de me dizer / Tudo aquilo que hoje existe / Um dia há-de morrer / Eternamente a tristeza / Prevalece desmedida / Qualquer coisa de beleza / Tem de haver p'ra além da vida / Devagar o esquecimento / Persuade o coração / Na corrida contra o tempo / Volta sempre a solidão

 

 

En la memoria una triste voz / No para de decirme / Todo aquello que hoy existe / Un día ha de morir / Eternamente la tristeza / Prevalece desmedida / Un algo de belleza / Tiene que quedar para después de la vida / Lentamente el olvido / Persuade al corazón / En la carrera contra el tiempo / Vuelve siempre la soledad

Anjo Inútil

Passou um anjo de rasto / Na selva da minha vida / O sangue dele nos cardos / Ainda hoje tem vida / Rasgou as asas na pele / De modo grave, mais além / Por esse amor que me teve / Amei-o como a ninguém!

 

Pasó un ángel arrastrándose / Por la selva de mi vida / Su sangre en los cardos / Aún hoy tiene vida / Rasgó sus alas en la piel / De modo grave y aún más allá / Por ese amor que me tuvo / ¡Y que amé como a ninguno!

Ai Meu Amor Se Bastasse

Ai meu amor se bastasse / Saberes que eu te amo tanto / E cada vez que eu cantasse / Ai meu amor se bastasse / Saberes que é por ti que eu canto / Ai meu amor se bastasse / O que a cantar eu consigo / E mesmo que eu não cantasse / Ai meu amor se bastasse / O que a falar eu não digo / Ai meu amor se bastasse / Eu saber que não te basta / E na vida que eu gastasse / A cantar eu reparasse / Que a nossa vida está gasta / Se o que eu tenho p'ra te dar / Quando eu canto te chegasse / Se isso pudesse bastar / Se me bastasse cantar / Ai meu amor se bastasse

 

Ay, mi amor si bastase / Que supieses que te amo tanto / Y cada vez que yo cantase / Ay, mi amor, si bastase / Si supieses que es por ti que canto / Ay, mi amor, si bastase / Lo que al cantar yo consigo / Y aunque yo no cantase / Ay, mi amor, si bastase / Lo que al hablar yo no digo / Ay, mi amor, si bastase / Que yo sepa que no te basta / Y en la vida que yo gastase / Al cantar yo reparase / Que nuestra vida está gastada / Si lo que tengo para darte / Cuando canto te llegase / Si eso pudiese bastar / Si me bastase cantar / Ay, mi amor, si bastase

Lírio Quebrado

Entreguei ao vento a morte / Para ver se me esquecia / Nem mais som nem movimento / Acalmaram o mau tempo / No deserto em que vivia / Corri praças roubei flores / Em jardins cheios de gente / Cruzei as rosas com lírios / Numa teia de martírios / Quase leve e transparente / A chorar a tua ausência / Adivinho a tempestade / Meu amor sem fantasia / Entristece dia-a-dia / Porque morre de saudade

 

Entregué al viento la muerte / Para ver si me olvidaba / Ni más sonido ni más movimiento / Aclamaron el mal tiempo / En el desierto en que vivía / Recorrí plazas, robé flores / En jardines llenos de gente / Crucé rosas con lirios / En una urdimbre de martirios / Casi leve y transparente / Llorando tu ausencia / Adivino la tempestad / Mi amor sin fantasía / Entristece día a día / Porque muere de saudade

Antes De Quê?

Antes da chuva no rio / Antes de ser primavera / Antes do corpo vazio / Nunca estive á tua espera / Antes do corpo vazio / Nunca estive á tua espera / Antes da areia quebrar / Nas ondas da maré alta / Senti o cheiro do mar / Não senti a tua falta / Senti o cheiro do mar / Não senti a tua falta / Antes do mal que passei / Antes do bem que vivi / Nunca de ti me lembrei / Nem nunca pensei em ti / Nunca de ti me lembrei / Nem nunca pensei em ti / Antes da estrela cadente / Riscar o céu doutras luas / Antes do quarto-crescente / Não tive saudades tuas / Antes do quarto-crescente / Não tive saudades tuas / Não sei como, nem porquê / Antes -não sei- de que instantes / Meu amor antes de quê / Antes fosse como antes / Meu amor antes de quê / Antes fosse como antes

 

Antes de la lluvia en el río / Antes de ser primavera / Antes del cuerpo vacío / Nunca estuve a tu espera / Antes del cuerpo vacío / Nunca estuve a tu espera / Antes de romperse la arena / En las olas de la marea alta / Sentí el olor del mar / No sentí tu falta / Sentí el olor del mar / No sentí tu falta / Antes del mal que pasé / Antes del bien que viví / Nunca me acordé de ti / Y nunca pensé en ti / Nunca me acordé de ti / Y nunca pensé en ti / Antes de la estrella fugaz / Rayando el cielo de otras lunas / Antes del cuatro creciente / No tuve saudades tuyas / Antes del cuatro creciente / No tuve saudades tuyas / No sé cómo no por qué / Antes, no sé, de qué instantes / Mi amor, antes de qué / Antes fuese como antes / Mi amor, antes de qué / Antes fuese como antes

Casa-Mãe / Cidade

Hora a hora dia a dia / P'las ruas encantada / Andei a ver se entendia / A cidade tão cansada / Casas tristes desoladas / Juntas soltam um queixume / Sobrevivem em fachadas / De abandono e de ciúme / Nas varandas enlaçadas / Pelas heras da saudade / Oiço rir às gargalhadas / Entre gritos de outra idade / Na calçada envelhecida / Faltam pedras pelo chão / Os canteiros são a vida / Dos becos na escuridão / Quer de noite quer de dia / Meu mistério decifrava / E se acaso me perdia / Mais de mim eu encontrava / Mesmo em frente à casa-mãe / Encontrei-me na distância / Ai de quem por si não tem / Na memória qualquer esperança

 

Hora a hora, día a día / Por las calles encantadas / Anduve a ver si entendía / La ciudad tan cansada / Casas tristes desoladas / Juntas sueltan un quejido / Sobreviven en fachadas / De abandono y celos / En las barandas enlazadas / Por las hiedras de la saudade / Escucho reír a carcajadas / Entre gritos de otra edad / En la calzada envejecida / Faltan piedras por el suelo / Los arriates son la vida / De los callejones en la oscuridad / Sea de noche o de día / Mi misterio descifraba / Y si acaso me perdía / Más de mí encontraba / Incluso frente a la casa madre / Me encontré en la distancia / Ay de quien no tiene por sí / Alguna esperanza en la memoria

Quase Lembrança

Aparece de repente / O silêncio aprisionado / Numa voz inconsciente / Que no fundo, é sempre fado / Numa voz inconsciente / Que no fundo, é sempre fado / Anda em mim a naufragar / Uma coisa mais intensa / Não se pode revelar / Sem que a dôr não apareça / Não se pode revelar / Sem que a dôr não apareça / Afastei o vento norte / Tive medo da razão / Lado a lado com a sorte / Encontrei meu coração / Lado a lado com a sorte / Encontrei meu coração / Afinal o tempo avança / Vagamente, sem parar / Nessa voz quase lembrança / Tudo nasce devagar / Nessa voz quase lembrança / Tudo nasce devagar

 

Aparece de repente / El silencio aprisionado / En una voz inconsciente / Que en el fondo, es siempre fado / En una voz inconsciente / Que en el fondo, es siempre fado / A punto de naufragar  / Hay en mí una cosa intensa / No se puede revelar / Sin que el dolor no aparezca / No se puede revelar / Sin que el dolor no aparezca / Me alejé del viento norte / Tuve miedo de la razón / Lado a lado con la suerte / Encontré mi corazón / Lado a lado con la suerte / Encontré mi corazón / Al final el tiempo avanza / Lentamente, sin parar / En esa voz casi recuerdo / Toso nace lentamente / En esa voz casi recuerdo / Toso nace lentamente

Muro Vazio

A folhagem rente ao muro / No silêncio quase escuro / Cresceu pouco e devagar / Dia a a dia fui esperando / Sem saber bem até quando / Pelas flores que quis plantar / Mesmo em frente à tua casa / Esse muro quase branco / De verde o queria cobrir / As flores vieram depois / Discretas, para nós dois / Só para te ver a sorrir / Sem as flores te vi partir / Nesse instante quis fugir / Para além do muro vazio / Hoje o verde acorda os dias / Adormece as noites frias / Mas as flores, ninguém as viu

 

El follaje junto al muro / En el silencio casi oscuro / Creció poco y lentamente / Día a día fui esperando / Sin saber bien hasta cuando / Por las flores que quise pintar / Incluso frente a tu casa / Ese muro casi blanco / De verde quise cubrir / Las flores vinieron después / Discretas, para nosotros dos / Sólo para verte sonreír / Sin las flores te vi partir / En ese instante quise huir / Más allá del muro vacío / Hoy el verde despierta los días / Adormece las noches frías / Pero las flores, nadie las vio

Nada Mais Na Noite

Segue a estrada distraída / Presa à saia que esvoaça / Como sem se entrega à vida / Entre as mãos que o vento enlaça / No desenho desse andar / Há um quê d'amor perdido / Uma história por contar / Dum desejo proíbido / Já sentada à sua porta / Ergue os olhos para o céu / Com a saia não se importa / Porque a lua se acendeu / Por encanto ou fantasia / Acordei pela noite fora / Nada mais na noite havia / Que o meu sonho a ir-se embora / Numa sombra recortada / Pelo chão vazio e duro / Voa a saia amarrotada / De cetim em rosa escuro / Entre o sonho e a realidade / Um minuto sorridente / Tem o espaço da verdade / Em que a vida se desmente

 

Sigue el camino distraída / Agarrada a la falda que vuela / Como sin entregarse a la vida / Entre las manos que el viento enlaza / En el dibujo de ese andar / Hay un algo de amor perdido / Una historia por contar / De un deseo prohibido / Ya sentada a su puerta / Levanta los ojos al cielo / No se ocupa de su falda / Porque la luna se encendió / Por encanto o fantasía / Desperté en medio de la noche / Nada más en la noche había / Que mi sueño al irse lejos / En una sombra recortada / Por el suelo vacío y duro / Vuela la falda arrugada / De satén de rosa oscuro / Entre el sueño y la realidad / Un minuto sonriente / Tiene el espacio de la verdad / En que la vida se desmiente

Sonho Lento

Por amor nunca te falo / Do sonho em que me calo / Por saber que não o tens / Entre muitas marés vivas / E saudades tão parecidas / Hoje sei que já não vens / Tua voz eu quero ouvir / Sabendo que vou sentir / O que de mim tu levaste / Entre todos a esconder-me / Com a alegria de perder-me / Na tristeza que deixaste / Não há vento a recordar / Nem rosas para entregar / Só há certeza já perdida / Dizer que ainda te quero / Pode ser só desespero / Ou saudade arrependida / Não consigo perceber / Porque teimas em não ver / Nas estrelas o caminho / A errar com toda a alma / A fingir que a dor se acalma / Estás agora mais sozinho

 

Por amor nunca te hablo / Del sueño en que me callo / Por saber que no lo tienes / Entre muchas mareas vivas / Y saudades tan parecidas / Hoy sé que ya no vienes / Quiero oír tu voz / Sabiendo que voy a sentir / Lo que te llevaste de mí / A esconderme entre todos / Con la alegría de perderme / En la tristeza que dejaste / No hay viento que recordar / Ni rosas para entregar / Sólo la certeza ya perdida / Decir que aún te quiero / Puede ser sólo desesperación / O saudade arrepentida / No consigo percibir / Porque te obstinas en no ver / En las estrellas el camino / Equivocarte con toda el alma / Fingir que el dolor se calma / Ahora estás más solo

Canção A Meia Voz

A minha vida é sempre ontem / E o meu destino, amanhã; / Hoje é uma coisa parada / Nada sei, não faço nada / Certeza é palavra vã / Porque abri as minhas mãos / E deixei fugir o instante / Que havia nelas, ainda / Agora o nada não finda / E o tudo é sempre distante / Virás tu ao meu encontro / Ou sou eu que devo achar-te / Quem podera descansar / Ver, ouvir, e não pensar / Ser aqui e em toda a parte / Chego tarde ou muito cedo / Ou páro aquém ou além / Houvessse algo para mim / Sem ter princípio nem fim / Sem ser o mal ou o bem

 

Mi vida es siempre ayer / Y mi destino, mañana / Hoy es una cosa parada / Nada sé, no hago nada / La certeza es palabra vana / Porque abrí mis manos / Y dejé huir el instante / Que en ellas había, aún / Ahora el nada no acaba / Y el todo es siempre distante / Vendrás tú a mi encuentro / O soy yo quien debe encontrarte / Quién pudiera descansar / Ver, oír, y no pensar / Estar aquí y en todas partes / Llego tarde o muy temprano / O paro aquí o más allá / Si hubiese algo para mía / Sin tener principio ni fin / Sin ser el mal o el bien

Crua (2006)

 

  1. A Saudade Anda Descalça

  2. A Estação Das Cerejas

  3. Luas Brancas

  4. Andei A Ver De ti

  5. Dor Feliz

  6. Deste-me Tudo O Que Tinhas

  7. Flor Do Cardo

  8. A Estação Dos Lírios

  9. Xaile Encarnado

  10. Cachecol Do Fadista

  11. À porta Da Vida

  12. Sorriso Das Águas

 

A Saudade Anda Deslaça

A saudade anda descalça / Pra não se fazer ouvir / Atravessa o quarto escuro / Beija-me o rosto inseguro / Quando me apanha a dormir / Tem o dom de me levar / Onde lembra o coração / Dá todo o tempo que tem / É mais do que minha mãe / Mãe da minha condição / A saudade anda descalça / E é descalça que me quer / Faz brilhar o que entristece / E o que morreu, permanece / A saudade é uma mulher

 

La saudade anda descalza / Para no hacerse oír / Atraviesa el cuarto oscuro / Me besa el rostro inseguro / Cuando me coge durmiendo / Tiene el don de llevarme / Donde el corazón recuerda / Da todo el tiempo que tiene / Es más que mi madre / Madre de mi condición / La saudade anda descalza / Y es descalza como me quiere / Hace brillar lo que entristece / Y lo que murió, permanece / La saudade es una mujer

A Estação Das Cerejas

Eu hei-de ser das cerejas / Da vertigem dos cardumes / Do mistério dos pardais / Hei-de ser o que tu sejas / Aquilo a que te resumes / As orações naturais / Eu hei-de ser vento norte  / Rir-me na cara da morte  / A dança do colibri / Mas hei-de ser do meu peito / Desta dor com que me deito / Só porque me dói de ti / Eu hei-de ser das cerejas / Do luar na primavera / Labirinto do prazer / Hei-de ser o que desejas / Que por ti sabes que espera / Enquanto a lua quiser / Eu hei-de nascer do nada / Como a papoila encarnada / Que nada fez por nascer / Hei-de nascer tua amada / Sem uma razão nem nada / Mas só porque tem de ser

 

Debo ser de las cerezas / Del vértigo de las cerezas / Del misterio de los gorriones / Debo ser lo que tú seas / Aquello a que tu reduces / Las oraciones naturales / Debo ser el viento norte / Reírme en la cara de la muerte / La danza del colibrí / Pero debo ser de mi pecho / De este dolor con que me acuesto / Sólo porque me duele por ti / Debo ser de las cerezas / De luz de luna en primavera / Laberinto del placer / Debo ser lo que deseas / Que por ti sabes que espera / Cuando la luna lo quiera / Yo debo nacer de la nada / Como la amapola encarnada / Que nada hizo por nacer / Debo de nacer tu amada / Sin una razón ni nada / Sólo porque así ha de ser

Luas Brancas

Eram tantas, tantas luas / Que eu despi da tua voz / Todas brancas, todas tuas / Todas por estarmos a sós / Eram aves, eram tantas / Nos dedos da tua mão / Era o eco nas gargantas / Das palavras que não são / Era a dança das marés / O mar bravo e o seu reverso / Eram tudo o que tu és / No pulsar do universo / E depois, era mais nada / E mais nada acontecia / Era quase madrugada / Quando o mundo adormecia

 

Hubo tantas, tantas lunas / Que desnudé de tu voz / Todas blancas, todas tuyas / Todas por estar solos / Hubo aves, hubo tantas / En los dedos de tu mano / Hubo eco en las gargantas / De las palabras que no son / Hubo danza de mareas / El mar bravo y su reverso / Hubo todo lo que tú eres / En el latir del universo / Y después no había nada más / Y nada más sucedía / Era casi madrugada / Cuando el mundo adormecía

Andei A Ver De Ti

Andei a ver de ti em toda a parte / A marca dos teus pés nos areais / Mandei uma andorinha procurar-te / No silêncio azul das catedrais / Chamei pelo teu nome ás estrelas / E todas o teu nome repetiam / Até as margaridas mais singelas / Nasceram porque já te conheciam / Quem dera meu amor, poder cantar-te / Juntar na minha voz o que vivi / Porque em tudo o que vivo tu és parte / E toda a parte é uma ilusão de ti

 

Intenté ver algo de ti en todas partes / La marca de tus pies en los arenales / Mandé una golondrina a buscarte / En el silencio azul de las catedrales / Llamé por tu nombre a las estrellas / Y todas repetían tu nombre / Hasta las margaritas más singulares / Nacieron porque ya te conocían / Ojalá, mi amor, pudiera cantarte / Juntar en mi voz lo que viví / Porque en todo lo que vivo tú eres parte / Y toda parte es una ilusión de ti

Dor Feliz

Toma conta de mim / e dá-me a mão na rua / ensina-me a viver / ao pé das andorinhas / Eu sei que dizes sim / se eu te pedir a lua / e quando eu crescer / tu baixas-me as baínhas / Desenha uma casinha / à porta mariposas / com lápis de pintar / assento uma lareira / Aquela janelinha / a imitar as rosas / aberta p'ra sonhar / durante a vida inteira / Toda a gente me diz / que eu tenho o teu olhar / nos lábios os teus traços / canteiro do teu jardim / Mas duma dor feliz / a dor de me criar / de volta aos teus braços

 

Hazme caso / Y dame la mano en la calle / Enséñame a vivir / Junto a las golondrinas / Yo sé que dices sí / Si te pido la luna / Y cuando crezca / Alargarás mis bajos / Dibuja una casita / En la puerta mariposas / con lápiz de color / apoyo una chimenea / Aquella ventanita / Imitando a las rosas / abierta para soñar / Durante la vida entera / Toda la gente me dice que tengo tu mirada / En los labios tus trazos / Arriate de tu jardín / Pero de un dolor feliz / El dolor de criarme / De vuelta a tus brazos

Deste-me Tudo O Que Tinhas

Deste-me tudo o que tinhas / Nos meus lençóis de cetim / Mais a raiva quando vinhas / Desencontrado de mim / O meu corpo dependente / Bebia da tua mão / Aquela mistura quente / De desejo e perdição / Jurei que um dia mudava / Que de tudo era capaz / Já nem o sangue me lava / E tu nem raiva me dás / Parti os saltos na rua / Dei a vida pela vida / Mas agora, olho a lua / E não me sinto perdida / Esqueci a tua morada / E tu nem raiva me dás / Agora que não me dás nada / Deste-me um pouco de paz

 

Me diste todo lo que tenías / En mis sábanas de seda / Además de la rabia cuando venías / Desencontrado de mí / Mi cuerpo dependiente / Bebía de tu mano / Aquella mezcla caliente / De deseo y perdición / Juré que un día cambiaría / Que de todo era capaz / Ya ni la sangre me limpia / Y tú ni rabia me das / Me partí los tacones en la calle / Di la vida por la vida / pero ahora, miro la luna / Y no me siento perdida / Olvide tu casa / Y tú ni rabia me das / Ahora que no me das nada / Me diste un poco de paz

Flor Do Cardo

Dói-me ser a flor do cardo / Não ter a mão de ninguém / Tenho a estranha natureza / De florir com a tristeza / E com ela me dar bem / Dói-me o Tejo, dói-me a lua / Dói-me a luz dessa aguarela / Tudo o que foi criação / Se transforma em solidão / Visto da minha janela / O tempo não me diz nada / Já nada em mim se consome / Não sou princípio nem fim / Já nada chama por mim / Até me dói o meu nome / Dói-me ser a flor do cardo / Não ter a mão de ninguém / Hei-de ser cravo encarnado / Que vive em pé separado / E acaba na mão de alguém

 

Me duele ser flor de cardo / No tener la mano de nadie / Tengo la extraña naturaleza / De florecer con la tristeza / Y con ella llevarme bien / Me duele el Tajo, me duele la luna / Me duele la luz de esa acuarela / Todo lo que fue creación / Se transforma en soledad / Visto desde mi ventana / El tiempo no me dice nada / Ya nada en mí se consume / No soy principio y fin / Ya nada me llama / Hasta me duele mi nombre / Me duele ser flor de cardo / No tener la mano de nadie / Debo ser clavel encarnado / Que vive de pie, separado / Y acaba en la mano de alguien

A Estação Dos Lírios

Quem me espera toda a vida? / Desde o dia em que nascida / A vida é só uma passagem / É um fado que começa / É um rio que se atravessa / Sem se ver a outra margem / O lírio sabe que parte / E por isso tem a arte / De espalhar lírios ao vento / Não há mais luz nem tristeza / Que os saberes da natureza / E que não são pensamento / Quem me espera toda a vida? / Aquela estrela escondida / Que sempre chamou por mim / Será que há outro lugar / Além da poeira estrelar? / Ás vezes penso que sim... / Não me deixes nesta hora / Em que a estrela não demora / E o lírio tem a estação / A fé que há no futuro / E este medo do escuro / Que ao menos façam razão

 

¿Quién me espera toda la vida ? / Desde el día en que nací / La vida es sólo un paso / Es un fado que comienza / Es un río que se atraviesa / Sin que se vea la otra orilla / El lirio sabe que parte / Y por eso tiene el arte / De esparcir lirios al viento / No hay más luz ni tristeza / Que los saberes de la naturaleza / Y que no son pensamiento / ¿Quién me espera toda la vida? / Aquella estrella escondida / Que siempre me llamó / ¿Será que hay otro lugar / Más allá del polvo estelar? / A veces pienso que sí / No me dejes en esta hora / En que la estrella no se demora / Y el lirio tiene la estación / La fe que hay en el futuro / Y este miedo de lo oscuro / Que al menos tengan razón

Xaile Encarnado

Eu tenho um xale encarnado / É uma lembrança tua / Tem um segredo bordado / Que ás vezes eu trago á rua / Tem as marcas de uma vida / Que a vida marca no rosto / Mas ganha uma nova vida / Nas noites que o trago posto / Já foi lençol e bandeira / Vela de barco, também / Tem marcas da vida inteira / Mas dizem que me cai bem / Se pensas que me perdi / Nalgum destino traçado / Pr'a veres que não esqueci / Eu ponho o xaile encarnado

 

Yo tengo un chal encarnado / Es un recuerdo tuyo / Tiene un secreto bordado / Que a veces llevo a la calle / Tiene las marcas de una vida / Que la vida marca en el rostro / Pero cobra una nueva vida / Las noches que lo traigo puesto / Ya fue sábana y bandera / Vela de barco también / Tiene marcas de la vida entera / Pero dicen que me queda bien / Si piensas que me perdí / En algún destino trazado / Para que veas que no me olvidé / Me pongo el chal encarnado

Cachecol Do Fadista

Peguei o arco-íris pelas pontas / E dei-lhe as duas voltas de um cachecol / A ver se assim das nuvens tu me contas / Porque és agora chuva, agora sol / Porque é que o teu olhar carmim-celeste / Tem do azul toda a melancolia / E o beijo cor da lua, que me deste / Á beira da maçã que em mim floria / Porque há lilases brancos no teu sonho / Promessas cor de fogo no sorriso / Talvez sejam as cores que eu componho / Talvez sejam as cores que eu preciso / Nas verdes madrugadas dos amores / Em todas elas eu me sinto tua / Talvez o arco-íris tenha as cores / Que eu só consigo ver á luz do dia  

 

Pegué el arco iris por las puntas / Y le di las dos vueltas de una bufanda / A ver si así de las nubes tú me cuentas / Porque eres ahora lluvia, ahora sol / Por qué es que tu mirada carmín y celeste / tiene del azul toda la melancolía / Y el beso color de luna que me diste / Al lado de la manzana que en mí florecía / Por qué hay violetas blancos en tu sueño / Promesas de color de fuego en tu sonrisa / Tal vez sean los colores que yo compongo / Tal vez sean los colores que necesito / En las verdes madrugadas de los amores / En todas ellas yo me siento tuya / Tal vez el arco iris sólo tenga los colores / Que yo consigo ver a la luz del día

Á Porta Da Vida

Bati á porta da vida / Rasguei os ossos da mão / Fugi de cães a ladrar / Fui muitas vezes vencida / Deixei um rasto no chão / Mas não deixei de cantar / Bati á porta da vida / Sequei a cara nas mangas / Virei os olhos ao céu / Dei-me ao fado assim vestida / De amor, ciúmes e zangas / Porque este fado sou eu / Nenhuma faca me corta / Perdi o medo do mar / Levei o mar de vencida / Encontrei a minha porta / Nunca deixei de cantar / E moro á porta da vida

 

Llamé a la puerta de la vida / Me rompí los huesos de la mano / Hui de perros que ladraban / Fui muchas veces vencida / Deje huellas en el suelo / Pero no dejé de cantar / Llamé a la puerta de la vida / Me sequé la cara en las mangas / Giré los ojos a los cielos / Me entregué al fado así vestida / De amor, celos y conflictos / Porque este fado soy yo / Ningún cuchillo me corta / Perdí el miedo al mar / Arrastré el mar de vencida / Encontré mi puerta / Nunca dejé de cantar / Y vivo a la puerta de la vida

O Sorriso Das Águas

Já não tenho um lenço branco / Nem pranto de despedida / Tanto barco me deixou / Até o Tejo secou / Dentro de mim toda a vida / Eu já mordi a saudade / Para salvar o coração / O amor que me morreu / De certeza renasceu / Com uma outra pulsação / Atirei pedras ao Tejo / Com raiva das minhas mágoas / Eram ciúme e vingança / Mas as pedras de criança / São o sorriso das águas / As rosas nascem na terra / E morrem direito ao céu / Tudo é luz e é nascente / Tudo é luto e é poente / E tudo isto sou eu

 

Ya no tengo un pañuelo blanco / Ni llanto de despedida / Tanto barco me dejó / Hasta el Tajo se secó / Dentro de mí toda la vida / Yo ya mordí la saudade / Para salvar el corazón / El amor que se me murió / Con seguridad renació / Con algún latido / Tiré piedras al Tajo / Con la rabia de mis amarguras / Eran celos y venganza / Pero las piedras de un niño / Son la sonrisa del agua / Las rosas nacen en la tierra / Y mueren cerca del cielo / Todo es luz y es naciente / Todo es luto y es poniente / Y todo esto soy yo

Mulheres Ao Espelho (2008)

1             No Fim

2             Princesa Prometida

3             Não Vou, Não Vou

4             Uma Amante

5             Uma Noiva

6             A Rua Mais Lisboeta

7             Quadras De Amor Errante

8             Paraiso Anunciado

9             O Amor Não Se Desata

10           Bairro Divino

11           Mãe

No Fim

Procurei-te pela praia / Entre as flores da minha saia / A gritar com as marés / Molhei os olhos cansados / Toquei de braços cruzados / Cada marca dos meus pés / Procurei-te junto ao rio / Com a vida por um fio / Porque queria guardar-te / No meu colo arrefecido / Trouxe o meu anel partido / Pela noite a procurar-te / Encontrei-te junto a nada / No começo duma escada / Mesmo à beira dum jardim / Não há céu sem despedida / Nem regresso sem partida

 

Te busqué por la playa / Entre las flores de mi falda / Gritando con las mareas / Mojé los ojos cansados / Toqué con los brazos cruzados / Cada marca de mis pies / Te busqué junto al río / Con la vida pendiente de un hilo / Porque quería guardarte / En mi regazo frío / Traje mi anillo partido / Por la noche al buscarte / Te encontré junto a la nada / Al pie de una escalera / En el borde de un jardín / No hay cielo sin despedida / Ni regreso sin partida

Princesa Prometida

Há um véu no meu olhar / Que a brilhar dá que pensar / Nos mistérios da beleza / Espelho meu que aconteceu / Do que é teu e do que é meu / Já não temos a certeza / A moldura deste espelho / Espelho feito de oiro velho / Tem os traços de uma flor / Muitas vezes foi partido / Prometido e proibido / Aos encantos do amor / Espelho meu diz a verdade / Da idade da saudade / À mulher envelhecida / Segue em frente na memória / Mata a glória dessa história / Da princesa prometida

 

 

Hay un velo en  mi mirada / Que al mirar da qué pensar / En los misterios de la belleza / Espejo mío que sucedió / De lo que es tuyo y de lo que es mío / Ya no tenemos la certeza / El marco de este espejo / Espejo hecho de oro viejo / Tiene los trazos de una flor / Muchas veces fue roto / Prometido y prohibido / A los encantos del amor / Mi espejo dice la verdad / De la edad y la saudade / A la mujer envejecida / Sigue en frente en la memoria / Mata la gloria de esa historia / De la princesa prometida

Não Vou, Não Vou

Eu tinha as chaves da vida e não abri / As portas onde morava a felicidade / Eu tinha as chaves da vida e não vivi / A minha vida foi toda uma saudade / E tanta ilusão que tive e foi perdida / E tanta esperança no amor foi destroçada / Não sei porque me queixo desta vida / Se não quero outra vida para nada / Se foi para isto que nasci / Se foi para isto que hoje sou / Se foi só isto que mereci / Não vou, não vou / Podem passar bocas pedindo / Olhos em fogo tudo acabou / Pode passar o amor mais lindo / Não vou, não vou / Eu tinha as chaves da vida e fui roubada / Mataram dentro de mim toda a poesia / Deixaram só tristeza sem mais nada / E a fonte dos meus olhos que eu não queria

 

Yo tenía las llaves de la vida y no abrí / Las puertas donde moraba la felicidad / Yo tenía las llaves de la vida y no viví / Mi vida fue toda una saudade / Y tanta ilusión que tuve y fe perdida/ Y tanta esperanza en el amor fue destrozada / No sé por qué me quejo de esta vida / Si no quiero otra vida para nada / Si fue para esto que nací / Si fue para esto que hoy soy / Si fue sólo esto lo que merecí / No voy, no voy / Pueden pasar bocas pidiendo / Ojos en fuego todo acabó / Puede pasar el amor más bello / No voy, no voy / Yo tenía las llaves de la vida y fui robada / Mataron dentro de mí toda la poesía / Dejaron sólo la tristeza sin nada más / Y la fuente de mis ojos que yo no quería

Uma Amante

Pesa o tempo condenado / Contra as leis do meu destino / Pouco pode ser mudado / Neste mundo pequenino / Se de meu não tenho nada / Para além da primavera / Trago a vida ameaçada / No meu corpo à tua espera / Tenho um amor inventado / Num segredo muito antigo / E um vestido alinhavado / Que envelhece só comigo / Se a medida do meu tempo / É esperar-te até ao fim / Quero ser a voz do vento / Quando estás longe de mim

 

Pesa el tiempo condenado / Contra las leyes de mi destino / Poco puede ser cambiado / En este mundo pequeñito / Si de mío no tengo nada / Aparte de la primavera / Traigo la vida amenazada / En mi cuerpo a tu espera / Tengo un amor inventado / En un secreto muy antiguo / Y un vestido hilvanado / Que envejece sólo conmigo / Si la medida de mi cuerpo / Es esperarte hasta el fin / Quiero ser la voz del viento / Cuando estás lejos de mí

Uma Noiva

Faz de conta que já sei / Desmentir a felicidade / Faz de conta que encontrei / Um caminho sem verdade / Faz de conta, eu descobri / No desdém uma atenção / Faz de conta que aprendi / Pra meu bem uma lição / Faz de conta que sabemos / Dar a mão à palmatória / Faz de conta que vivemos / Da saudade e da memória / Faz de conta e vem comigo / Ver de frente o que é a dor / Faz de conta que eu não digo / Que acabou o nosso amor

 

Finge que ya sé / Desmentir la felicidad / Finge que encontré / Un camino sin verdad / Finge, yo descubrí / En el desdén una atención / Finge que aprendí / Para mi bien una lección / Finge que sabemos / Confesar el error / Finge que vivimos / De la saudade y la memoria / Finge y ven conmigo / A ver de frente qué es el dolor / Finge que yo no digo / Que acabó nuestro amor

A Rua Mais Lisboeta

Cá p'ra mim a minha rua / É um risonho canteiro / Tem gatos miando à lua / Nos telhados em Janeiro / Tudo ali é português / Tudo ali vive contente / Vive o pobre e o burguês / É pequenina talvez / Mas cabe lá toda a gente / Melhor eu nunca vi / Do que a rua onde nasci / Ai, rua pobrezinha / Mas tem uma graça infinda / É humilde qual aldeia / Embora digam que é feia / Cá p'ra mim é a mais linda / Não há ódios nem maldade / Tudo ali é singeleza / Não pode haver na cidade / Rua assim mais portuguesa / Nada há que seja novo / Nessa rua da gentalha / Para aqui canto e me comovo / Pois é rua do povo / Que labuta e que trabalha

 

Para mí mi calle / Son unas flores sonriendo / Tiene gatos mirando la luna / En los tejados en enero / Todo allí es portugués / Todo allí vive contento / Vive el pobre y el burgués / Es pequeñita tal vez / Pero allí cabe toda la gente / Nunca la vi mejor / Que la calle en que nací / Ay, calle pobrecita / Pero tiene una gracia infinita / Es humilde como una aldea / Aunque digan que es fea / Para mí es la más linda / No hay odios ni maldad / Todo allí es sencillez / No puede haber en la ciudad / Calle más portuguesa que esta / Nada hay que sea nuevo / En esa calle popular / Aquí canto y me conmuevo / Pues es calle del pueblo / Que se esfuerza y que trabaja

Quadras De Amor Errante

Queria ser a tua estrela / E a amarra na outra margem / Levar-te à praia mais bela / E ser o fim da viagem / Nas histórias que me contas / Do alto da tua voz / As estrelas só têm pontas / E os laços nunca dão nós / Queria ser o teu caminho / E a casa quando chegasses / Tecer os lençóis de linho / Da cama em que te deitasses / Mas faltou-me um golpe de asa / Para voar no teu céu / O nome da tua casa / Ainda ninguém o escreveu

 

Quería ser tu estrella / Y la amarra en la otra orilla / Llevarte a la playa más bella / Y ser el fin del viaje / En las historias que me cuentas / Desde lo alto de tu voz / Las estrellas sólo tienen puntas / Y los lazos nunca dan nudos / Quería ser tu camino / Y la casa cuando llegases / Tejer las sábanas de lino / De la cama en que te acostases / Pero me faltó un golpe de ala / Para volar en tu cielo / El nombre de tu casa /Aún nadie lo escribió

Paraiso Anunciado

Onde as flores se tornam pão / E os amores são água pura / Sempre aberto o coração / Ilumina a noite escura / Paraíso anunciado / P'la memória d'alegria / Tantas vezes revelado / Numa noite até ser dia / Como se um fruto tombasse / Sobre os ramos amparado / Como se a terra deixasse / O sol sempre a nosso lado / Por amor pedi ao céu / Que me desse outro caminho / Há o destino que é meu / E um que nasce sozinho

 

Donde las flores se vuelven pan / Y los amores son agua pura / Siempre abierto el corazón / Ilumina la noche oscura / Paraíso anunciado / Por la memoria de la alegría / Tantas veces revelado / En una noche hasta ser día / Como si un fruto cayese / Amparado sobre las ramas / Como si la tierra dejase / El sol siempre a nuestro lado / Por amor le pedí al cielo / Que me diese otro camino / Hay un destino que es mío / Y uno que nace solo

O Amor Não Se Desata

Enquanto, perverso, rias / Tu fizeste o que podias / Para eu deixar de te amar / Tornaste as noites vazias / E, não fosse eu querer esperar / Anoiteceste os meus dias / Inventaste mil pecados / Que eu não tinha cometido / Mil mentiras sem sentido / Desmanchaste os meus bordados / E retalhaste o vestido / Com que eu me tinha casado / Como bem sabes agora / E hás-de sentir vida fora / Tanto mal era escusado / Se te querias ir embora / Não ganhaste com a demora / Senão partires mais culpado / Não nego que em doeu / Mas juro que até à data / A dor de nada valeu / O amor não se desata / E a tua paixão morreu / Mas a minha não se mata

 

Mientras, perverso, reías / Tú hiciste lo que podías / Para que yo dejara de amarte / Hiciste las noches vacías / Y, sin yo querer esperar / Anocheciste mis días / Inventaste mil pecados / Que yo no había cometido / Mil mentiras sin sentido / Deshiciste mis bordados / Hiciste trizas el vestido / Con que me había casado / Como bien sabes ahora / Y has de sentir toda la vida / Tanto mal era innecesario / Si querías marcharte / No ganaste con la demora / Si no que partiste más culpable / No niego que me dolió / Pero juro que hasta la fecha / El dolor de nada valió / El amor no se desata / Y tu pasión murió / Pero la mía no se mata

Barro Divino

Mesmo nas horas felizes, se as há / Alguma coisa é proibida / Posse impossível, distante, que dá / Sentido diferente à vida / O insaciável que existe na gente / Domina a nossa vontade / Triste final duma crença diferente / Diferente da felicidade / E sem saber até onde, o destino / É ou não o que se quer / Somos a lama, o barro divino / Que cada um julga ser / Na minha voz a cantar, corre o pranto / Dum ser que não se entendeu / E assim procuro encontrar o encanto / Que a vida p'ra mim perdeu / A revoltante maldade duns poucos / Espalha o ódio à sua volta / E faz da terra um inferno de loucos / Onde a razão se revolta / Pois quer se acredite ou não no destino / Todos seremos sem querer / Simples poeira de barro divino / Que cada um julga ser

Incluso en las horas felices, si las hay / Alguna cosa está prohibida / Posesión imposible, distante, que da / Sentido diferente a la vida / Lo insaciable que existe en la gente / Domina nuestro deseo / Triste final de una creencia diferente / Diferente de la felicidad / Y sin saber has dónde, el destino / Es o no lo que se quiere / Somos el limo de un barro divino / Que cada uno juzga ser / En mi voz cuando canto corre el llanto / De un ser que no se entendió / Y así procuro encontrar el encanto / Que la vida para mí perdió / La indignante maldad de unos pocos / Esparce odio a su paso / Y hace de la tierra un infierno de locos / Donde la razón se rebela / Pues se crea o no en el destino / Todos seremos sin quererlo / Simple polvareda de un barro divino / Que cada uno juzga ser

Mãe

Poema de Maria do Rosário Pedreira recitado en el disco por Aldina Duarte.

CONTOS DE FADOS (2011)

1    Fado com Dono

2    De Costas Voltadas

3    À Espera da Redenção

4    Branca, Branca

5    No Pó que Ficou

6    Gato Escaldado

7    Que Amor é Este?

8    Fogo sem Fumo

9    Ainda mais Triste

10  Uma Outra Nuvem

11  Apenas o Vento

12  Contos de Fados

Fado Com Dono

Diz quem já me ouviu cantar / Que, quando soa o meu canto / A terra inteira estremece / E os rios perdem o mar / E as pedras rolam de espanto / E até o mal se enternece / Diz quem meu fado conhece / Que ele enfeitiça e encanta / E comove, e tira o sono / É a paixão que entretece / Os fios de quem o canta / Porque o meu fado tem dono / Eu canto para procurar / Aquele que já foi meu / E a morte me arrebatou / Não desisto de cantar / Chamando o nome de Orfeu / Em todo o lado aonde vou / Mesmo que o saiba fechado / No Inferno mais profundo / E não me aguarde outra sorte / Levo comigo o meu fado / Vou até ao fim do mundo / Para morrer da sua morte

 

Dice que ya me oyó cantar / Que, cuando suena mi canto / La tierra entera se estremece / Y los ríos pierden el mar / Y las piedras ruedan de asombro / Y hasta el mal se enternece / Dice que conoce mi fado / Que embruja y encanta / Y conmueve, y quita el sueño / Es la pasión que entreteje / Los hilos de quien lo canta / Porque mi fado tiene dueño / Yo canto para buscar / A aquel que ya fue mío / Y la muerte me arrebató / No desisto de cantar / Clamando el nombre de Orfeo / Por cualquier lado que voy / Aunque lo sepa encerrado / En el Infierno más profundo / Y no me espere otra suerte / Llevo conmigo mi fado / Voy hasta el fin del mundo / Para morir de su muerte

De Costas Voltadas

Nunca fui o que quiseste / Fui sempre o que não gostavas / Deitei fora o que me deste / Pedi-te o que não me davas / Fui abraço de serpente / E beijo amargo limão / Fui um corpo sem ser gente / Mão que é prego noutra mão / Fui de promessa fingida / E rosto que não se encara / Dor que não chega a ser ferida / E até por isso não sara / Fui noites sem madrugadas / Desejo sem aflição / Estamos de costas voltadas / Por mais que digas que não

 

Nunca fui lo quisiste / Fui siempre lo que no te gustaba / Eché fuera lo que me diste / Te pedí lo que no me dabas / Fui abrazo de serpiente / Y beso de margo limón / Fui un cuerpo sin ser persona / Mano que es clavo en otra mano / Fui promesa fingida / Y rostro que no se encara / Dolor que no llega a ser herida / Y hasta por eso no sana / Fui noches sin madrugadas / Deseo sin aflicción / Estamos vueltos de espaldas / Por más que digas que no

À Espera da Redenção

Fiz minha casa ao relento / De cinzas, a minha cama / Sem abrigo, como o vento / Sem destino, como a chama / Fiz as pazes com a guerra / Fiz punhais de grandes mágoas / Sem remorsos, como a terra / Sem limite, como as águas / Dei fim a tudo o que quero / Para voltar ao início / Fiz da crença, desespero / Do caminho, precipício / Fiz do gesto, a desmedida / Da perdição, o meu norte / Sem sentido, como a vida / Sem regresso, como a morte / Fiz da terra o meu tormento / Do fogo, devastação / Como as águas, como o vento / Sem rumo nem direcção / Fiz do vazio pensamento / À espera de redenção

 

Hice mi casa al relente / De cenizas, mi cama / Sin abrigo, como el viento / Sin destino, como la llama / Hice las paces con la guerra / Hice puñales de grandes heridas / Sin remordimientos, como la tierra / Sin límite, como las aguas / Di fin a todo lo que quiero / Para volver al inicio / Hice de la creencia desesperación / Del camino, precipicio / Hice del gesto la desmedida / De la perdición mi norte / Sin sentido, como la vida / Sin regreso, como la muerte / Hice de la tierra mi tormento / Del fuego, devastación / Como las aguas, como el viento / Sin rumbo ni dirección / Hice del vacío pensamiento / A espera de la rendición

Branca, Branca

À deriva pela estrada / Muito branca e embalada / Na cadência dos seus passos / Vai uma sombra cansada / Tão branca, sem dizer nada / Com um fantasma nos braços / Cheia de medo e de frio / Entrou no salão vazio / Do palácio abandonado / O grande tecto ruiu / O candelabro caiu / Em chamas, o cortinado / No palácio destruído / Ficou, no vitral partido / Uma sombra a ver-se ao espelho / E no chão enegrecido / Um fantasma adormecido / Sobre o tapete vermelho / Da terra, em volta, queimada / Nasce uma rosa encarnada / Que ao passar, o vento arranca / Pelo vento desfolhada / Desfaz-se, branca, na estrada

 

A la deriva por el camino / Muy blanca y apresurada / En la cadencia de sus pasos / Va una sombra cansada / Tan blanca, sin decir nada / Con un fantasma en los brazos / Llena de miedo y de frío / Entró en el salón vacío / Del palacio abandonado / El gran techo se derrumbó / El candelabro cayó / En llamas el cortinaje / En el palacio destruido / Se quedó en la vidriera rota / Una sombra mirándose al espejo / De la tierra de alrededor, quemada / Nace una rosa encarnada / Que al pasar, el viento arranca / Por el viento deshojada /  Se deshace, blanca, en el camino

No Pó Que Ficou

Já tenho a saudade gasta / Deste nosso amor amigo / Já pouco ou nada me basta / Senão um retrato antigo / E numa cómoda antiga / Um naperon de renda fina / Rendilha ainda a cantiga / De quando eu era menina / E a cama velha, lá está / Abandonada de gente / No pó que ficou por lá / Escrevi o teu nome ausente / E na moldura da vida / Onde tu cabes perfeito / Eu ganho a esperança perdida / Que deixaste no meu peito

 

Ya tengo la saudade gastada / De este amor nuestro y antiguo / Ya poco o nada me basta / Si no es un retrato antiguo / Y en una cómoda antigua / Un tapete de encaje fino / Puntillea aún la cantiga / De cuando yo era niña / Y la cama vieja está ahí / En el polvo que allí quedó / Escribí tu nombre ausente / Y en el marco de la vida / Donde tu cabes perfecto / Yo gano la esperanza perdida / Que dejaste en mi pecho

Gato Escaldado

Mais de uma vez prometeste / Levar-me de braço dado / Por Alfama a passear / Eu esperei, tu não vieste / Ficou velho e desbotado / O vestido por estrear / Vezes sem conta juraste / Dançar comigo no baile / Às portas da Mouraria / Eu fui, mas nunca chegaste / Sabem as pontas do xaile / Como chorei nesse dia / Vezes sem fim sugeriste / Ouvirmos fados juntinhos / Num beco do Bairro Alto / De todas elas mentiste / E eu gastei por maus caminhos / Os meus sapatos de salto / Hoje vens para me propor / Casarmos na Madragoa / Como eu sempre te pedi / Não pode ser, meu amor / Já sabe meia Lisboa / Que eu não acredito em ti

 

Más de una vez prometiste / Llevarme cogida del brazo / A pasear por Alfama / Yo esperé, tú no viniste / Se quedó viejo y ajado / El vestido para estrenar / Innumerables veces juraste / Bailar conmigo en el baile / En las puerta de Mouraria / Y fui, pero nunca llegaste / Saben los flecos de mi chal / Cómo lloré aquel día / Infinitas veces sugeriste / Ir a oír fado juntos / A un callejón del Barrio Alto / Y todas ellas mentiste / Y yo gasté por malos caminos / Mis zapatos de tacón / Hoy vienes a proponerme / Casarnos en Madragoa / Como siempre te pedí / No puede ser, mi amor / Ya sabe media Lisboa / Que yo no confío en ti

Que Amor É Este?

Há quanto tempo te espero / Dá-me tu qualquer razão / Dizer que já não te quero / É mentira ou negação / Dizer que nunca te quero / É mentira ou negação / O amor que tenho por ti / Não tem sequer uma história / Nasceu e cresceu assim / Das raízes da memória / Ao sol, ao mar ou á terra / Ensina-me a quem pedir / Essa chave que me encerra / Muito antes de eu partir / És a chave que me encerra / E não me deixa partir / O meu segredo é eterno / Contra Deus e contra a lei / Sobre o céu e o inferno / Diz-me tu o que eu não sei / Sobre o céu e o inferno / Diz-me tudo o que não sei

 

Hace cuánto tiempo te espero / Dame tú cualquier razón / Decir que ya no te quiero / Es mentira o negación / Decir que nunca te quiero / Es mentira o negación / El amor que tengo por ti / No tiene siquiera una historia / Nació y creció así / De las raíces de la memoria / Al sol, al mar o a la tierra / Enséñame a quién pedir / Esa llave que me encierra / Mucho antes de que yo parta / Eres la llave que me encierra / Y no me deja partir / Mi secreto es eterno / Contra Dios y contra la ley / Sobre el cielo y el infierno / Dime tú lo que no sé / Sobre el cielo y el infierno / Dime tú lo que no sé

Fogo Sem Fumo

Ando à procura de um fado / Que seja a voz que não tenho / Que cante tudo por mim / Meu coração maltratado / Se tivesses outro engenho / Eu não cantaria assim / Mas foi nas voltas da vida / Que descobri a razão / Na voz de um vento qualquer / E ao procurar a saída / Com a minh'alma na mão / Descobri que sou mulher / Seja qual for o desfecho / Desta viagem sem rumo / Agora não vou parar / E o fado que aqui te deixo / É o meu fogo sem fumo / Que eu só te dou a cantar

 

Voy buscando un fado / Que sea la voz que no tengo / Que cante todo por mí / Mi corazón maltratado / Si tuvieses otro talento / Yo no cantaría así / pero fue en las vueltas de la vida /  Que descubrí la razón / En la voz de un viento cualquiera / Y al buscar la salida / Con mi alma en la mano / Descubrí que soy mujer / Sea cual sea el desenlace / De este viaje sin rumbo / Ahora no voy a parar / Y el fado que aquí te dejo / Es mi fuego sin humo / Que sólo te doy al cantar

Ainda Mais Triste

Era tão branco o chão em que eu pisava / Era tão negro o céu que me cobria / Por mais triste que fosse o que eu contava / Ainda era mais triste o que eu escondia / Por mais longa que fosse a madrugada / Ainda era mais longo aquele dia / Por mais triste que eu fosse assim calada / Ainda era mais triste o que eu dizia / Era tão grande o perigo de naufrágio / Maior que todo o medo que eu sentia / Por mais triste que fosse o meu presságio / Ainda era mais triste o que eu sabia / Mais triste do que a morte era a tristeza / Da vida que me davam, que eu pedia / Mas ainda mais triste era a certeza / Que ser apenas triste era o que eu quería

 

Era tan blanco el suelo que pisaba / Era tan negro el cielo que me cubría / Por más triste que fuese lo que yo contaba / Aún era más triste lo que escondía / Por más larga que fuese la madrugada / Aún era más largo aquel día / Por más triste que yo estuviese así callada / Aún era más triste lo que decía / Era tan grande el peligro de naufragio / Mayor que todo el miedo que sentía / Por más triste que fuese mi presagio / Aún era más triste lo que sabía / Más triste que la muerte era la tristeza / De la vida que me daban, que yo pedía / Pero aún era más triste la certeza / Que estar apenas triste era lo que yo quería

Uma Outra Nuvem

Deitada numa nuvem de não-ser / Deixei ao deus-dará os meus abraços / Afastando-me assim, sem o saber / Do ponto de chegada dos meus passos / Caminho é quanto fica da viagem / Paragem é caminho para trás / E agora só me resta por bagagem / O tanto mal que fez o tanto-faz / Julgava não ser nada, e era tudo / Pois tudo, em cada nada, acontece / P'ra além das sombras do tempo miúdo / A grande luz do tempo permanece / Sozinha, tenho agora de inventar / Essoutra nuvem de uma cor diferente / Em que eu, à força de aprender a amar / Aprenda tudo sobre toda a gente

 

Echada en una nube de no ser / Dejé a la ventura mis abrazos / Alejándome así, sin saberlo / Del punto de llegada de mis pasos / Camino es cuanto queda del viaje /Parada es camino hacia atrás / Y ahora sólo me queda como equipaje / El mal que produce la indiferencia / Creía no ser nada y lo era todo / Pues todo, en cada nada, sucede / Más allá de las sombras de un tiempo pequeño / La luz grande de un tiempo permanece / Sola, ahora tengo que inventar / Esa otra nube de un color diferente / En la que yo, a fuerza de aprender a amar / Lo aprenda todo sobre la gente

Apenas O Vento

Deu-me Deus tudo o que quis / Já nem sei de quanto fiz / Se foi Deus ou se fui eu / Deu-me alegrias e pranto / Mas esta voz com que canto / Foi o vento que me deu / Deu-me tudo, deu-me tanto / Mas esta voz com que canto / Foi o vento que me deu / Foi o rio e suas águas / Que me ensinou estas mágoas / A saudade, foi o mar / Mas meu canto, meu sustento / Foi o vento, foi com o vento / Que eu aprendi a cantar / Mas meu canto, meu sustento / Foi o vento, foi o vento / Que me ensinou a cantar / O vento passa por mim / Por isso é que eu canto assim / Mas, meu Deus, faça o que eu faça / Quer seja brisa ou levante / Que eu saiba, sempre que cante / Ser voz do vento que passa / Hei-de ser brisa e levante / Hei-de ser, sempre que cante, / Apenas o vento que passa

 

Dios me dio todo lo que quise / Ya ni sé de cuanto hice / Si fue Dios o si fui yo / Me dio alegría y llanto / Pero esta voz con que canto / Fue el viento quien me la dio / Fue el río y sus aguas / Quien me enseñó estas amarguras / La saudade, fue el mar / Pero mi canto, mi sustento / Fue el viento, fue el viento / Quien me enseñó a cantar / El viento pasa por mí / Es por eso que canto así / Pero, Dios mío, haga lo que haga / Sea brisa o levante / Que yo sepa, siempre que cante / Ser voz del viento que pasa / He de ser brisa y levante / He de ser, siempre que cante /  Apenas viento que pasa

Contos De Fados

Tantas terras, tantas gentes / Tantas sortes, tantas vidas / Que parecem tão diferentes / E que afinal são parecidas / Sejam de hoje ou de ontem / Inventadas ou vividas / Por mais vidas que se contem / Sobram sempre tantas vidas / São contos, contando contos / Que vivemos, que sonhamos / A que se acrescentam pontos / De cada vez que os contamos / E se os contos são cantados / Se a rima for bem escolhida / Já não são contos, são fados / Já não são fados, são vida / Já não são contos, são fados / E se são fados, são vida

 

Tantas tierras, tantas gentes / Tantas suertes, tantas vidas / Que parecen tan distintas / Y al final son parecidas / Sean de hoy o de ayer / Inventadas o vividas / Por más vidas que se cuenten / Sobran siempre tantas vidas / Son cuentos, contando cuentos / Que vivimos, que soñamos / Al que se añaden detalles / Cada vez que los contamos / Y si los cuentos son cantados / Si la rima fuese bien escogida / Ya no son cuentos, son fados / Ya no son fados, son vida / Ya no son cuentos, son fados / Y si son fados, son vida

Romance(s) (2015)

    1 Declaração de intenções: Amor Em Dó Maior

    2 O Encontro: As Duas Graças

    3 O Namoro: lugares – Comuns

    4 O Casamento: As Noivas

    5 A vida em Comum: Fado do Lar

    6 Desacertos: Dois Ponteiros

    7 A Suspeita: O Recado

    8 A Traição: Fogo Posto

    9 A Despedida: A Maçã de Adão

    10 A Raiva: Labareda

    11 A Saudade: Sem Chão

    12 O Luto: Os Pontos nos II

    13 O Recomeço: Cessar – fogo

    14 Assinatura: Arte do Fado

Declaração de Intenções: Amor em Dó Maior

Passa o tempo e não apaga / A memória que a semente / Guarda da mão que a plantou / Quem diz que o amor se acaba / Ou quer esconder o que sente / Ou nunca na vida amou / Eu tive um amor tão grande / Que quando o perdi, não nego / Já não quis amar ninguém / E, por mais que a razão mande / Meu coração ficou cego / Aos encantos de quem vem / Quem nunca esconde o que sente / Vai contar hoje essa história / De um amor que não vingou / Passa o tempo, e a semente / Guarda consigo a memória / Da mão que um dia a plantou / Quem nunca esconde o que sente / Não pode esquecer a história / Desse amor que não vingou

 

Pasa el tiempo y no borra / La memoria que la semilla / Guarda de la mano que la plantó / Quien dice que el amor se acaba / O quiere esconder lo que siente / O nunca en la vida amó / Yo tuve un amor tan grande / Que cuando lo perdí, no lo niego / Ya no quise amar a nadie / Y, por más que la razón mandé / Mi corazón se quedó ciego / A los encantos de quien viene / Quien nunca esconde lo que siente / Hoy va a contar esa historia / De un amor que no alcanzó / Pasa el tiempo, y la semilla / Guarda consigo la memoria / De la mano que un día la plantó / Quien nunca esconde lo que siente / No puede olvidar la historia / De ese amor que no alcanzó

O Encontro: As Duas Graças

Quando as duas raparigas / Cruzaram o seu caminho / Vinham perdidas de riso / Entre a graça das amigas / Ele, que vinha sozinho / Ficou bastante indeciso / Parou pra melhor as ver / E, nesse olhar reparando / Pararam elas também / E, se uma era fogo a arder / Pois a outra, em lume brando / Queimava como ninguém / Loira uma, outra morena / Uma acendia desejos / Na outra havia mistério / E, enquanto da mais pequena / Queria abraços e beijos / Com a alta o caso era sério / Ao pé delas tarde fora / Dessas duas raparigas / Foi só uma que escolheu / E quem se riu chora agora / Pois entre invejas e brigas / Quase tudo se perdeu / E hoje chegou a hora / De vos contar as intrigas / Porque a escolhida fui eu

 

Cuando las dos muchachas / Se cruzaron en su camino / Venían muertas de risa / Entre la gracia de las amigas / Él, que venía solo / Se quedó indeciso / Paró para verlas mejor / Y, reparando en esa mirada / Pararon ellas también / Y, si una era fuego ardiente / Pues la otra, a fuego lento / Quemaba como nadie / Rubia una, otra morena / Una encendía deseos / En la otra había misterio / Y, mientras de la más pequeña / Quería abrazos y besos / Con la alta el caso era serio / Junto a ellas toda la tarde / De esas dos muchachas / Sólo a una escogió / Y quien se rio llora ahora / Pues entre envidias y disputas / Casi todo se perdió / Y hoy llegó la hora / De contaros las intrigas / Pues las escogida fui yo

Lugares-Comuns: O Namoro

Nas linhas da minha mão / Leu que era ele o meu fado / E embrulhou o coração / Num lenço de namorado / Veio esperar-me de fato / Depois de mil telefonemas / E de mandar o retrato / Numa carta com poemas / Trouxe bombons com licor / Deu-me perfume francês / Escreveu a palavra amor / Num tronco de árvore, em inglês / Los lençois da sua cama / Bordou o meu pensamento / Com rosas veio um telegrama / A pedir-me em casamento / P'ra dar um nó nesse laço / Comprou o anel de noivado / E tatuou no seu braço / Nossos nomes lado a lado / Ai que lindo é o amor / Só quem não ama não sabe / Nunca vi nada melhor / Tomara que não se acabe / Nunca vi nada melhor / Deus queira que não se acabe

 

En las líneas de mi mano / Leo que él era mi fado / Y embrujó el corazón / En un pañuelo de enamorado / Vino a esperarme de traje / Después de mil llamadas por teléfono / Y de mandar el retrato / En una carta con poemas / Trajo bombones con licor / Me dio perfume francés / Escribió la palabra amor / En un tronco de árbol, en inglés / Las sábanas de su cama / Bordó mi pensamiento / Vino con rosas un telegrama / A pedirme matrimonio / Para hacer un nudo a ese lazo / Compró un anillo de compromiso / Y tatuó en su brazo / Nuestros dos nombres unidos / Ay, qué lindo es el amor / Sólo quien no ama no lo sabe / Nunca vi nada mejor / Ojalá que no se acabe / Nunca vi nada mejor / Dios quiera que no se acabe

O Casamento: As Noivas

Mal passo o adro da igreja / Vejo essa loira fatal / Nenhuma noiva deseja / Casar-se ao pé da rival / Tento manter-me serena / Enquanto subo ao altar / P’ra quê fazer uma cena / Se sou eu que vou casar? / Durante a festa, bem o chamo / Meu noivo, sem encontrá-lo / Mas, assim que atiro o ramo / Vejo uma loira apanhá-lo / Aperta-o junto do peito / Num gesto tão atrevido / Que lhe faça bom proveito / E arranje logo um marido

 

Apenas paso el atrio de la iglesia / Veo a esa rubia fatal / Ninguna novia desea / Casarse junto a la rival / Intento mantenerme serena / Mientras subo al altar / ¿Para qué hacer una escena / Si soy yo quien se va a casar? / Durante la fiesta, llamo muchas veces / A mi novio, sin encontrarlo / Pero, según tiro el ramo / Veo a una rubia cogerlo / Apretarlo contra el pecho / En un gesto tan atrevido / Que le aproveche bien / Y que atrape luego un marido

A Vida em Comum: Fada do Lar

Já fiz a sopa, passei a roupa, varri o chão / Dobrei lençóis, estendi rissóis, comprei o pão / Lavei os pratos e os teus sapatos estão a brilhar / Mudei a cama, quero ter fama de fada do lar / Vá, já são horas; se demoras / Que vai ser do jantar? / E eu disse que sabia / Cuidar do meu rapaz / Vá lá, são horas, nunca mais te vejo entrar / E logo hoje, que tanto queria / Mostrar do que sou capaz / Já pus a mesa e a vela acesa, num castiçal / Fiz pataniscas, temperei as iscas com alho e sal / Numa bandeja trouxe a cerveja, vem lá brindar / Bem podes dizer que a tua mulher è a fada do lar

 

Ya hice la sopa, planché la ropa, barrí el suelo / Doblé sábanas, hice empanadillas, compré el pan / Lavé los platos y tus zapatos están brillantes / Cambié la cama, quiero tener fama de hada del hogar / Venga, ya son horas; si te retrasas / ¿Qué va a ser de la cena? / Y yo dije que sabía / Cuidar de mi muchacho / Venga, ya son horas, nunca te veo entrar / Y justo hoy que tanto deseaba / Mostrar de lo que soy capaz / Ya puse la mesa y la vela encendida en un candelabro/ Hice croquetas, adobé el bacalao con ajo y sal / En una bandeja traje la cerveza, ven a brindar / Bien puedes decir que tu mujer es el hada del hogar

Dois Ponteiros: Desacertos

Andas tão outro estes dias / Que dou por mim a cismar / Que vivo ao lado de um estranho / Se chego a rir, desconfias / Mas, se me dá p'ra chorar / Nem queres saber o que tenho / Já não sei o que fazer / Se chego tarde, protestas / Se venho cedo, não estás / Ai, quem me dera entender / Porque o que agora contestas / Mais logo tanto te faz / Andas tão longe estes dias / Que ainda agora pensei / Que fui eu que me perdi / Se não estou onde tu querias / Basta dizeres-me onde errei / E volto a correr para ti / A mim não me pesa a culpa / Mas, se culpada me crês / Eu confesso o que não fiz / E até te peço desculpa / Mesmo não tendo de quê / Só p'ra te ver mais feliz

 

Estás tan distinto estos días / Que se me he metido en la cabeza / Que vivo al lado de un extraño / Si llego riendo, desconfías / Pero, si me da por llorar / Ni quieres saber qué me pasa / Ya no sé qué hacer / Si llego tarde, protestas / Si vengo pronto, no estás / Ay, ojalá pudiera entender / Porque lo que ahora contestas  / Después te da igual / Estás tan lejos estos días / Que incluso ahora he pensado / Que he sido yo quien se ha perdido / Si no estoy donde tú querías / Basta que me digas dónde me equivoqué / Y vuelvo a correr hacia ti / A mí no me pesa la culpa / Pero, si culpable me crees / Yo confieso lo que no hice / Y hasta te pido disculpa / Aunque no tenga de qué / Sólo para verte más feliz

A Suspeita: O Recado

Mete o nariz a vizinha / Aonde não é chamada / Com um pé dentro da cozinha / Dispara de uma rajada / Menina, tenha cuidado / Co' esse rapaz de quem gosta / Ele anda todo embeiçado / E eu sei que há loura na costa / A maldita põe-o louco / Se a visse a arrastar-lhe a asa / Mas ele também lhe dá troco / E já a trouxe cá pra casa / Como as duas são amigas / Custa-me vê-la enganada / Eu até nem sou de intrigas / Mas fiquei tão revoltada / E agora, que tudo sabe / Tome conta do que tem / Pra evitar que se acabe / Um amor que ia tão bem / E assim como veio foi / Sem me deixar perguntar

 

Mete la nariz la vecina / Donde nadie la llama / Con un pie dentro de la cocina / Dispara en una ráfaga / Niña, tenga cuidado / Con ese hombre que le gusta / Él está completamente dominado / Y yo sé que hay rubia a la vista / La maldita lo vuelve loco / Si la viese cortejarlo / Pero él también le da pie / Y la ha traído ya a esta casa / Como las dos son amigas / Me cuesta verla engañada / Yo ni siquiera soy de intrigas / Pero me sentí tan indignada / Y ahora que lo sabe todo / Hágase cargo de lo que tiene / Para evitar que se acabe / Un amor que iba tan bien / Y tal como vino se fue / Sin dejarme preguntar

A Traição: Fogo Posto

Sei que foste ter com ela / Tantos foram os recados / Para se encontrarem os dois / Eu vi da minha janela / Trocarem beijos e fados / E o mais que veio depois / Dizem que ela tem a arte / De manter acesa a chama / Até vir a madrugada / E eu nem quero imaginar-te / Deitado na sua cama / E eu toda a noite acordada / Se voltares, não digas nada / Sobretudo o que não foi / Que eu conheço o seu perfume / Hás-de encontrar-me calada / P’ ra não gritar como dói / A ferida do meu ciúme / Conta as lágrimas que correm / Como um rio pelo meu rosto / Pousa nele a tua mão / Os grandes amores não morrem / E a traição é fogo posto / A arder no meu coração

 

Sé qué tuviste algo con ella / Fueron tantos los mensajes / Para encontraros los dos / Os vi desde mi ventana / Cambiando besos y fados / Y lo que vino después / Dicen que ella tiene el arte / De mantener encendida la llama / Hasta que llega la madrugada / Yo no quiero ni imaginarte / Acostado en su cama / Y yo toda la noche despierta / Si vuelves, no digas nada / Sobre todo que no sucedió / Que  yo conozco su perfume / Me encontrarás callada / Para no gritar cómo duele / La herida de mis celos / Cuenta las lágrimas que corren / Como un río por mi rostro / Posa tu mano en él / Los viejos amores no duelen / Y la traición es fuego puesto / Para que arda en mi corazón

A Despedida: A Maçã de Adão

Não são palavras vãs, a carta que te deixo / Dizendo que me vou, pra nunca mais voltar / Ao morderes a maçã, tu perdeste o meu beijo / Já abraços não dou, a carta há de chegar / Nem vou esperar por ti, as malas estão à porta / Só me resta ir embora, a história chega ao fim / Se esqueceres que existi, não julgues que me importa / O homem que és agora, já não presta para mim / São tudo coisas minhas, aquelas que hoje levo / As mágoas e as penas não tás posso deixar / Entre as ervas daninhas, se encontrares o meu trevo / Tem três folhas apenas e só me deu azar

 

No son palabras vanas la carta que te dejo / Diciendo que me voy para no volver nunca más / Al morder la manzana, tú perdiste mi beso / Ya no doy abrazos, la carta ha de llegar / No voy a espera por ti, las maletas están en la puerta / Sólo me queda irme lejos, la historia ha llegado a su fin / Si olvidaras que existí, no creas que me importa / El hombre que eres ahora, ya no se ajusta a mí / Son todo cosas mías aquellas que ahora me llevo / Las amarguras y las penas no te las puedo dejar / Entre las malas hierbas, si encontrases mi trébol / Apenas tiene tres hojas y sólo me dio infelicidad

A Raiva: Labareda

Eu nunca fui de chorar / Quanto mais triste, mais canto / Se ao baile te vir chegar / Com outra no meu lugar / Não hás-de ouvir o meu pranto / Dança com ela agarrado / Se julgas que me incomoda / Eu canto sozinha um fado / Antes um fado bailado / Que pôr o pé nessa roda / Se pensas que vou chorar / Escreve o que te vou dizer / Hás-de me vir procurar / E eu hei-de estar a cantar / P’ra outro homem qualquer

 

Yo nunca fui de llorar / Cuanto más triste, más canto / Si te viera llegar al baile / Con otra en mi lugar / No habrás de oír mi llanto / Danza agarrado de ella / Si crees que me incomoda / Yo canto solita un fado / Antes un fado bailado / Que poner un pie en esa pista / Si piensa que voy a llorar / Escribe lo que te voy a decir / Has de venirme a buscar / Y yo he de estar cantando / Para cualquier otro hombre

A Saudade: Sem Chão

No cais aguardam os barcos / Viagens que o mar lhes deve / Meus dias no mar são parcos / Pois não tenho quem me leve / Por muito que a tempestade / Tingisse as velas de perigo / Em terra só há saudade / Do tempo em que ia contigo / Gemem os remos no lodo / Chorosos de não partir / Meus dias sem mar são todos / Pois não tenho com quem ir / Por muito que a maré alta / Deitasse os cascos ao fundo / Em terra só sinto a falta / De ir contigo ao fim do mundo

 

En el puerto esperan los barcos / Viajes que el mar les debe / Mis días en el mar son parcos / Pues no tengo quien me lleve / Por mucho que la tempestad / Tiñese las velas de peligro / En tierra sólo hay saudade / Del tiempo en que iba contigo / Gimen los remos en el lodo / Llorosos de no partir / Mis días sin mar son todos / Pues no tengo con quien ir / Por mucho que la marea alta / Tumbase los cascos al fondo / En tierra sólo siento la falta / De ir contigo al fin del mundo

O Luto: Os Pontos Nos II

Ouvi dizer que à morte te rendias / Que num febrão teu corpo se apagava / Que essa mulher com quem então vivias / Incapaz de salvar-te, só chorava / Eu quis calar a voz que me trazia / Notícia assim cruel e tão fatal / Mas ainda ouvi, já ela não se ouvia / Chorar meu coração pelo teu mal / Se não medi o passo que então dei / E vens agradecê-lo, já curado / Ao menos ouve aquilo que calei / Quando pensei que a morte era o teu fado / Não foi por ti que eu fui, não há maneira / De perdoar o tanto que sofri / Foi na mulher chorando à cabeceira / Que, ao lamentar-te a sorte, eu me revi / Essa mulher que tens p’rà vida inteira / Foi por ela que eu fui, e não por ti

 

Oí decir que a la muerte te rendías / Que en intensa fiebre tu cuerpo se apagaba / Que esa mujer con quien entonces vivías / Incapaz de salvarte, sólo lloraba / Yo quise callar la voz que me traía / Noticia así, tan cruel y fatal / Pero aún oí, aunque ella no se oía / Llorar a mi corazón por tu mal / Si no medí el paso que entonces di / Y vienes a agradecerlo ya curado / Al menos escucha aquello que callé / Cuando pensé que la muerte era tu fado / No fue por ti por lo que me fui, no hay manera / De perdonar todo lo que sufrí / Fue en la mujer llorando a la cabecera / Que, al lamentar tu suerte, yo me reví / Esa mujer que tienes para toda la vida / Fue por ella por quien me fui, y no por ti

O Recomeço: Cessar Fogo

Ai, que amargura tão grande / Foi vê-la ali, qual assombro / Essa amiga do passado / Que roubou o meu amante / E ainda levou o ombro / Em que eu queria ter chorado / Falou-me de peito aberto / Vinha pedir-me perdão / Contar que o tinha deixado / Depois de ter descoberto / Sem ter havido traição / Que ele nunca a tinha amado / Foram erros sobre enganos / Mas é a ti que ele quer / Disse-me ela, arrependida / Se puderes esquecer os danos / Vai ter com ele, mulher / Já esperou demais a vida / Amiga, estás perdoada / Respondi eu com carinho / Mas, entre nós, ouve bem / Desse homem não quero nada / Deixá-lo ficar sozinho / Quem tudo quer, nada tem

 

Ai, qué amargura tan grande / Fue verla allí, cual aparición / Esa amiga del pasado / Que robó a mi amante / Y además se llevó el hombro / En que yo quería haber llorado / Me habló abriendo el corazón / Vino a pedirme perdón / A contarme que lo había dejado / Después de haber descubierto / Sin que hubiese habido traición / Que él nunca la había amado / Fueron errores sobre engaños / Pero es a ti a quien él quiere / Me dijo ella arrepentida / Si pudieses olvidar los daños / Ve a hablar con él, mujer / Ya esperó de más la vida / Amiga, estás perdonada / Respondí yo con cariño / Pero, entre nosotras, escucha bien / De ese hombre no quiero nada / Deja que se quede solo / Quien todo lo quiere, nada tiene

Arte do Fado: Conclusão

Faz tudo parte da vida / Amar é ficar sozinho / Chorar é lamber a ferida / Cegar e ver o caminho / Dê a vida o que nos der / Vão-se as mágoas do passado / Quando podemos dizer / A nossa vida num fado

 

Todo forma parte de la vida / Amar es quedarse solo / Llorar es lamerse la herida / Cegarse y ver el camino / Nos dé la vida lo que nos dé / Se van las amarguras del pasado / Cuando podemos decir / Nuestra vida en un fado

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