top of page

Ana Moura

Ana Moura es oriunda de Coruche, pero como esta localidad no disponía de maternidad, nació en Santarem, la capital del distrito.
Reconocida internacionalmente, Ana Moura se estrenó con el disco Guarda-me a vida na mão, en 2003; al año siguiente se editó Aconteceu. Canta en varios locales de Lisboa y se dio a conocer en la televisión al lado de António Pinto Basto, en Fados de Portugal.
Para além da saudade, de 2007, fue el disco que le dio un mayor reconocimiento entre el público portugués, sobre todo por los temas  Os búzios O fado da procura. El disco alcanzó un triple platino por sus ventas, que superaron los cincuenta y cinco mil ejemplares y por permanecer durante 120 semanas en el TOP 30 de Portugal. Este mismo año participó en el concierto de los Rolling Stones en el Estádio de Alvalade XXI de Lisboa cantando, a duo con Mick Jagger, el tema No expectations de la banda británica.
Después de dos grandes conciertos en los Coliseos de Porto y de Lisboa, Ana Moura lanza finalmente su primer DVD en vivo en 24 de noviembre de 2008, un gran éxito entre el púbico portugués.
Con el reconocimiento de la crítica llega también el reconocimiento de sus compañeros de profesión y, en 2008, Ana Moura recibe el premio  Amália Rodrigues como mejor intérprete.
En 2009 el cantante Prince se confiesa fan de la fadista, muestra su interés en colaborar con Ana Moura y lo hace en el Festival de verano Super Bock Super Rock en 2010.
Su penúltimo disco Leva-me aos fados, lanzado el 12 de octubre de 2009, enseguida obtiene el disco de platino y se convierte en uno de los discos más vendidos. Con temas como Leva-me aos fados, Caso arrumado, Rumo ao sul y Fado vstido de fado, Ana Moura deleita al público. Se inicia una gira tanto fuera como dentro de Portugal; Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austria, Holanda y Alemania.
El 23 de mayo de 2010 recibió el premio a la mejor intérprete individual en los Globos de Oro; estaba nominada junto a artistas como Carminho, David Fonseca o Rodrigo Leão.
Su último disco: Desfado, ya fue anunciado como un viraje en la carrera de Ana Moura; reúne un gran número de colaboraciones con artistas extranjeros y portugueses y cruza el fado con otros lenguajes.
Márcia compuso el primer single: Até o verão, y colaboran en el disco otros nombres algo inesperados como Manuel Cruz, Pedro da Silva Martins (Deolinda), Nuno Figueiredo e Jorge Benvinda (Virgem Suta), Miguel Araújo (Azeitonas), Luísa Sobral, António Zambujo, Pedro Abrunhosa, Aldina Duarte o los ya habituales Manuela de Freitas, Nuno Miguel Guedes, Mário Rainho e Tózé Brito. Además de estas colaboraciones portuguesas, Desfado cuenta con la participación de Herbie Hancock e Larry Klein.

Discografía

Guarda-me a vida na mão

1. Guarda-me a vida na mão

2. Desculpa

3. Nasci p’ra ser ignorante

4. Sou do fado, sou fadista

5. Vou dar de beber à dor

6. Preso entre o sono e o sonho

7. Não hesitava um segundo

8. Porque teimas nesta dor

9. Meu triste, triste amor

10. Endeixa

11. Quem vai ao fado

12. Flor de lua

13. Guitarra

14. Às vezes

15. Lavara no rio lavava

Guarda-me a vida na mão

Guarda-me a vida na mão / Guarda-me os olhos nos teus / Dentro desta solidão / Nem há presença de Deus / Como a queda de um sorriso / Pelo canto triste da boca / Neste vazio impreciso / Só a loucura me toca / Esperei por ti todas as horas / Frágil sombra olhando o cais / Mas mais triste que as demoras / É saber que não vens mais.

Guárdame la vida en la mano / Guárdame los ojos en los tuyos / Dentro de esta soledad / No hay ni presencia de Dios / Como la caída triste de una sonrisa / Por la comisura triste de la boca / En este vacío impreciso / Sólo la locura me toca / Esperé por ti todas las horas / Frágil sombra mirando al puerto / Pero más triste que las demoras / Es saber que no vienes más.

Desculpa de não ser como tu queres / De ser o lado errado entre nós / Aperta-me em teus braços de mulher / Disseste-o num soluço quase voz / Desculpa não ser mais para te oferecer / No tudo que te dou e que é tão pouco / Repousa-me em teus braços de mulher / Disseste tu num tom velado e rouco / Desculpa a pequenez que me apequena / Aos teus olhos adultos penetrantes / Acolhe com piedade a alma enferma / Disseste à flor de uns lábios delirantes / Desculpa por te olhar aquém do pranto / Que dos meus olhos corre ao estarmos sós / Desculpa por ainda te amar tanto / Disseste-o num soluço quase voz

Disculpa por no ser como tú quieres / Por ser el lado equivocado de nosotros / Estréchame en tus brazos de mujer / Dijiste en un susurro, casi voz / Disculpa no ser más para ofrecerte / En todo lo que te doy y que es tan poco / Repósame en tus brazos de mujer / Dijiste tú en un tono velado y ronco / Disculpa la pequeñez que me empequeñece / A tus ojos adultos y penetrantes / Acoje con piedad el alma enferma / Dijiste a la flor de unos labios delirantes / Disculpa por mirarte más acá del llanto / Que de mis ojos corre cuando estamos solos / Disculpa por amarte aún tanto / Dijiste en un susurro, casi voz

Desculpa

Nasci p'ra ser ignorante

Nasci p'ra ser ignorante / Mas os parentes teimaram / E dali não arrancaram / Em fazer de mim estudante / Que remédio obedeci / Há já 3 lustros que estudo / Aprender aprendi tudo / Mas tudo desaprendi / Perdi o nome às estrelas / Aos nossos rios e aos de fora / Confundo fauna com flora / Atrapalham-me as parcelas / Mas passo dias inteiros / A ver o rio a passar / Com aves e ondas do mar / Tenho amores verdadeiros / Rebrilha sempre uma estrela / Por sobre o meu parapeito / Pois não sou eu que me deito / Sem ter falado com ela / Conheço mais de mil flores / Elas conhecem-me a mim / Só não sei como em latim / As crismaram os doutores / Nasci p'ra ser ignorante / Mas os parentes teimaram / E dali não arrancaram / Em fazer de mim estudante / Que remédio obedeci / Há já 3 lustros que estudo / Aprender aprendi tudo / Mas tudo desaprendi / Enquanto as águas correrem / Não sentirei calafrios / Que flores aves e rios / Ignorante é que me querem / Que flores aves e rios / Ignorante é que me querem

Nací para ser ignorante / Pero mis padres se empeñaron / Y ni aún así consiguieron / Hacer de mí una estudiante / Qué remedio, obedecí / Ya hace tres lustros que estudio /Aprender, lo aprendí todo / Pero todo lo desaprendí / Perdí el nombre de las estrellas / De nuestros ríos y los de fuera / Confundo la fauna con la flora / Se me confunden las cifras / Pero paso días enteros viendo los ríos correr / Con aves y olas del mar / Tengo amores verdaderos / Refulge siempre una estrella / Sobre mi parapeto / Pues no soy yo quien me acuesto / Sin haber hablado con ella / Conozco más de mil flores / Ellas me conocen a mí / Pero no sé como en latín / Las llamaron los doctores / Nací para ser ignorante / Pero mis padres se empeñaron / Y ni aún así consiguieron / Hacer de mí una estudiante / Qué remedio, obedecí / Ya hace tres lustros que estudio /Aprender, lo aprendí todo / Pero todo lo desaprendí / Pero cuando las aguas corran / No sentiré escalofríos / Porque aves, flores y ríos / Ignorante es como me quieren / Porque aves, flores y ríos / Ignorante es como me quieren

Sou do fado, eu sou fadista

Sei que a alma se ajeitou
Tomou a voz nas mãos
Rodopiou no peito
E fez-se ouvir no ar
E eu fechei meus olhos
Tristes só por querer
Cantar, cantar
E uma voz me canta assim baixinho
E uma voz me encanta assim baixinho
Sou do fado
Sou do fado
Eu sou fadista
Sei que o ser se dá assim
Às margens onde o canto
Recolhe em seu regaço
As almas num só fado
E eu prendi-me a voz
Como a guitarra ao seu
Trinado, trinado
E uma voz me canta assim baixinho
E uma voz me encanta assim baixinho
Sou do fado
Sou do fado
Eu sou fadista

 

 

Sé que el alma se acomodó

Tomó la voz en las manos

Rodó en el pecho

Y se hizo oír en el aire

Y yo cerré mis ojos

Tristes sólo por querer

Cantar, cantar

Y una voz me canta así bajito

Y una voz me encanta así bajito

Soy del fado

Soy del fado

Yo soy fadista

Sé que el ser se entrega así

En las márgenes donde el canto

Recoge en su regazo

Las almas en un solo fado

Y yo me agarré a la voz

Como la guitarra a su

Trino, trino

Y una voz me canta así bajito

Y una voz me encanta así bajito

Soy del fado

Soy del fado

Yo soy fadista

 

 

Vou dar de beber à dor

Foi no Domingo passado que passei / À casa onde vivia a Mariquinhas / Mas está tudo tão mudado / Que não vi em nenhum lado / As tais janelas que tinham tabuinhas / Do rés-do-chão ao telhado / Não vi nada, nada, nada / Que pudesse recordar-me a Mariquinhas / E há um vidro pegado e azulado / Onde via as tabuinhas / Entrei e onde era a sala agora está / A secretária e um sujeito que é lingrinhas / Mas não vi colchas com barra / Nem viola nem guitarra / Nem espreitadelas furtivas das vizinhas / O tempo cravou a garra / Na alma daquela casa / Onde às vezes petiscávamos sardinhas / Quando em noites de guitarra e de farra / Estava alegre a Mariquinhas / As janelas tão garridas que ficavam / Com cortinados de chita às pintinhas / Perderam de todo a graça porque é hoje uma vidraça / Com cercaduras de lata às voltinhas / E lá pra dentro quem passa / Hoje é pra ir aos penhores / Entregar o usurário, umas coisinhas / Pois chega a esta desgraça toda a graça / Da casa da Mariquinhas / Pra terem feito da casa o que fizeram / Melhor fora que a mandassem prás alminhas / Pois ser casa de penhor / O que foi viveiro de amor / É ideia que não cabe cá nas minhas / Recordações de calor / E das saudades o gosto eu vou procurar esquecer / Numas ginjinhas / Pois dar de beber à dor é o melhor / Já dizia a Mariquinhas

 

Fue el domingo pasado cuando pasé / Por la casa donde vivía Mariquinhas / Pero estaba todo tan cambiado / Que no vi en ningún lado / Las ventanas que tenía persianas / Desde el suelo hasta el tejado / No vi nada, nada, nada / Que pusiese recordarme a Mariquinhas / Y hay un cristal pegado y azulado / Donde se veían persianas / Entré y donde estaba la sala ahora está / La secretaria y un sujeto que está en los huesos / Pero no vi cortinas con barra / Ni viola ni guitarra / Ni miradas furtivas de las vecinas / El tiempo clavó su garra / En el alma de aquella casa / Donde a veces comíamos sardinas / Cuando en noches de guitarra y de farra / Estaba alegre Mariquinhas / Las ventas que eran tan elegantes / Con cortinas de algodón a lunares / Perdieron de todo la gracia porque hoy son ventanales / Con marco de hierro torneado / Y quien pasa por allí dentro / Hoy es para ir a empeñar / Para que el usuario entregue una cosita / Pues ha llegado a esta desgracia toda la gracia / De la casa de Mariquinhas / Para hacer de la casa lo que hicieron / Era mejor que la hubieran mandado al otro barrio / Pues ser una casa de empeños / Lo que fue un vivero de amores / Es una idea que no cabe en mi cabeza / Recuerdos de calor / Y de saudades, lo que ahora voy a intentar es olvidarlo / En unas ginginhas / Pues dar de beber al dolor es lo mejor / Ya lo decía Mariquinhas

Preso entre o sono e o sonho

Uma flor não te dá nome / Não há jardim que te cresça / Vou saciar minha fome / Quando em ti meu olhar desça / Um silêncio que te chama / E os olhos num longo traço / Fecham-se á luz que derrama / Sobre a cama que eu desfaço / Um livro espera tristonho / Entreaberto, a meu lado / Preso entre o sono e o sonho / Nem aberto, nem fechado / Não há caminho que tome / Não há voz que em mim conheça / Que chegue p'ra te dar nome / Não há flor que te pareça

Una flor no te da nombre / No hay jardín que te crezca / Voy a saciar mi hambre / Cuando baje a ti mis ojos / Un silencio que te llama / Y los ojos en un largo trazo / Se cierran a la luz que derrama / Sobre la cama que deshago / Un libro espera entristecido / Entreabierto, a mi lado / Preso entre el sueño y los sueños / Ni abierto, ni cerrado / No hay camino que tome / No hay voz que en mi conozca / Que llegue a darte nombre / No hay flor que se te parezca

Não hestitava um segundo

Entre os teus olhos azuis / E um quadro azul de Picasso / Entre o som da tua voz / E o som de qualquer compasso / Entre o teu anel de prata / E todo o ouro do mundo / Escolheria o que é teu / Não hesitava um segundo / Quantas ondas há no mar / Quantas estrelas no céu / Tantas quantas nos meus sonhos / Eu fui tua e foste meu / Entre o teu anel de prata / E todo o ouro do mundo / Escolheria o que é teu / Não hesitava um segundo / Entre o céu da tua boca / E a luz do céu de Lisboa / Entre uma palavra tua / E um poema de Pessoa / Entre a cor do teu sorriso / E todo o brilho do mundo / Escolheria o que é teu / Não hesitava um segundo / Entre o teu anel de prata / E todo o ouro do mundo / Escolheria o que é teu / Não hesitava um segundo


Entre tus ojos azules / Y un cuadro azul de Picasso / Entre el sonido de tu voz / Y el sonido de cualquier compás / Entre tu anillo de plata / Y todo el oro del mundo / Escogería lo que es tuyo /No lo dudaba un segundo / Cuántas olas hay en el mar / Cuántas estrellas en el cielo / Tantas como en mis sueños / Yo fui tuya y fuiste mío / Entre tu anillo de plata / Y todo el oro del mundo / Escogería lo que es tuyo /No lo dudaba un segundo / Entre el cielo de tu boca / Y la luz del cielo de Lisboa / Entre una palabra tuya / Y un poema de Pessoa / Entre el color de tu sonrisa / Y todo el brillo del mundo / Escogería lo que es tuyo /No lo dudaba un segundo / Entre tu anillo de plata / Y todo el oro del mundo / Escogería lo que es tuyo /No lo dudaba un segundo

Por que teimas nesta dor

Por que teimas nesta dor / Por que não lhe queres dar fim / Tu sabes que o nosso amor / Não morre dentro de mim / Não te dou beijos fingidos / Que a boca sabe a verdade / Os teus lábios proibidos / Prende a minha alma à saudade / Mesmo que ao beijar não sintas / O que a tua boca diz / Meu amor por mais que mintas / Nos teus beijos sou feliz / Meu amor na tua boca, / Há um silêncio que é nosso / Um travo de coisa pouca / E amar-te mais eu não posso


Por qué insistes en ese dolor / Por qué no le quieres dar fin / Tú sabes que nuestro amor / No muere dentro de mí / No te doy besos fingidos / Que la boca sabe la verdad / Tus labios prohibidos / Atan mi alma a la saudade / Aunque al besar no sientas / LO que tu boca dice / Mi amor, por más que mientas / En tus besos soy feliz / Mi amor, en tu boca, / Hay un silencio que es nuestro / Un amargor pequeño / Y no puedo amarte más

Meu triste, triste amor

Meu triste, triste amor / Das noites inocentes / Que o amor ao possuir-me / Inocentiza-me o ser / Por sobre a minha pele / As tuas mãos reluzentes / Afadigam-se no corpo / P'ra melhor o conhecer / Meu triste, triste amor / De anseios prematuros / De ventos circundantes / Incentivados por nós / O amor se faz ouvir / Por entre beijos seguros / Num sussurro insolente / Que não nos chega a ser voz / Meu triste, triste amor / De inuzitada memória / De incontadas promessas / Em tímido pudor / Somente a nossa voz / Poderá contar a história / Do quanto nos amámos / Meu triste, triste amor

Mi triste, triste amor / De las noches inocentes / En que el amor al poseerme / Hace inocente mi ser / Sobre mi piel / Tus manos relucientes / Se fatigan en el cuerpo / Para conocerlo mejor / Mi triste, triste amor / De ansias prematuras / de vientos circundantes / Incentivados por nosotros / El amor se hace oír / Por entre besos seguros / En un susurro insolente / Que no nos llega a ser voz / Mi triste, triste amor / De inusitada memoria / De incontables promesas / En tímido pudor / Solamente nuestra voz / Podrá contar la historia / De cuánto nos amamos / Mi triste, triste amor

Endeixa

Pois meus olhos não deixam de chorar / Tristezas que não cansam de cansar-me / Pois não abranda o fogo em que abrasar-me / Pode quem eu jamais pude abrandar / Não canse o cego amor de me guiar / A parte donde não saiba tornar-me / Nem deixe o mundo todo de escutar-me / Enquanto me a voz fraca não deixar / E se em montes, em rios, ou em vales / Piedade mora ou dentro mora amor / Em feras, aves, plantas, pedras, águas / Ouçam a longa história de meus males / E curem sua dor com minha dor / Que grandes mágoas podem curar mágoas

Puesto que mis ojos no dejan de llorar / Tristezas que no se cansan de cansarme / Puesto que no se ablanda el fuego en que me abrasa / Puede quien yo jamás pude ablandar / Que no se canse el ciego amor de guiarme / A la parte donde no sabía guiarme / Ni deje el mundo todo de escucharme / Mientras que no me deje la voz débil / Y si en montes, en río o en valles / La piedad mora o dentro mora el amor / En fieras, aves, plantas, piedras, aguas / Escuchen la larga historia de mis males / Y curen su dolor con mi dolor / Que grandes tristezas pueden curar tristezas

Quem vai ao fado

Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Leva no peito algo de estranho a latejar / Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Sente que a alma ganha asas quer voar / Sempre que entristeço e a nostalgia cai em mim / Ouço de tão longe estranha voz por mim chamar / È um canto doce mavioso ou coisa assim / Logo a minha alma faz-se voz e quer cantar / Bálsamo bendito a esta terra quis Deus dar / Mais vale cantar do que chorar / Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Leva no peito algo de estranho a latejar / Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Sente que a alma ganha asas quer voar / Sempre que radioso o coração se agita em mim / Num impulso alegre a felicidade vem morar / Abandono a voz no Mouraria porque assim / Sei que o coração quer à guitarra forma dar / Bálsamo bendito a esta terra quis Deus dar / Mais vale cantar do que chorar / Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Leva no peito algo de estranho a latejar / Quem vai ao fado meu amor / Quem vai ao fado / Sente que a alma ganha asas quer voar

Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Lleva en el pecho algo que palpita / Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Siente que el alma recobra alas para volar / Siempre que me entristezco y la nostalgia cae en mí / Oigo de muy lejos una extraña voz que me llama / Es un canto dulce, tierno o algo parecido / Luego mi alma se hace voz y quiere cantar / Bálsamo bendito a esta tierra quiso Dios darle / Más vale cantar que llorar / Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Lleva en el pecho algo que palpita / Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Siente que el alma recobra alas para volar / Siempre que el corazón radiante se agita en mí / En un impulso alegre la felicidad viene a morar / Abandono la voz en Mouraria porque así / Sé que el corazón quiere darle forma a la guitarra / Bálsamo bendito a esta tierra quiso Dios darle / Más vale cantar que llorar / Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Lleva en el pecho algo que palpita / Quien va al fado, mi amor / Quien va al fado / Siente que el alma recobra alas para volar

Flor de lua

Solidão, campo aberto / Campo chão, tão deserto / Meu verão, ansiedade / Meu irmão, de saudade / Campo sol, girassol, branco lírio, / Ilusão, solidão, meu martírio / Torna a flor, minha flor, campo chão, / Torna a dor, minha dor, solidão / Vai no vento, a passar / Um lamento, a gritar / Dó ré mi, mi fá sol / Dó ré mi, girassol / Velho cardo, esguio nardo, flor de lua / Mi fá sol, girassol, eu sou tua / Torna a dor, minha flor, campo chão / Torna a dor, minha flor, solidão / Grita o mar, geme o vento / Teu olhar, meu tormento / Chora a lua, flor dourada / Madressilva, madrugada / Canta a lua, seminua, flor mimosa / Sargaçal, roseiral, minha rosa / Chora a fonte, reza o monte, branca asa / Canta a flor, chora a flor, campa rasa

Soledad, campo abierto / Campo llano, tan desierto / Mi verano, ansiedad / Mi hermano, de saudade / Campo sol, girasol, blanco lirio, / Ilusión, soledad, mi martirio / Vuelve la flor, mi flor, campo llano, / Vuelve el dolor, mi dolor, soledad / Va en el viento, al pasar / Un lamento, gritando / Do re mi, mi fa sol / Do re mi, girasol / Viejo cardo, nardo herido, flor de luna / Mi fa sol, girasol, yo soy tuya / Vuelve el dolor, mi flor, campo llano / Vuelve el dolor, mi dolor, soledad / Grita el mar, gime el viento / Tu mirada, mi tormento / llora la luna, flor dorada / Madreselva, madrigada / Canta la luna, semidesnuda, flor mimosa / Campo de espinos, rosaleda, mi rosa / Llora la fuente, reza el monte, ala blanca / Canta la flor, llora la flor, losa plana.

Guitarra

Ó guitarra guitarra, por favor / Abres-me o peito com chave de dor / Guitarra emudece / O som que me entristece / Vertendo sobre mim a nostalgia / Ò guitarra, guitarra, vais ter dó / Não rasgues o silêncio ao veres-me só / Guitarra o teu gemer / Mais dor me vem fazer / Como o vento a afagar a noite fria / Guitarra emudece, o som que me entristece / Pois se te ouço chorar, eu também choro / Maior do que a madeira em que te talham / Guitarra é o teu mundo onde moro / Ò guitarra guitarra, por favor / Abres-me o peito com chave de dor / Ò guitarra guitarra fica muda / Sem ti, talvez minh'alma inda se iluda / Vais ter que responder / Se em mim tudo morrer / Ao peso desta enorme nostalgia

Ay, guitarra, guitarra, por favor / Me abres el pecho con la llama del dolor / Guitarra, enmudece / El sonido que me entristece / Vertiendo sobre mí la nostalgia / Ay, guitarra, guitarra, ten compasión / No rasgues el silencio al verme solo / Guitarra, tu gemir / Viene a darme más dolor / Como el viento al acariciar la noche fría / Guitarra, enmudece el sonido que me entristece / Pues si te oigo llorar, yo también lloro / Mayor que la madera en que te talla / Guitarra, es tu mundo donde vivo / Ay, guitarra, guitarra, por favor / Me abres el pecho con la llave del dolor / Ay, guitarra, guitarra, queda muda / Sin ti, tal vez, mi alma aún se ilusione / Tendrás que responder / Si en mí todo muere / Al peso de esta enorme nostalgia

Às vezes

Às vezes / Quando te peço / Essas coisas que enfim / Eu não mereço / Fico a olhar para ti / E agradeço / Ter o que te pedi / Sempre que peço / E olha / Às vezes penso / Penso que tu me queres / Que eu te pertenço / Distraída de mim / Nada mais peço / Tenho do teu amor / Tudo que eu quero / Aceita este pensar / Desperta tudo o que eu sou / Regresso ao teu amor / Depressa, a certeza chegou / Adoras / Amamos / Demoras / Enganos / E ainda vou ser feliz / Nos braços do meu amor

A veces / Cuando te pido / Esas cosas que, en fin / Yo no merezco / Pongo mis ojos en ti / Y agradezco / Tener lo que te pedí / Siempre que pido / Y mira / A veces pienso / Pienso que tú me quieres / Que yo te pertenezco / Distraída de mí / Nada más pido / Tengo de tu amor / Todo lo que quiero / Acepta ese pensar / Despierta todo lo que soy / Regreso a tu amor / Deprisa llegó la certeza / Adoras / Amamos / Demoras / Engaños / Y todavía voy a ser feliz / En los brazos de mi amor

Lavava, no rio, lavava

Lavava no rio, lavava / Gelava-me o frio, gelava / Quando ia ao rio lavar; / Passava fome, passava / Chorava, também chorava / Ao ver minha mãe chorar / Cantava, também cantava / Sonhava, também sonhava / E na minha fantasia / Tais coisas fantasiava / Que esquecia que chorava / Que esquecia que sofria / Já não vou ao rio lavar / Mas continuo a sonhar / Já não sonho o que sonhava / Se já não lavo no rio / Porque me gela este frio / Mais do que então me gelava / Ai minha mãe, minha mãe / Que saudades desse bem / E do mal que então conhecia / Dessa fome que eu passava / Do frio que me gelava / E da minha fantasia / Já não temos fome, mãe / Mas já não temos também / O desejo de a não ter / Já não sabemos sonhar /Já andamos a enganar / O desejo de morrer

Lavaba en el río, lavaba / Me helaba el frío, me helaba / Cuando iba al río a lavar, / Pasaba hambre, pasaba / Lloraba, también lloraba / Al ver a mi madre llorar / Cantaba, también cantaba / Soñaba, también soñaba / Y en mi fantasía / Tales cosas fantaseaba / Que olvidaba que lloraba / Que olvidaba que sufría / Ya no voy al río a lavar / Pero sigo soñando / Ya no sueño lo que soñaba / Si ya no lavo en el río / Por qué me hiela este frío / Más de lo que entonces me helaba / Ay, madre mía, madre mía / Qué saudades de aquel bien / Y del mal que entonces conocía / De aquel hambre que pasaba / Del frío que me helaba / Y de mi fantasía / Ya no tenemos hambre, madre / Pero tampoco tenemos / El deseo de no tenerla / Ya no sabemos soñar / Ya estamos sólo engañando / Al deseo de morir

Aconteceu (2004)

CD1 - A porta do Fado

1. Por Um Dia

2. Ao Poeta Perguntei

3. O Que Foi Que Aconteceu

4. Ouvi Dizer Que Me Esqueceste

5. Fado De Pessoa

6. Amor De Uma Noite

7. Eu Quero

8. Bailinho À Portuguesa

9. Creio

10. Através Do Teu Coração

 

CD2 - Dentro de casa

1. Como O Tempo Corre

2. Hoje Tudo Me Entristece

3. Passos Na Rua

4. Mouraria

5. Fado Menor

6. Dentro Da Tempestade

7. Cumplicidade

8. Ó Meu Amigo João

9. Venho Falar Dos Meus Medos

10. Nada Que Devas Saber

Por um dia

Perguntares como é que eu estou não e quanto baste / Quereres saber a quem me dou não é quanto baste / E dizeres para ti morri é um estranho contraste / Nada mais te liga a mim tu nunca me amaste / Telefonas para saber como vai a vida / E mais feres sem querer minha alma ferida / E assim rola a minha dor pássaro ferido / Que não esquece o teu amor estranho e proibido / Deixa-me só por um dia / Deixa-me só por um dia / Minha fria companhia / Minha fria companhia / Dizes ser tão actual ficarmos amigos / No teu jeito natural de enfrentar os perigos / Sem saberes que tanto em mim ainda arde a chama / Que não perde o seu fulgor que ainda te ama / Deixa-me só por um dia / Deixa-me só por um dia / Minha fria companhia / Minha fria companhia / Minha fria companhia

 

Que te preguntes cómo me encuentro no es suficiente / Que quieras saber a quién me doy no es suficiente / Y decir que para ti he muerto es un extraño contraste / Nada más te une a mí, tú nunca me amaste / Telefoneas para saber cómo va la vida / Y hieres más sin saberlo mi alma herida / Y así rueda mi dolor, pájaro herido / Que no olvida tu amor extraño y prohibido / Déjame sólo por un día / Déjame sólo por un día / Mi fría compañía / Mi fría compañía / dices que sería moderno quedar como amigos / En tu modo natural de enfrentar los peligros / Sin que sepas que aún en mí arde la llama / Que no pierde su fulgor y que aún te ama / Déjame sólo por un día / Déjame sólo por un día / Mi fría compañía / Mi fría compañía

Ao poeta preguntei

Ao poeta perguntei / Como é que os versos assim aparecem / Disse-me só, eu cá não sei / São coisas que me acontecem / Sei que nos versos que fiz / Vivem motivos dos mais diversos / E também sei que sendo feliz / Não saberia fazer os versos / Oh! meu amigo / Não penses que a poesia / É só a caligrafia num perfeito alinhamento / As rimas são, assim como o coração / Em que cada pulsação nos recorda sofrimento / E nos meus versos pode não haver medida / Mas o que há sempre, são coisas da própria vida / Fiz versos como faz dia / A luz do sol sempre ao nascer / Eu fiz os versos porque os fazia, / Sem me lembrar dos fazer / Como a expressão e os jeitos / Que para cantar se vão dando à voz / Todos os versos andam já feitos / De brincadeira dentro de nós / Oh! meu amigo / Assim amigo já vez que a poesia / Não é só caligrafia, são coisas do sentimento

 

Al poeta le pregunté / Cómo es que los versos aparecen así / Me dijo solamente: yo no lo sé / Son cosas que me suceden / Sé que en los versos que hice / Viven motivos de los más diversos / Pero también sé que siendo feliz / No sabría hacer los versos / Ay, amigo mío, no pienses que la poesía / Es sólo la caligrafía en perfecto alineamiento / Las rimas son así como un corazón / En que cada pulsación nos recuerda un sufrimiento / Y en mis versos puede no haber medida / Pero lo que hay siempre son cosas de la propia vida / Hice versos como hace día / La luz del sol siempre al nacer / Yo hice versos porque los hacía / Si acordarme de hacerlos / Como la expresión y el arte / Que para cantar se va dando a la voz / Todos los versos están ya hechos / Jugando dentro de nosotros / Y así, amigo, ya has visto que la poesía / No es sólo caligrafía… son cosas del sentimiento

O que foi que aconteceu

Aconteceu / Eu não estava à tua espera / E tu não me procuravas / Nem sabias quem eu era / Eu estava ali só porque tinha que estar / E tu chegaste porque tinhas que chegar / Olhei para ti / O mundo inteiro parou / Nesse instante a minha vida / A minha vida mudou / Tudo era para ser eterno / E tu para sempre meu / Onde foi que nos perdemos? / O que foi que aconteceu? / Tudo era para ser eterno / E tu para sempre meu / Onde foi que nos perdemos, meu amor? / O que foi que aconteceu? / Aconteceu / Chama-lhe sorte ou azar / Eu não estava à tua espera / E tu voltaste a passar / Nunca senti bater o meu coração / Como senti ao sentir a tua mão / Na tua boca o tempo voltou atrás / E se fui louca / Essa loucura / Essa loucura foi paz / Tudo era para ser eterno / E tu para sempre meu / Onde foi que nos perdemos? / O que foi que aconteceu? / Tudo era para ser eterno / E tu para sempre meu / Onde foi que nos perdemos, meu amor? / O que foi que aconteceu?

 

Sucedió / Yo no estaba esperándote / Y tú no me buscabas / Ni sabías quién era yo / Yo estaba allí sólo porque tenía que estar / Y tú llegaste porque tenías que llegar / Miré hacia ti / El mundo entero paró / En ese instante mi vida / Mi vida cambió / Todo debería haber sido eterno / Y tú para siempre mío / ¿Dónde fue que nos perdimos? / ¿Qué fue lo que sucedió? / Todo debería haber sido eterno / Y tú para siempre mío / ¿Dónde fue que nos perdimos, mi amor? / ¿Qué fue lo que sucedió? / Sucedió / Llámale suerte o azar / Yo no estaba esperándote / Y tú volviste a pasar / Nunca sentí latir mi corazón / Como lo sentí al sentir tu mano / En tu boca el tiempo se fue hacia atrás / Y si estuve loca / Esa locura fue paz / Todo debería haber sido eterno / Y tú para siempre mío / ¿Dónde fue que nos perdimos? / ¿Qué fue lo que sucedió? / Todo debería haber sido eterno / Y tú para siempre mío / ¿Dónde fue que nos perdimos, mi amor? / ¿Qué fue lo que sucedió?

 

Ouvi dizer que me esqueceste

Guitarra triste, ouvi dizer que me esqueceste / no teu gemido tão magoado / Guitarra triste, perdi a vez e tu perdeste / o céu oculto aonde anoitece e nasce o fado / O meu peito se apequena como se a alma atormentada / entre as cordas vibrando se quisesse esconder / Fecho os olhos e triste sigo a voz desesperada / que como eu esta gritando toda a dor de viver / Guitarra triste, ouvi dizer que me esqueceste / no teu gemido tão magoado / Guitarra triste, perdi a vez e tu perdeste / o céu oculto aonde anoitece e nasce o fado / Não vou crer de partir com mais ninguém a solidão / escondida de mim no teu triste trinado / o meu traído amor calou minha dor dessa traição / foi por isso que enfim nunca mais cantei fado / Guitarra triste, ouvi dizer que me esqueceste / no teu gemido tão magoado / Guitarra triste, perdi a vez e tu perdeste / o céu oculto aonde anoitece e nasce o fado / Guitarra triste, perdi a vez e tu perdeste / o céu oculto aonde anoitece e nasce o fado

 

Guitarra triste, oí decir que me olvidaste / en tu gemir tan dolorido / Guitarra triste, perdí mi vez y tu perdiste / el cielo oculto donde anochece y nace el fado / Mi pecho se empequeñece como si el alma atormentada / entre las cuerdas que vibran se quisiese esconder / Cierro los ojos y sigo triste la voz desesperada / que como yo está gritando todo el dolor de vivir / Guitarra triste, oí decir que me olvidaste / en tu gemir tan dolorido / Guitarra triste, perdí mi vez y tu perdiste / el cielo oculto donde anochece y nace el fado / No creo poder compartir con nadie más la soledad / escondiéndose de mí en tu triste trino / mi traicionado amor calló mi dolor de esa traición / fue por eso en definitiva por lo que nunca más canté fado / Guitarra triste, oí decir que me olvidaste / en tu gemir tan dolorido / Guitarra triste, perdí mi vez y tu perdiste / el cielo oculto donde anochece y nace el fado / Guitarra triste, oí decir que me olvidaste / en tu gemir tan dolorido / Guitarra triste, perdí mi vez y tu perdiste / el cielo oculto donde anochece y nace el fado

Fado de Pessoa

Um fado pessoano / Num bairro de Lisboa / Um poema lusitano / No dizer de Camões / Uma gaivota em terra / Um sujeito predicado / Um porto esquecido / Um barco ancorado / Leva-as o vento / Meras palavras / Guarda no peito / A ingenuidade / Figura de estilo / Tua voz na proa / De um verso já gasto / No olhar de Pessoa / Uma frase perfeita / E um beijo prolongado / Uma porta aberta / Traz odor a pecado / Uma guitarra com garra / Ouvida entre os umbrais / Numa cidade garrida com vista para o cais / Leva-as o vento / Meras palavras / Guarda no peito / A ingenuidade / Figura de estilo / Tua voz na proa / De um verso já gasto / No olhar de Pessoa / Leva-as o vento...

 

Un fado pesoano / En un barrio de Lisboa / Un poema lusitano / Un dicho de Camões / Una gaviota en tierra / Un sujeto predicado / Un puerto olvidado / Un barco anclado / Llévalas al viento / Meras palabras / Guardo en el pecho / La ingenuidad / Figura de estilo / Tu voz en la proa / De un verso ya gastado / En la mirada de Pessoa / Una frase perfecta / Y un beso prolongado / Una puerta abierta / Trae olor a pecado / Una guitarra con garra / Escuchada entre los umbrales / Una ciudad alegre con vistas al puerto / Llévalas al viento / Meras palabras / Guardo en el pecho / La ingenuidad / Figura de estilo / Tu voz en la proa / De un verso ya gastado / En la mirada de Pessoa / Llévalas al viento

Amor de uma noite

Meu amor de uma noite / Que poderás fazer de mim agora / Se o meu pecado é açoite / A açoitar-me noite fora / Amor meu de quem sou eu agora / Meu amor que sou.... / Este amor que é feito por amor / Perfeito e emancipado / Quando alcançamos a dor / Dispersa no mar de quem faz amor / Ressuscito nos teus braços / Se me dizes foi tão bom / Alimenta-me o desejo / Meu amor como é bom / Não há tempo nem há espaço quando a dois tudo é bom / E ate mesmo próprio eu não existe quando é bom / Meu amor realizado / Nascido da flor entre dois seres aflitos / Pedaços despedaçados / Que resolvemos convictos / Senhora bendita mãe dos aflitos / Ressuscito nos teus braços se me dizes foi tão bom / Alimenta-me o desejo meu amor como é bom / Não há tempo nem há espaço quando a dois tudo é bom / E ate mesmo o próprio eu não existe quando é bom / Meu amor de uma noite / Meu amor de uma noite

 

Mi amor de una noche / Que podrás hacer de mí ahora / Si mi pecado es un azote / Que me azota e las noches / Amor mío, de quién soy ahora / Mi amor qué soy... / Este amor que está hecho por amor / Perfecto y emancipado / Cuando alcanzamos el dolor / Disperso en el mar de quien hace el amor / Resucito en tus brazos / Si me dices que fue tan bueno / Alimenta mi deseo / Mi amor es bueno / No hay tiempo ni espacio cuando entre los dos todo es bueno / Y hasta el mismo propio yo no existe cuando es bueno / Mi amor realizado / Nacido de la flor entre dos seres afligidos / Pedazos despedazados / Que resolvemos convencidos / Señora bendita, madre de los afligidos / Resucito en tus brazos si me dices que fue tan bueno / Alimenta mi deseo, mi amor es bueno / No hay tiempo ni espacio cuando entre los dos todo es bueno / Y hasta el mismo propio yo no existe cuando es bueno / Mi amor de una noche / Mi amor de una noche

 

Eu quero

Eu quero, eu sei o que quero / A vida pra mim é assim / Eu quero, eu sei onde vou, eu quero / Mas não quero nem tolero / Que possas julgar de mim / Tudo aquilo que não sou, não quero / Quero seguir o caminho da verdade / Deus queira, que este amor seja sincero / Se for caminho errado / Será mais um pecado / E amor por caridade, não quero / Escuta, medita, tem calma / Eu quero chamar-te à razão / Não quero desdém nem ciúme, não quero / O fogo que tens na alma / Faz queimar meu coração / Quero apagar esse lume, eu quero / Quero seguir o caminho da verdade / Deus queira, que este amor seja sincero / Se for caminho errado / Será mais um pecado / E amor por caridade, não quero

 

Yo quiero, yo sé lo que quiero / La vida para mí es así / Yo quiero, yo sé dónde voy, yo quiero / Pero no quiero ni tolero / Que puedas juzgar de mí / Todo aquello que no soy, no quiero / Quiero seguir el camino de la verdad / Dios quiera que este amor sea sincero / Si fuese camino errado / Será otro pecado / Y amor por caridad, no quiero / Escucha, medita, ten calma / Quiero llamarte a la razón / No quiero desdén ni celos, no quiero / El fuego que tienes en el alma / Hace quemar mi corazón / Quiero apagar esa lumbre, yo quiero / Quiero seguir el camino de la verdad / Dios quiera que este amor sea sincero / Si fuese camino errado / Será otro pecado / Y amor por caridad, no quiero

Creio

Creio nos anjos que andam pelo mundo / Creio na deusa com olhos de diamante / Creio em amores lunares com piano ao fundo / Creio nas lendas, nas fadas, nos atlantes / Creio num engenho que falta mais fecundo / De harmonizar as partes dissonantes / Creio que tudo é eterno num segundo / Creio num céu futuro que houve dantes / Creio nos deuses de um astral mais puro / Na flor humilde que se encosta no muro / Creio na carne que enfeitiça o além / Creio no incrível, nas coisas assombrosas / Na ocupação do mundo pelas rosas / Creio que o amor tem asas de ouro. Amén

 

Creo en los ángeles que andan por el mundo / Creo en la diosa con ojos de diamante / Creo en amores lunares con piano al fondo / Creo en leyendas, en hadas, en atlantes / Creo en un talento que engaña más fecundo / Al armonizar las partes disonantes / Creo que todo es eterno en un segundo / Creo en un cielo futuro que ya hubo antes / Creo en los doses de unos astros más puros / En la flor humilde que se apoya en el muro / Creo en la carne que encanta de lejos / creo en lo increíble, en las cosas asombrosas / En la ocupación del mundo por las rosas / Creo que el amor tiene alas de oro. Amen

Através do teu coração

Através do teu coração / passou um barco / Que não pára de seguir sem / ti o seu caminho

 

A través de tu corazón / pasó un barco / Que no para de seguir sin / ti su camino

Como o tempo corre

No céu de estrelas lavado / Pelo luar que beija o chão / Nasce um cinzento azulado / Que me aquece o coração / Como o tempo seca o pranto / Adormece a própria dor / E vejo com desencanto / Passar o tempo do amor / No seu correr tudo leva / Na fúria da tempestade / Se parte nunca mais chega / Chega em seu lugar saudade / Meu Deus como o tempo corre / No tempo do meu viver / Parece que o tempo morre / Mesmo antes de nascer

En el cielo de estrellas lavado / Por la luz de la luna que besa el suelo / Nace un ceniciento azulado / Que me calienta el corazón / Como el tiempo seca el llanto / Adormece el propio dolor / Y veo con desencanto / Pasar el tiempo del amor / En su correr todo se lo lleva / En la furia de la tempestad / Parte pero nunca llega / Llega en su lugar la saudade / Dios mío, como corre el tiempo / En el tiempo de mi vivir / Parece que el tiempo muere / Incluso antes de nacer

Hoje tudo me entristece

Hoje tudo é triste em mim / Como se toda a tristeza / Emanasse do meu peito / Breve presságio do fim / Que me sustenta a certeza / Do coração já desfeito / Hoje tudo me entristece / Tudo ensombra o meu olhar / Mais que ansioso do teu / Mas se em sorte me coubesse / O coração resgatar / Que em teus olhos se perdeu / Hoje a tristeza não deixa / De afundar seus longos traços / No meu rosto descuidado / Pois sem uma simples queixa / Eu vou voltar aos teus braços / Para se cumprir nosso fado

 

Hoy todo me entristece / Como si toda la tristeza / Emanase desde mi pecho / Breve presagio del fin / Que sustenta mi certeza / Del corazón ya deshecho / Hoy todo me entristece / Todo ensombrece mi mirada / Más que ansiosa de la tuya / Pero si en suerte me tocara / Rescatar el corazón / Que en tus ojos se perdió / Hoy la tristeza no deja / De hundir sus largos trazos / En mi rostro descuidado / Pues sin una simple queja / Yo voy a volver a tus brazos / Para que se cumpla nuestro fado

Passos na rua

Passos na rua, quem passa / Quem passa traz o passado / Talvez seja uma ameaça / Ou o silêncio de fado / Passos na rua quem é / É um sonho magoado / É a ira da maré / É a morte dum pecado / Passos na rua ilusão / De quem quer ouvir tais passos / Talvez seja um coração / A gritar os seus cansaços / Passos na rua sentença / Dum fado por inventar / Passos na rua descrença / Deixai os passos passar

 

Pasos en la calle, quien pasa / Quien pasa trae el pasado / Tal vez sea una amenaza / O el silencio del fado / Pasos es en la calle, ¿quién es? / Es un sueño herido / Es la ira de la marea / Es la muerte de un pecado / Pasos en la calle, ilusión / De quien quiere oír tales pasos / Tal vez sea un corazón / Gritando sus cansancios / Pasos en la calle, sentencia / De un fado por inventar / Pasos en la calle, desconfianza / Dejad los pasos pasar

Mouraria

Porque será que não canto / Como canta a cotovia / O meu cantar nem é pranto / É gemer duma agonia / Chora assim meu coração / Tens razão para o fazer / Matou a vida a ilusão / Que não tornas a viver / Sofrer fez-me diferente / Dizes tu e tens razão / Pois não é imponentemente / Que se tem um coração / Ando a cumprir uma pena / Mas crime não cometi / Só sei que ela me condena / A viver longe de ti

 

Por qué será que no canto / Como canta la alondra / Mi cantar ni es llanto / Es el gemido de una agonía / llora así, mi corazón / Tienes razón para hacerlo / Mató la vida una ilusión / Que no vuelves a vivir / Sufrir me hace diferente / Dices tú y tienes razón / Pues no es impunemente / Que se tiene un corazón / Estoy cumpliendo un castigo / Pero no cometí crimen / Sólo sé que ella me condena / A vivir lejos de ti

Fado menor

Os meus olhos são dois círios / Dando luz triste ao meu rosto / Marcado pelos martírios / Da saudade e do desgosto. / Quando oiço bater trindades / E a tarde já vai no fim / Eu peço às tuas saudades / Um padre nosso por mim. / Mas não sabes fazer preces / Não tens saudades nem pranto / Por que é que tu me aborreces / Por que é que eu te quero tanto? / És para meu desespero / Como as nuvens que andam altas / Todos os dias te espero / Todos os dias me faltas.

  

Mis ojos son dos cirios / Dando luz triste a mi rostros / Marcado por los martirios / De saudade y de disgusto / Cuando escucho repicar las campanas / Y la tarde ya toca a su fin / Yo le pido a tus saudades / Un padrenuestro por mí / Pero no sabes rezar / No tienes saudades ni llanto / ¿Por qué tú me aborreces? / ¿Por qué yo te quiero tanto? / Para mi desesperación / Como las nubes que están altas / Todos los días te espero / Todos los días me faltas

Dentro da tempestade

Fico presa na tempestade / Onde não durmo comigo / Há restos de verdade / A que a dor tirou sentido / Caída entre os espaços / Do meu corpo destruído / Já não há restos de verdade / E a dor perdeu sentido / Deixei armas dos meus braços / Larguei roupas que vesti / Deixei ruas onde as pedras / Tatuaram os meus passos / No mar de mãos turvas / Nadavas transparente / Encontramo-nos num gesto / Inteiro e indiferente / Choramos como quem nasce / Escorrendo a saudade / Vens no Sol de madrugada / Como a mão na tempestade

  

Estoy presa en la tempestad / Donde no duermo conmigo / Hay restos de verdad / A la que el dolor quitó el sentido / Caída entre los espacios / De mi cuerpo destruido / Ya no hay restos de verdad / Y el dolor perdió el sentido / Dejé las armas de mis brazos / Tiré las ropas que vestí / Dejé las calles donde las piedras / Tatuaron mis pasos / E el mar de manos turbias / Nadabas transparente / Nos encontramos en un gesto / Entero y diferente / Lloramos como quien nace / Huyendo de la saudade / Vienes en el sol de madrugada / Como la mano en la tempestad

 

Complicidade

Quando chamo por ti mais ninguém ouve / A mais ninguém é dado me entender / És o amor em mim que se dissolve / Na água da minha alma a envelhecer / Sei que o meu pensamento tem uma voz / Que dentro do teu ser se faz ouvir / Assim quando te penso somos nós / Na cumplicidade amante de existir / Então d'olhos fechados num momento / Desfaço esta lonjura entre nós / Por ti mil vezes chamo em pensamento / Em ti mil vezes ouves minha voz

 

Cuando te llamo pero nadie me oye / Y nadie está dispuesto a entenderme / Eres el amor que en mí se disuelve / En el agua de mi alma para envejecer / Sé que mi pensamiento tiene una voz / Que dentro de tu ser se hace oír / Así cuando te pienso somos nosotros / En la complicidad amante de existir / Entonces, con los ojos cerrados, en un momento / Deshago esta lejanía entre nosotros / Te llamo mil veces en mi pensamiento / En ti mil veces oyes mi voz

Ó meu amigo João

Ó meu amigo João / Em que terras te perdeste / Se por nada lá morreste / Meu amigo, meu irmão / De nascença duvidosa / Proíbiram a tua infãncia / Transformaram-te em distãncia / Como braços de alcançar / Foste folha a flutuar / Arrastada p'la corrente / E o teu sangue foi semente / Dos cifrões doutro lugar / Gostavas de ouvir cantar / As modas da nossa terra / E a verdade que ela encerra / No seu jeito popular / Teu corpo de tudo dar / Corre nas veias do mundo / Imenso, fértil, fecundo / Com força de terra e mar / Ponho em ti o recordar / Na agrura da tua morte / Por sobre o sangue a gritar / Que não foi azar nem sorte / E a força do vento norte / Levou teu grito na mão / Meu amigo, meu irmão / Quem forçou a tua sorte

  

Ay, mi amigo João / En qué tierras te perdiste / Si por nada allá moriste / Mi amigo, mi hermano / De nacimiento dudoso / Prohibieron tu infancia / Te transformaron en distancia / Como brazos para tocar / Fuiste hoja que flotaba / Arrastrada por la corriente / Y tu sangre fue simiente / Del dinero de otro lugar / Te gustaba oír cantar / Los sones de nuestra tierra / Y la verdad que ella encierra / En su encanto popular / Tu cuerpo que todo daba / Corre por las venas del mundo / Inmenso, fértil, fecundo / Como fuerza de tierra y mar / Pongo en ti el recuerdo / En la aspereza de tu muerte / Sobre la sangre que grita / Que no fue azar ni suerte / Y la fuerza del viento norte / Llevó tu grito en la mano / Mi amigo, mi hermano / ¿Quién forzó tu suerte?

Venho falar dos meus medos

Senhora eu tenho fé, de encontrar a minha luz / Nessa imensa escuridão / Venho falar dos meus medos / São vossos os meus segredos, que eu partilho em confissão / Senhora há tanto tempo / Que me assaltam tantas dúvidas / Não posso viver assim / Um turbilhão de incertezas, parecem velas acesas / A queimar dentro de mim / Será senhora o destino / Que me estava reservado desde o meu primeiro dia / Que faço ao meu coração / Sofrendo de solidão, na dor que não me alivia

Señora, yo tengo fe de encontrar mi luz / En esa inmensa oscuridad / Vengo a hablar de mis miedos / Son vuestros mis secretos que comparto en confesión / Señora, hace tanto tiempo / Que me asaltan tantas dudas / No puedo vivir así / Un torbellino de incertezas, parecen velas encendidas / Que arden dentro de mí / Será, Señora, el destino / Que me estaba reservado desde mi primer día / ¿Qué le hago a mi corazón / Que sufre de soledad en el dolor que no me alivia?

Nada que devas saber

Vou usar o teu silêncio / Não o vais querer ouvir / A desfazer-me os sonhos / Vou devolver-to e partir / Porque me esgotas num jogo / Naquele que dá as cartas / Não colori a avalanche / A negro e sombra, cores gastas / Se eu morro na tua escolha / Como me deixas fugir / Amarro sonhos e vou / Para onde nunca quis ir / Amar-te assim, querendo tanto / Que fosse igual o teu querer / Faço de conta, por ti / Já nada que devas saber

 

Voy a usar tu silencio / No vas a querer oírlo / Deshaciendo mis sueños / Voy a devolvértelo y partir / Porque me agotas en un juego / En aquel que da las cartas / No coloreé la avalancha / De negro y sombra, colores gastados / Si yo muero por elegirte / Como me dejas huir / Ammaro sueños y me voy / Para donde nunca quise ir / Amarte así, queriendo tanto / Que fuese igual tu querer / Disimulo por ti / Que nada debes saber

Para além da saudade (2007)

1. Os Búzios

2. E Viemos Nascidos Do Mar

3. A Voz Que Conta A Nossa História

4. Águas Do Sul

5. O Fado Da Procura

6. Rosa Cor De Rosa

7. Primeira Vez

8. Não Fui Eu

9. Mapa Do Coração

10. Aguarda-te Ao Chegar

11. Até Ao Fim Do Fim

12. Fado Das Horas Incertas

13. Vaga, No Azul Amplo Solta

14. Velho Anjo

15. A Sós Com A Noite

Os búzios

Havia a solidão da prece no olhar triste / Como se os seus olhos fossem as portas do pranto / Sinal da cruz que persiste, os dedos contra o quebranto / E os búzios que a velha lançava sobre um velho manto / À espreita está um grande amor mas guarda segredo / Vazio tens o teu coração na ponta do medo / Vê como os búzios caíram virados p’ra norte / Pois eu vou mexer o destino, vou mudar-te a sorte / Havia um desespero intenso na sua voz / O quarto cheirava a incenso, mais uns quantos pós / A velha agitava o lenço, dobrou-o, deu-lhe dois nós / E o seu padre santo falou usando-lhe a voz

 

Había soledad de súplica en la mirada triste / Como si sus ojos fuesen las puertas del llanto / Señal de cruz que persiste, los dedos contra el quebranto / Y las caracolas que la vieja lanzaba sobre un viejo manto / A la espera está un gran amor, pero guarda el secreto / Vacío tienes tu corazón al límite del miedo / Mira como las caracolas cayeron vueltas hacia el norte / Pues voy a intervenir en tu destino, voy a cambiarte la suerte / Había una desesperación intensa en su voz / El cuarto olía a incienso, pero puso otros cuantos / La vieja agitaba el pañuelo, lo dobló, hizo dos nudos / Y a su padre santo habló usando su voz

E viemos nascidos do mar

E muito se espantam da nossa brancura entretanto / E muito pasmavam de olhar olhos claros assim / Palpavam as mãos e os braços e outras partes, portanto / Esfregavam de cuspo minha pele para ver se era enfim / Uma tinta ou se era de estampa uma carne tão branca / Vendo assim que era branco o meu corpo e a brancura de então / Extasiam e muito se pasmam de tudo em admiração / E eram os brancos da sombra nascidos do mar pelas naus / Guiados pelos ventos do céu e pelo voo das aves / Eles escondem as suas vergonhas cobertas de estopas / E eram grandes e gordos e baços e enxutos, os pretos / Pelas ventosidades confundem traseiros e bocas / E tapam estes e estas cobram calafetos / E os mais pardos lá vão quase nús, vão ao léu, gabirus / E de tetas até à cintura há mulheres crepitantes / Tão desnudas meneiam na dança o seu corpo dançante / E eram os brancos da sombra nascidos do mar pelas naus / Guiados pelos ventos do céu e pelo voo das aves / E muito se espantam da nossa brancura entretanto

Y se espantan mucho de nuestra blancura entretanto / Y se pasmaban mucho de mirar ojos claros así / Palpaban las manos y los brazos y otras partes por lo tanto / Frotaban con saliva mi piel para ver si era, en fin / Una tinta o si era de estampa una carne tan blanca / Viendo así que era blanco mi cuerpo y la blancura de entonces / Se extasían y se pasman mucho de todo en admiración / Y eran los blancos de la sombra nacidos del mar por las naves / Guiados por el viento del cielo y por el vuelo de las aves / Ellos esconden sus vergüenzas cubiertos de estopa / Y había grandes y gordos y mates y enjutos, los negros / Por las ventosidades confunden traseros y bocas / Y tapan estos y estas cubriéndose con calafate / Y los más pardos van allí casi desnudos, van sin sombrero, gallardos / Y de las tetas hasta las cinturas hay mujeres crepitantes / Menean tan desnudas en la danza su cuerpo danzante / Y eran los blancos de la sombra nacidos del mar por las naves / Guiados por el viento del cielo y por el vuelo de las aves / Y se espantan mucho de nuestra blancura entretanto

A voz que conta a nossa história

Amiga no meu peito, as horas dormem / Num compassar dolente e sossegado / Seduz a minha alma uma voz de homem / Que ao longe entoa triste um triste fado / Como se aquela voz entristecida / Contasse a nossa história a toda a gente / Cada quadra parece ser escolhida / Do amor que quer doer lentamente / E enquanto eu não reclamo a dor dos dias / Em que me afundo a sós nesta memória / O frio das noites frias e vazias / Só cabe a voz que conta a nossa história

 

Amiga, en mi pecho, las horas se duermen / En un acompasarse doliente y sosegado / Seduce mi alma una voz de hombre / Que de lejos entona triste un triste fado / Como si aquella voz entristecida / Contase nuestra historia a toda la gente / Cada párrafo parece ser escogido / Del amor que quiere doler lentamente / Y como yo no reclamo el dolor de los días / En que me sumerjo a solas en esta memoria / El frío de las noches frías y vacías / Sólo cabe la voz que cuenta nuestra historia

Águas do sul

Escurece o azul / Está negro o céu / Águas do sul / Nunca assim choveu / Passar a ponte / Noite serrada / Água da fonte, turva enlameada / Rosário triste nas mãos do crente / Deus guarde a sorte da gente / Esquiva-se a luz dos meus faróis / Passa-me a cruz, vida quanto dóis / Velho sinal curva apertada / Vê-se tão mal, na estrada molhada / Sorriso triste, ai de quem não mente / Deus guarde a sorte, da gente / Cedi aos medos fugi à dor / Por entre os dedos fugiste-me amor / Leve embaraço não fere ninguém / Fundo cansaço reduz o prazer / Que noite triste, penso de repente / Deus guarde a sorte da gente / Deus guarde a sorte da gente / Deus guarde a sorte a sorte da gente

 

Oscurece el azul / Está negro el cielo / Aguas del sur / Nunca llovió así / Pasar el puente / Noche cerrada / Agua de la fuente, turbia enlodada / Rosario triste en las manos del creyente / Dios guarde la suerte de la gente / Huye la luz de mis faroles / Me pasa la cruz, vida, cuánto dueles / Vieja señal, curva cerrada / Se ve tan mal en la carretera mojada / Sonrisa triste, ay de quien no miente / Dios guarde la suerte de la gente / Cedí a los miedos, huí del dolor / Por entre los dedos huiste, mi amor / Leve obstáculo no hiere a nadie / Hondo cansancio reduce el placer / Qué noche triste, pienso de repente / Dios guarde la suerte de la gente / Dios guarde la suerte, la suerte de la gente

Fado da procura

Mas porque é que a gente não se encontra? / No largo da Bica fui te procurar / Campo de Cebolas e eu sei te encontrar / Eu fui mesmo até à casa de fado / Mas tu não estavas em nenhum lado / Mas porque é que a gente não se encontra? / Mas porque é que a gente não se encontra? / Já estou sem saber o que hei de fazer / Se seguir em frente, ai madre de Deus / Se voltar a trás, ai Chiados meus / E o rio diz: que tarde infeliz / Mas porque é que a gente não se encontra? / Mas porque é que a gente não se encontra? / Já estou farta disto, farta de verdade / Vou beber a bica, sentar e pensar / Ver se esta saudade, ai fica ou não fica / E talvez sem quer, não querem lá ver / Sem te procurar te veja passar / Sem te procurar te veja passar

Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / En el Largo da Bica te fui a buscar / En el Campo de Cebolas te voy a encontrar / Yo fui hasta la casa de fado / Pero tú no estabas en ningún lado / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Ya estoy sin saber lo que debo hacer / Si seguir de frente, ay, Madre de Dios / Si volver atrás, ay Chiados míos / Y el río dice: ¡Qué tarde infeliz! / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Pero, ¿por qué la gente no se encuentra? / Ya estoy harta de esto, harta de verdad / Voy a beber al caño, sentarme a pensar / Ver si esta saudade se queda o no se queda / Y tal vez sin querer, no quieran verla allí / Y sin buscarte te vea pasar / Sin buscarte te vea pasar

Rosa cor de rosa

Rosa, rosa cor-de-rosa flor / A florir os meus cuidados / Sobra-me a dor, sobra-te a cor / P'ra cumprir meus fados / Sobra-me a dor, sobra-te a cor / P'ra cumprir meus tristes fados / Rosa, rosa cor-de-rosa traz / A saudade apetecida / Fico-me a trás, roubo-te a paz / Se te roubar a vida / Fico-me a trás, roubo-te a paz / Se te roubo um dia a vida / Rosa, rosa cor-de-rosa enfim / Quando a cor se desvanece / Eu sei de ti, sabes de mim / Quando amor acontece / Eu sei de ti, sabes de mim / Quando amor nos acontece / Rosa, rosa cor-de-rosa tens / No teu pé a sede de água / Não sei que tens, nem de onde vens / Cuida a minha mágoa / Não sei que tens, nem de onde vens / Cuida bem a minha mágoa

 

Rosa, rosa color de rosa, flor / Floreciendo mis cuidados / Me sobra el dolor, te sobra el color / Para cumplir mis fados / Me sobra el dolor, te sobra el color / Para cumplir mis tristes fados / Rosa, rosa color de rosa trae / La saudade apetecida / Me quedo atrás, te robo la paz / Si te robara la vida / Me quedo atrás, te robo la paz / Si te robo un día la vida / Rosa, rosa color de rosa, finalmente / Cuando el color se desvanece / Cuando el amor nos sucede / Rosa, rosa color de rosa tienes / En tu pie la sed de agua / No sé qué tienes, ni de dónde vienes / Cuida de mi amargura / No sé qué tienes, ni de dónde vienes / Cuida bien de mi amargura

Primeira vez

Primeiro foi um sorriso / Depois quase sem aviso / É que o beijo aconteceu / Nesse infinito segundo / Fora de mim e do mundo / Minha voz emudeceu / Ficaram gestos suspensos / E os desejos imensos / Como poemas calados / Teceram a melodia / Enquanto a lua vestia / Nossos corpos desnudados / Duas estrelas no meu peito / No teu meu anjo perfeito / A voz do búzio escondido / Os lençóis ondas de mar / Onde fomos naufragar / Como dois barcos perdidos

 

Primero fue una sonrisa / Después casi sin aviso / Se hizo realidad el beso / En ese infinito segundo / Fuera de mí y del mundo / Mi voz enmudeció / Quedaron gestos suspensos / Y los deseos inmensos / Como poemas callados / tejieron la melodía / En cuanto la luz vestía / Nuestros cuerpos desnudados / Dos estrellas en mi pecho / En el tuyo mi ángel perfecto / La voz de la caracola escondida / Las sábanas olas del mar / Donde fuimos a naufragar / Como dos barcos perdidos

Não fui eu

O Cristo inerte preso à cruz / A luz da vela que o reduz / Á sombra triste na parede entrecortada / Dos lábios solta-se indulgente / A pressa inútil do não crente / Entre palavras que por si não dizem nada / Não fui eu, não fui eu / Não deixei a porta aberta / Não fui eu, não fui eu / Ficou-me a casa deserta / Ah como fugidiu rumor / De passos que no corredor / Induzem na minha alma / A dor da esperança vã / Sinais do tempo a humedecer / A voz que teima em enroquecer / E o corpo dorido pela noite no divã / Não fui eu... / Como esta febre me destroí / Perdido amor quanto me doi / Desceste em mim cruel manto de tristeza / Em cada noite morre o amor / Que a solidão faz-se maior / Mal amanhece e volta o medo que anoiteça

 

El Cristo inerte prendido a la cruz / La luz de la vela que lo reduce / A sombra triste en la pared entrecortada / De los labios se suelta indulgente / La prisa inútil del no creyente / Entre palabras que por sí no dicen nada / No fui yo, no fui yo / No dejé la puerta abierta / No fui yo, no fui yo / Quedó mi casa desierta / Ay, como huyó el rumor / De pasos que en el pasillo / Inducen en mi alma  / El dolor de la esperanza vana / Señales de un tiempo que se humedece / La voz que insiste en enronquecer / Y el cuerpo dolorido por la noche en el diván / No fui yo… / Cómo me destruye esta fiebre / Perdido amor, cuánto me duele / Bajaste a mí, cruel manto de tristeza / En cada noche muere el amor / Que la soledad se hace mayor / Y apenas amanece vuelve el miedo a que anochezca

Mapa do coração

Não há vocábulo maior / Nem força do universo / P'ra traduzir esse verso / Que confunde amor e dor / Albergue de quem é triste / Fortuna do condenado / Que vê no espelho do fado / A alma que em si existe / Queria poder dizer / O que essa voz me diz / Estrela de um dia feliz / Ou de um doce entristecer / Fica-me a louca missão / Desejo mais ousado / De puder cantar num fado / O mapa do coração

  

No hay vocablo mayor / Ni fuerza del universo / Para traducir este verso / Que confunde amor y dolor / Albergue de quien es triste / Fortuna del condenado / Que ve en el espejo del fado / El alma que en sí existe / Quería poder decir / Lo que esa voz me dice / Estrella de un día infeliz / O de un dulce entristecer / Me queda la loca misión / Deseo más osado / De poder cantar en un fado / El mapa del corazón

Aguarda-te ao chegar

Calas-me a voz, voz do olhar / Sinto que o tempo, tarda em chegar / Distante ausente, sinto apertar / O peito ardente por te encontrar / Na minha alma, que anseia urgente / Pelo momento de ter-te presente / Pelo infinito estendo os meus olhos / Num mar de mil desejos, aguarda-te ao chegar / Encho a minha taça vazia com perfumes de poesia / Bebo a saudade amarga e fria e então adormeço ao luar / Calas-me a voz, p'ra lá do tempo / Estrelas que caem por um lamento / Espuma na areia solta no vento / O meu silêncio meu sentimento / Em minha alma que chora vazia / Por um momento se acende a magia / Pelo infinito estende o meu sorriso / Num mar azul de sonhos, acorda-me ao chegar / Encho a minha taça ardente, com incenso doce e quente / Sirvo de beber a alegria que sinto ao ver-te a chegar / Calas-me a voz / Em minha alma que chora vazia / Por um momento se acende a magia / P'lo infinito estende os meus olhos / Um mar de mil desejos aguarda-te ao chegar / Aguarda-te ao cegar

 

Me callas la voz, voz del mirar / Siento que el tiempo, tarda en llegar / Distante ausente, siento acercar / El pecho ausente para encontrarte / En mi alma, que ansía urgente / Por el momento de tenerte presente / Por el infinito extiendo mis ojos / En un mar de mil deseos, te aguarda al llegar / lleno mi copa vacía con perfumes de poesía / bebo la saudade amarga y fría y entonces me adormezco a la luz de la luna / Me callas la voz, más allá del tiempo / estrellas que caen por un lamento / Espuma en la arena suelta en el viento / Mi silencio es mi sentimiento / En mi alma que llora vacía / Por un momento se enciende la magia / Por el infinito extiendo mi sonrisa / En un mar azul de sueños, despiértame al llegar / Lleno mi copa ardiente con incienso dulce y caliente / Sirvo de beber a la alegría que siento al verte llegar / Me callas la voz / En mi alma que llora vacía / Por un momento se enciende la magia / Por el infinito extiendo mis ojos / un mar de mil deseos te espera al llegar / Te espera al llegar

Até ao fim do fim

Então está tudo dito meu amor / Por favor não penses mais em mim / O que é eterno acabou connosco / E este é o principio do fim / Mas sempre que te vir eu vou sofrer / E sempre que te ouvir eu vou calar / Cada vez que chegares eu vou fugir / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Então está tudo dito meu amor / Acaba aqui o que não tinha fim / P'ra ser eterno tudo o que pensamos / Precisava que pensasses mais em mim / P'ra ti pensar a dois é uma prisão / P'ra mim é a única forma de voar / Precisas de agradar a muita gente / Eu por mim só a ti queria agradar / Mas sempre que te vir eu vou sofrer / E sempre que te ouvir eu vou calar / Cada vez que chegares eu vou fugir / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Mas mesmo assim amor eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar / Até ao fim do fim eu vou-te amar

Entonces está todo dicho, mi amor / Por favor, no pienses más en mí / Lo que es eterno acabó con nosotros / Y este es el principio del fin / Pero siempre que te vea voy a sufrir / Y siempre que te escuche voy a callar / Cada vez que llegues yo voy a huir / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Entonces está todo dicho, mi amor / Acaba aquí lo que no tenía fin / Para que fuera eterno todo lo que pensamos / Necesitaba que pensases más en mí / Para ti pensar en dos es una prisión / Para mí es la única forma de volar / Necesitas agradar a mucha gente / Y por mi parte sólo a ti quería agradar / Pero siempre que te vea voy a sufrir / Y siempre que te escuche voy a callar / Cada vez que llegues yo voy a huir / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Pero incluso así, amor, te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar / Hasta el fin del fin yo te voy a amar

Fado das horas incertas

Deixo a porta entreaberta / Aos medos onde me afoite / Bate a meia-noite incerta / De ser mesmo o meio da noite / Tão redondas são as horas / Tão inúteis e tão longas / Minh'alma quanto mais choras / Mais as horas tu me alongas / Só a dor trai o sossego / No rodar desta ansiedade / Quando à saudade me nego / Fingindo não ter saudade

 

Dejo la puerta entreabierta / A los miedos donde me vuelvo valiente / Golpea la media noche insegura / De ser incluso el medio de la noche / Tan redondas son las horas / Tan inútiles y tan largas / Mi alma, cuanto más lloras / Más  las horas tú me alargas / Sólo el dolor trae el sosiego / En el rodar de esta ansiedad / Cuando a la saudade me niego / Fingiendo no tener saudade

Vaga, no azul amplo solta

Vaga, no azul amplo solta / Vai uma nuvem errando / O meu passado não volta / Não é o que estou chorando / O que choro é diferente / Entra mais na alma da alma / Mas como, no céu sem gente / A nuvem flutua calma / E isto lembra uma tristeza / E a lembrança é que entristece / Dou à saudade a riqueza / De emoção que a hora tece / Mas, em verdade, o que chora / Na minha amarga ansiedade / Mais alto que a nuvem mora / Está para além da saudade / Não sei o que é nem consinto / À alma que o saiba bem / Visto da dor com que minto / Dor que a minha alma tem

 

Vaga, en el azul amplio suelta / Va una nube errando / Mi pasado no vuelve / No es lo que estoy llorando / Lo que lloro es diferente / Entra más en el alma del alma / Pero como, en el cielo sin gente / La nube fluctúa calma / Y esto recuerda una tristeza / Y es el recuerdo quien entristece / Doy a la saudade la riqueza / De emoción que la hora teje / Pero, en verdad, lo que llora / En mi amarga ansiedad / Más alto de lo que la nube mora / Está más allá de la saudade / No sé lo que es ni consiento / Al alma que lo sabe bien / Visto del dolor con que miento / Dolor que mi alma tiene

Velho anjo

Entre as plumas de um velho anjo / Roça a sombra na asa ferida / A inocência das mãos no peito e o beijo / Salva-me a vida / Entre os astros d'um céu azul / O cristal de uma voz esquecida / Descuidados os pés virados ao sul / Salvam-me a vida / Não há luz que ilumine / A noite intensa / Da ausência em mim suspensa / Que a existência não flui entre os dedos / Que os meus segredos são os temores da minha alma assustada / Que procura dar-se ao desejo suspenso em ti / Entre as plumas de um velho anjo / Roça a sombra na asa ferida / A inocência das mãos no peito e o beijo / Salva-me a vida / Entre os astros d'um céu azul / O cristal de uma voz esquecida / Descuidados os pés virados ao sul / Salvam-me a vida

  

Entre las plumas de un viejo ángel / Roza la sombra en el ala herida / La inocencia de las manos en el pecho y el beso / Me salva la vida / Entre los astros de un cielo azul / El cristal de una voz olvidada / Descuidados los pies orientados al sur / Me salvan la vida / No hay luz que ilumine / La noche intensa / De ausencia en mí suspensa / Que la existencia no fluye entre los dedos / Que mis secretos son los temores de mi alma asustada / Que intenta darse al deseo suspendido en ti / Entre las plumas de un viejo ángel / Roza la sombra en el ala herida / La inocencia de las manos en el pecho y el beso / Me salva la vida / Entre los astros de un cielo azul / El cristal de una voz olvidada / Descuidados los pies orientados al sur / Me salvan la vida

A sós com a noite

A luz que se arredonda / Alongando uma sombra sozinha / A saudade a bater / Uma dor que ao doer é só minha / Um desvio inquieto / Um olhar indiscreto na esquina / Um rapaz de blusão / Arrastando pela mão a menina / Passa um velho a pedir / Incapaz de sorrir pelos passeios / Um travesti que quer / Assumir-se mulher sem receios / O alarme de um carro / Um cigarro apagado indulgente / Um cheiro inusitado / O semáforo fechado para a gente / Sobe o fado de tom / E o fadista que é bom improvisa / Estão em saldos sapatos / Desce o preço dos fatos de cor lisa / Um eléctrico cheio / Uma voz de permeio vai chover / Bate forte a saudade / Como é grande vontade de te ver

 

La luz se redondea / Alargando una sombra sola / La saudade golpea / Un dolor que al doler es sólo mío / Un desvío inquieto / Una mirada indiscreta en la esquina / un muchacho con un blusón / Arrastrando por la mano a una niña / Pasa un viejo pidiendo / Incapaz de sonreír por los paseos / Un travestí que quiere / Asumirse como mujer sin recelos / El silbato de un carro / Un cigarro apagando indulgente / Un olor inusitado / El semáforo cerrado para la gente / Sobre el fado de tono / El fadista que es bueno improvisa / Hay zapatos de rebajas / Baja el precio de las ropas de color liso / Un tranvía lleno / Una voz en medio va a llover / Golpea fuerte la saudade / Como es grande el deseo de verte

Coliseu (2008)

1. Lavava No Rio Lavava

2. Os Meus Olhos São Dois Círios

3. Ó Meu Amigo João

4. Sou Do Fado, Sou Fadista

5. Fado Das Horas Incertas

6. O Que Foi Que Aconteceu

7. Venho Falar Dos Meus Medos

8. Porque Teimas Nesta Dor

9. O Fado Da Procura

10. Primeira Vez

11. E Viemos Nascidos Do Mar

12. Mapa Do Coração

13. Até Ao Fim Do Fim

14. Rosa Cor De Rosa

15. Os Búzios

Lavava no rio lavava

En el CD Guarda-me a vida na mão (2003)

Os meus olhos são dois círios

Os meus olhos são dois círios / Dando luz triste ao meu rosto / Marcado pelos martírios / Da saudade e do desgosto / Quando oiço bater trindades / E a tarde já vai no fim / Eu peço às tuas saudades / Um Padre-Nosso por mim / Mas não sabes fazer preces / Não tens saudade nem pranto / Porque é que tu me aborreces? / Porque é que eu te quero tanto? / Mas para meu desespero / Como as nuvens que andam altas / Todos os dias te espero / Todos os dias me faltas

   

Mis ojos son dos cirios / Dando luz triste a mi rostro / Marcado por los martirios / De saudade y de disgusto / Cuando escucho repicar las campanas / Y la tarde toca ya a su fin / Yo suplico a tus saudades / Un padrenuestro por mí / Pero no saber pronunciar rezos / No tienes saudades ni llanto / ¿Por qué es que tú me aborreces? / ¿Por qué es que yo te quiero tanto? / Pero para mi desesperación / Como las nubes que van altas / Todos los días te espero / Todos los días me faltas

 

O meu amigo João

En el CD Aconteceu (2004)

Sou do fado, eu sou fadista

En el CD  Guarda-me a vida na mão (2003)

En el CD Aconteceu (2004)

O que foi que aconteceu

En el CD  Para além da saudade (2007)

Fado das horas incertas

En el CD Guarda-me a vida na mão (2003)

Porque teimas nesta dor

En el CD  Aconteceu (2004)

Venho falar dos meus medos

En el CD Para além da saudade (2007)

Rosa cor de rosa

En el CD Para além da saudade (2007)

Até ao fim do fim

En el CD Para além da saudade (2007)

Mapa do coração

En el CD Para além da saudade (2007)

E viemos nascidos do mar

En el CD Para além da saudade (2007)

Primeira vez

En el CD  Para além da saudade (2007)

O fado da procura

Os búzios

En el CD Para além da saudade (2007)

Leva-me aos fados (2009)

1. Leva-me aos fados

2. Como uma nuvem no céu

3. Por minha conta

4. A penumbra

5. Caso arrumado

6. Talvez depois

7. Rumo ao Sul

8. Fado das águas

9. Fado vestido de fado

10. Crítica da razão pura

11. De quando em vez

12. Fado das mágoas

13. Águas passadas

14. Que dizer de nós

15. Não é um fado normal

Leva-me aos fados

Chegaste a horas / Como é costume / Bebe um café / Que eu desabafo o meu queixume / Na minha vida / Nada dá certo / Mais um amor / Que de findar me está tão perto / Leva-me aos fados / Onde eu sossego / As desventuras do amor a que me entrego / Leva-me aos fados / Que eu vou perder-me / Nas velhas quadras / Que parecem conhecer-me / Dá-me um conselho / Que o teu bom senso / É o aconchego de que há tempos não dispenso / Caí de novo, mas quero erguer-me / Olhar-me ao espelho e tentar reconhecer-me

  

Llegaste a la hora / Como de costumbre / Bebe un café / Que yo alivio mi queja / En mi vida / Nada está seguro / Sólo un amor / Que está tan cerca de acabar / Llévame a los fados / Donde yo calmo / Las desventuras del amor al que me entrego / Llévame a los fados / Que voy a perderme / En las viejas estrofas / Que parecen conocerme / Dame un consejo / Que tu buen juicio / Es el amparo del que hace tiempo no dispongo / Caí de nuevo, pero quiero levantarme / Mirarme al espejo e intentar reconocerme

Como uma nuvem no céu

Dizem as crenças, as leis, as sentenças / Lê-se em anúncios, na palma da mão / Como uma nuvem no céu / O nosso amor não tem solução / Dizem os sábios, os lábios, os olhos / Vem em jornais e revistas que li / Como uma nuvem no céu / O nosso amor já não passa daqui / Mentira, como uma nuvem no céu / Ou como um rio que corre para o mar / Também eu corro para ti / Isso nunca irá mudar / Dizem os livros, os astros, a rádio / Vem nos horóscopos, nos editais / Como uma nuvem no céu / O nosso amor já não dura mais / Dizem as folhas do chá e as notícias / Dizem as fontes bem informadas / Como uma nuvem no céu / O nosso amor tem as horas contadas / Dizem os sonhos, as lendas, a história / Vem num artigo, saiu num decreto / Como uma nuvem no céu / O nosso amor carece de afecto / Dizem os homens, as fadas, os fados / E vem o código da nossa estrada / Como uma nuvem no céu / O nosso amor não vai dar em nada

Lo dicen las creencias, las leyes, las sentencias / Se lee en anuncios, en la palma de la mano / Como una nube en el cielo / Nuestro amor no tiene solución / Lo dicen los sabios, los labios, los ojos / Viene en periódicos y revistas que leí / Como una nube en el cielo / Nuestro amor ya no pasa de aquí / Mentira, como una nube en el cielo / O como un río que corre hacia el mar / También yo corro hacia ti / Eso nunca cambiará / Lo dicen los libros, los astros, la radio / Viene en los horóscopos, en los edictos / Como una nube en el cielo / Nuestro amor ya no durará más / Lo dicen las hojas de té y las noticias / Lo dicen fuentes bien informadas / Como una nube en el cielo / Nuestro amor tiene las horas contadas / Lo dicen los sueños, las leyendas, la historia / Viene en un artículo, salió en un decreto / Como una nube en el cielo / Nuestro amor carece de afecto / Lo dicen los hombres, las hadas y los fados / Y viene el código de nuestra carretera / Como una nube en el cielo / Nuestro amor no va a quedar en nada

Por minha conta

Fiquei por minha conta / Mercê dum passo incerto / A culpa em mim se apronta / Ronda-me a alma por perto / Fiquei num olhar fundo / Perdido não sei onde / Só sei ceder-me ao mundo / Onde o meu ser se esconde / A noite é fria / Nebulosa bruma / Que me seguia / A parte nenhuma / Tudo é vazio / Na mão fechada / Cerra-se o frio / Não deu por nada / Fiquei ao fim de tudo / Num tudo sem ter fim / E a voz dum grito mudo / Anseia saber de mim

  

Por mi parte me quedé / A merced de un paso incierto / La culpa en mí se prepara / Me ronda el alma de cerca / Me quedé en una mirada profunda / Perdida no sé dónde / Sólo sé cederme al mundo / Donde mi amor se esconde / La noche es fría / Nebulosa bruma / Que me seguía / A ninguna parte / Todo es vacío / En la mano cerrada / Se cierra el frío / No se enteró de nada / Me quedé en el fin  de todo / En un todo que no tiene fin / Y la voz de un grito mudo / Ansía saber de mí

A penumbra

Uma noite em claro estou, eu não sei rezar / Pensamento inútil vou tentar-me anular / Fiquei triste, triste sou, eu não sei rezar / Vem que a alma se afunda / Nesta imensa penumbra / Que a noite me está morrendo / Que a noite me está morrendo / Minha noite um brilho tem, um sinal plebeu / Não tenho malícia mãe, o discuido é teu / O amor não se nega nem a quem nega o seu / Uma noite em claro estou a saber de mim / À flor da minh'alma sou princípio do fim / Quem me prendeu, quem me amou / Não cuidou de mim

 

Paso la noche en blanco, y no sé rezar / Voy a intentar anular un pensamiento inútil / Me quedé triste, triste soy, yo no sé rezar / Ven, que el alma se hunde / En esta inmensa penumbra / Que la noche me está muriendo / Que la noche me está muriendo / Mi noche tiene un brillo, una señal plebeya / No tengo malicia, madre; el descuido es tuyo / El amor no se niega ni a quien niega el suyo / Paso una noche en blanco sin saber de mí / De la flor de mi alma soy principio del fin / Quien me retuvo, quien me amó / No cuidó de mí

 

Caso arrumado

Não te via há quase um mês / Chegaste e mais uma vez / Vinhas bem acompanhado / Sentaste-te à minha mesa / Como quem tem a certeza / Que somos caso arrumado / Ela não me queria ouvir / Mas tu pediste a sorrir / O nosso fado preferido / Fiz-te a vontade, cantei / E quando à mesa voltei / Ela já tinha saído / Não é a primeira vez / Que começamos a três / Eu vou cantar e depois / O nosso fado que eu canto / É sempre remédio santo / Acabamos só nós dois / Eu sei que tu vais voltar / P'ra de novo eu te livrar / De um caso sem solução / Vou cantar o nosso fado / Fica o teu caso arrumado / O nosso caso é que não

 

 

No te veía desde hace casi un mes / Llegaste una vez más / Venías bien acompañado / Te sentaste a mi mesa / Como quien tiene la seguridad / De que somos caso perdido / Ella no me quería oír / Pero tú pediste sonriendo / Nuestro fado preferido / Te di el gusto, lo canté / Y cuando volví a la mesa / Ella ya había salido / No es la primera vez / Que comenzamos a tres / Voy a cantar y después / Nuestro fado que yo canto / Es siempre remedio santo / Acabamos sólo nosotros dos / Yo sé que tú vas a volver / Para librarte de nuevo / De un caso sin solución / Voy a cantar nuestro fado / Queda tu caso perdido / Nuestro caso en cambio no

Talvez depois

Deixei de mim as frases que trocámos / Os beijos e o tédio de os não ter / Sem querer nós dois cegámos / Sem querermos ver / As roupas e os livros não os trouxe / Que se envelheçam cobertos de pó / Por querermos que assim fosse / Deixo-te só / Recuso a sombra, triste véu sobre minh'alma / Quero-me longe e sem temores fujo de mim / Esmorece o dia, cai a noite e não se acalma / O querer saber qual a razão de ver-me assim / Não sei ser razoável nem te espero / No tempo que pediste p'ra nós dois / Amar-te assim não quero / Talvez depois / Marcaste em mim a dúvida cinzenta / Do sentimento que te unia a mim / Sabê-lo não me alenta / Melhor o fim / Palavras, só palavras que como alento / Seduzem a minh'alma a querer-te tanto / Atrais-me o pensamento como um quebranto

  

Dejé de mí las frases que cambiamos / Los besos y el tedio de no tenerlos / Sin querer nosotros dos nos cegamos / Sin querer ver / Las ropas y los libros no los traje / Que envejezcan cubiertos de polvo / Porque quisimos que así fuese / Te dejo solo / Reniego de la sombra, triste voz sobre mi alma / Me quiero lejos y sin temores huyo de mí / Agoniza el día, cae la noche y no se serena / El querer saber cuál es la razón de verme así / No sé ser razonable ni te espero / En el tiempo que pediste para nosotros dos / No quiero amarte así / Quizás después / Señalaste en mí la duda cenicienta / Del sentimiento que te unía a mí / Saberlo no me alienta / Mejor el fin / Palabras, sólo palabras que con aliento / Seducen mi alma para que te quiera / Me atraes el pensamiento como un quebranto

 

Rumo ao Sul

Estou na estrada p'ra onde eu já não quero ir / No escritório esta tarde foi tudo p'ra me deprimir / A buzina apressada de um carro que me quer passar / Na portagem um rosto indiferente diz-me para pagar / Rumo ao sul, sem amor, devagar / O meu sonho faz-se ao mar / Seu amor rumo ao sul / O meu céu perdeu o azul / Volto as costas às luzes brilhantes da cidade mãe / Sou sombra impiedosa do apego a quem já não se tem / Sei que ao fim desta estrada há uma casa que suponho ter / E a vontade indomável que teima em me querer perder

   

Estoy en el camino por donde ya no quiero ir / En la oficina esta tarde todo fue deprimente / La bocina apresurada de un coche que me quiere adelantar / En el peaje un rostro indiferente me dice que pague / Rumbo al sur, sin amor, despacio / Mi sueño se hace al mar / Su amor rumbo al sur / Mi cielo perdió el azul / Vuelvo la espalda a las luces de la metrópoli / Soy sombra cruel del apego a quien ya no se tiene / Sé que al final de este camino hay una casa que supongo tener / Y el deseo indomable que se empeña en querer perderse

 

 

Fado das águas

Dentro do rio que corre / No leito da minha voz / Há uma saudade que morre / Dentro do rio que corre / Em lágrimas até á foz / Dentro do mar mais profundo / Reflectido em meu olhar / Não pára o pranto um segundo / Dentro do mar mais profundo / No meu rosto a desmaiar / Dentro das águas nascentes / Das fontes que a alma encanta / Num crescendo de correntes / Dentro das águas nascentes / Correm mágoas p'la garganta / Dentro da chuva caída / Como franjas do meu fado / Eu encharco a minha vida / Dentro da chuva caída / Meu canto é d'aguas lavado / Eu encharco a minha vida / Dentro da chuva caída / Como franjas do meu fado

  

Dentro del río que corre / En el lecho de mi voz / Hay una saudade que muere / Dentro del río que corre / En lágrimas hasta la desembocadura / Dentro del mar más profundo / Reflejado en mi mirada / No para el llanto un segundo / Dentro del mar más profundo / En mi rostro que desmaya / Dentro de las aguas que nacen / De las fuentes que el alma encanta / En un crecer de corrientes / Dentro de las aguas que nacen / Corren dolores por la garganta / Dentro de la lluvia caída / Como franjas de mi fado / Yo encharco mi vida / Dentro de la lluvia caída / Mi canto está lavado por aguas / Yo encharco mi vida / Dentro de la lluvia caída / Como franjas de mi fado

Fado vestido de fado

Se fado é miséria e dor / Se é ciúme, se é pecado / Que serás tu, meu amor / Todo vestido de fado / Talvez sejas o quebranto / Meu pranto, em horas tardias / Rosário de avé-marias / Que rezo quanto te canto / Pois fico neste entretanto / Dum acorde desenhado / Porque te chamo num fado / Te canto com tal fervor / Se fado é tristeza e dor / Se é ciúme se é pecado / Os meus sentidos dispersos / Não me conseguem dizer / Razões da minh'alma ser / Refúgio de tantos versos / Mistério dos universos / Pra onde foi atirado / Este desejo, rogado / Na minha voz em clamor / Que serás tu, meu amor / Todo vestido de fado

   

Si el fado es miseria y dolor / Si es celos, si es pecado / Que serás tú, mi amor / Todo vestido de fado / Tal vez seas el quebranto / Mi llanto en horas tardías / Rosario de avemarías / Que rezo cuando te canto / Me quedo en este entretanto / De un acorde dibujado / Porque te llamo en un fado / Te canto con tal fervor / Si el fado es tristeza y dolor / Si es celos, si es pecado / Mis sentidos dispersos / No me consiguen decir / Las razones de que mi alma sea / Refugio de tantos versos / Misterio de los universos / Hacia donde fui arrojado / Este deseo rogado / Por mi voz en un clamor / Qué serás tú, mi amor / Todo vestido de fado

 

Crítica da razão pura

Porque quiseste dar nome / Ao gesto que não se diz / Ao jeito de ser feliz / Porque quiseste dar nome? / De que te vale saber / De que é feita uma paixão / As estradas de um coração / De que te vale saber? / Porque quiseste pensar / Aquilo que apenas se sente / O que a alma luz e gente / Porque quiseste pensar? / Diz onde está a razão? / Daquilo que não tem juízo / Que junta o choro e o riso / Diz onde está a razão / Porque quiseste entender / O fogo que fomos nós? / Meu amor, se estamos sós / Foi porque quiseste entender

  

¿Por qué quisiste dar nombre / Al gesto que no se dice / Al hecho de ser feliz / Por qué quisiste dar nombre? / ¿De qué te vale saber / De qué está hecha una pasión / Las sendas del corazón / De qué te vale saber? / ¿Por qué quisiste pensar / Aquello que apenas se siente / Lo que es alma, luz y gente / Por qué quisiste pensar? / Di, ¿dónde está la razón / De aquello que no tiene juicio / Que une la risa y el llanto? / Di, ¿dónde está la razón? / ¿Por qué quisiste entender / El fuego que nosotros fuimos? / Mi amor, si estamos solos / Fue porque quisiste entender

De quando em vez 

De quando em vez lá te entregas / Nesse sim, em que te negas / Ou se não, que me é tanto / Não te pergunto os porquês / Deste amar, de quando em vez / Ou talvez de vez em quando / Quase sempre de fugida / Como criança escondida / Nosso amor brinca com o fogo / Se queremos dizer adeus / Porque dizemos meu Deus / Simplesmente um até logo / E o enleio continua / À mercê de qualquer lua / Que nos comanda os sentidos / E a paixão que não tem siso / Deixa-nos sem pré-aviso / De corpo e alma despidos / Por teimosia, ou loucura / Algemamos a ventura / Do amor, em nós, reencarnando / Prefiro, como tu não vês / Amar-te de quando em vez / Ou talvez de vez em quando

   

De cuando en vez te entregas / En ese sí en que te niegas / O si no, que me es tanto / No te pregunto los porqués / De este amar, de cuando en vez / O tal vez de vez en cuando / Casi siempre de huida / Como criatura escondida / Nuestro amor juega con fuego / Si queremos decir adiós / Por qué decimos, mi Dios / Simplemente un hasta luego / Y el enredo continúa / A merced de cualquier luna / Que nos domina los sentidos / Y la pasión que no tiene juicio / Nos dejar sin previo aviso / De cuerpo y alma desnudos / Por obstinación, o locura / Esposados por ventura / Del amor, en nosotros reencarnado / Prefiero, como tú no ves / Amarte de cuando en vez / O tal vez de vez en cuando

 

Fado das mágoas

As mágoas não me doem, não são mágoas / No plano da minh'alma já não moram / Se as águas se evaporam, não são águas / São etéreas lembranças do que foram / O pranto que então frágil não contive / Do cimo dos meus olhos se lançou / Que de tanto chorar não mais o tive / Nem a última das lágrimas me ficou / Não deitei fora as dores, mas hoje trago-as / À beira do meu ser de ti deserto / O que vês nos meus olhos não são mágoas / São apenas dum amor que não deu certo

   

Las amarguras no me duelen, no son amarguras / En el plano de mi alma ya no moran / Si las aguas se evaporan, no son aguas / Son etéreos recuerdos de lo que fueron / El llanto que entonces frágil no contuve / Del extremo de mis ojos se lanzó / Que de tanto llorar no lo tuve más / Ni la última de las lágrimas me quedó / No dejé fuera los dolores, hoy los traigo / En el extremo de mi ser desierto de ti / Lo que ves en mis ojos no son amarguras / Apenas son de un amor que no se entregó

 

Águas passadas

Sei que os dias hão-de dar-me a paz que eu quero / Sei que as horas hão-de ser menos pesadas / E que as noites em secreto desespero / Hão-de ser recordações, águas passadas / Sei que tudo tem um fim, e o fim de tudo / É o tudo que me resta por viver / E o teu olhar inquieto, onde me iludo / É o desvio da minh’alma a se perder / Sei que sempre que te sei em outros braços / Há um punhal a atravessar todo o meu ser / Os meus olhos a alongarem-se num traço / São o espelho da minh’alma a não querer ver / Sei no entanto, que há uma luz no horizonte / Que antevejo, entre lágrimas resignadas / Que esta história, seja a história onde se conte / O que um dia em mim serão águas passadas

  

Sé que los días me darán la paz que espero / Sé que las horas serán menos pesadas / Y que por las noches en secreto me desespero / Serán recuerdos, aguas pasadas / Sé que todo tiene un fin, el fin de todo / Es el todo que me queda por vivir / Y tu mirara inquieta, donde me ilusiono / es el desvío de mi alma para perderse / Sé que siempre que te sé en otros brazos / Hay un puñal que atraviesa todo mi ser / Mis ojos que se alargan en un trazo / Son el espejo de mi alma que no quiere ver / Sé, sin embargo, que hay una luz en el horizonte / Que preveo entre lágrimas resignadas / Que esta historia sea la historia en que se cuente / Lo que un día en mí serán aguas pasadas

 

Que dizer de nós

A sombra ensombra-me os dias / Num divagar lento / As mãos dobradas vazias / Por sobre o próprio lamento / Que dizer de nós amor? / Sentam-se as horas / Rodopiam os segundos / Na perseguição de nós / Como abismo escuro e fundo / Que atrai-me assim o ser e a voz / Não é mais do que um perdido / Lamento atroz / Perdidos olhos agueiam / Olham sem ver, cegos / Redondas frases anseiam / Fazer-se voz eu nego / Que dizer de nós amor? / Tudo se oculta / Tudo é estreito e estreita em nós / A margem da culpa / Como a sombra a que me dei / Que atrai-me assim o ser e a voz / Não é mais do que um pedido / Lamento atroz

   

La sombra ensombrece mis días / En un divagar lento / Las manos dobladas y vacías / Sobre su propio lamento / ¿Qué decir de nosotros, amor? / Se sientan las horas / Ruedan los segundos / En nuestra persecución / Como abismo oscuro y profundo / Que me atrae el ser y la voz / No es más que un perdido / Lamento atroz / Perdidos ojos inundan / Miran sin ver, ciegos / redondas frases ansían / Hacerse voz que niego / ¿Qué decir de nosotros, amor? Todo se oculta / Todo es estrecho y se estrecha en nosotros / Al margen de la culpa / Como la sombra a la que me entregué / Que me atrae así el ser y la voz / No es más que un perdido / Lamento atroz

 

Não e um fado normal

Olhas p'ra mim com esse ar reservado / A estoirar pelas costuras / Nem sei se estou em Lisboa / Será que é Tóquio ou Berlin? / Tu não me olhes assim! / Porque o teu olhar tem ópio / Tem quebras nos equinócios / Pitadas de gergelim / Mas se isto é fado / Ponho o gergelim de lado / Vou buscar o alecrim / E tu sempre a olhar p'ra mim / Como se alecrim aos molhos / Atraíssem os meus olhos / Não tenho nada com isso / Alguém que quebre este enguiço / Que eu não respondo por mim / E já estou, quase a trocar o mal pelo bem e o bem pelo mal / Se isto é fado, não é um fado normal / A trocar, o mal pelo bem e o bem pelo mal / Não é um fado normal / Vou por lugares nunca dantes visitados / E há que ter alguns cuidados / Porque bússola não há / E baralham-se os sentidos / Se andamos ao Deus-dará / Sem sentinelas nos olhos / Vou confiar no ouvido / E nada vai estar perdido / Mas se isto é fado / Vou entristecer o quadro / P'ra tom de cinza acordado / Que eu não quero exagerar / No meio do nevoeiro / Teimo em ver o teu olhar / Que sei não ser derradeiro / Alguma coisa se solta / Que talvez não tenha volta

 

Me miras con ese aire reservado / Que revienta por las costuras / Ni sé si estoy en Lisboa / ¿Será que es Tokio o Berlín? / ¡No me mires así! / Que tu mirada tiene opio / Tiene restos de equinoccios / Semillas de ajonjolí / Pero si esto es fado / Pongo el ajonjolí de lado / Y voy a buscar romero / Y tú mirarás siempre hacia mí / Como si el romero en ramos / Atrajesen mis ojos / Con eso no tengo nada / Alguien que rompa este mal augurio / Que yo no respondo por mí / Y ya estoy, casi cambiando el mal por bien y el bien por mal / Si esto es fado, no es un fado normal / Que yo no respondo por mí / Cambiando el mal por bien y el bien por mal / No es un fado normal / Voy por lugares nunca visitados antes / Y hay que tener algunos cuidados / Porque no hay guía / Y los sentidos se embarullan / Si andamos a la buena de Dios / Sin centinelas en los ojos / Voy a confiar en el oído / Y nada va a perderse / Pero si esto es fado / Voy a entristecer el cuadro / Con el color de ceniza acordado / Que no quiero exagerar / En medio de la nevada / Me empeño en ver tu mirada / Que sé no será la última / Alguna cosa se suelta / Que tal vez no tenga vuelta

Desfado (2012)

1. Desfado

2. Amor afoito

3. Até ao verão

4. Despiu a saudade

5. A case of you

6. E tu gostavas de mim

7. Havemos de acordar (featuring Tim Ries)

8. A fadista

9. Se acaso um anjo viesse

10. Fado alado

11. A minha estrela

12. Thank You

13. Como nunca mais

14. Com a cabeça nas nuvens

15. O espelho de Alice

16. Dream of Fire(featuring Herbie Hancock)

17. Quando o sol espreitar de novo

Desfado

Quer o destino que eu não creia no destino / E o meu fado é nem ter fado nenhum / Cantá-lo bem sem sequer o ter sentido / Senti-lo como ninguém, mas não ter sentido algum / Ai que tristeza, esta minha alegria / Ai que alegria, esta tão grande tristeza / Esperar que um dia eu não espere mais um dia / Por aquele que nunca vem e que aqui esteve presente / Ai que saudade / Que eu tenho de ter saudade / Saudades de ter alguém / Que aqui está e não existe / Sentir-me triste / Só por me sentir tão bem / E alegre sentir-me bem / Só por eu andar tão triste / Ai se eu pudesse não cantar "ai se eu pudesse" / E lamentasse não ter mais nenhum lamento / Talvez ouvisse no silêncio que fizesse / Uma voz que fosse minha cantar alguém cá dentro / Ai que desgraça esta sorte que me assiste / Ai mas que sorte eu viver tão desgraçada / Na incerteza que nada mais certo existe / Além da grande incerteza de não estar certa de nada

Quiere el destino que yo no crea en el destino / Y mi fado es no tener fado ninguno / Cantarlo bien sin siquiera haberlo sentido / Sentirlo como nadie, pero sin tener sentido alguno / Ay, qué tristeza esta gran alegría mía / Ay, qué alegría de esta tristeza tan grande / Esperar que un día yo no espere más un día / Por aquel que nunca viene y que aquí estuvo presente / Ay, qué saudade / Que tengo de tener saudade / Saudade de tener a alguien / Que está aquí pero no existe / Sentirme triste / Sólo por sentirme tan bien / Y alegre sentirme bien / Sólo por estar tan triste / Ay, si yo pudiese no cantar: “ay, si yo pudiese” / Y lamentase no tener ningún lamento más / Tal vez escuchase en el silencio que se hiciese / Una voz que fuese mía cantando a alguien aquí dentro / Ay, qué desgracia, esta suerte que me asiste / Ay, más que suerte que yo viva tan desgraciada / En la incerteza de que nada más cierto existe / Más allá de la incerteza de no estar segura de nada

Amor afoito

Dou-te o meu amor / Se mo souberes pedir, tonto / Não me venhas com truques, pára / Já te conheço bem demais / Dou-te o meu amor / Sem qualquer condição, por ora / Mas terás que provar que vales / Mais que o que já mostraste ser / Se me souberes cuidar / Já sei teu destino / Li ontem a sina / A sorte nos rirá, amor / Se quiseres arriscar / Não temas a vida / Amor, este fogo / Não devemos temer / Dou-te o meu amor / Em troca desse olhar doce / Não resisto e tu tão bem sabes / Tenho raiva de assim ser / Tudo em mim amor / É teu, podes tocar, não mordo / Sabes bem que não minto, tonto / Meu mal é ter verdade a mais

  

Te doy mi amor / Si me lo supieras pedir, tonto / No me vengas con triquiñuelas, detente / Ya te conozco demasiado bien / Te doy mi amor / Sin ninguna condición, por ahora / Pero tendrás que demostrar qué vales/ Más de lo que ya mostraste ser / Si me supieras cuidar / Ya sé tu sino / Leí ayer el destino / La suerte nos sonreirá, amor / Si te quisieras arriesgar / No temas a la vida / Amor, este fuego / No debemos temerlo / Te doy mi amor / A cambio de esa mirada dulce / No me resisto y tú lo sabes tan bien / Tengo rabia de ser así / Todo en mí, amor / Es tuyo, puedes tocar, no muerdo / Sabes que no miento, tonto / Mi mal es tener verdad de sobra

Até o verão

Deixei na primavera o cheiro a cravo / Rosa e quimera que me encravam na memória  / Que inventei / E andei como quem espera / Pelo fracasso contra mazela em corpo de aço / Nas ruelas do desdém / E a mim que importa se é bem ou mal / Se me falha a cor da chama a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou não / Que me calhe a vida / Insane e vossa em boda / Até ao verão / Deixei na primavera o som do encanto / Riça promessa e sono santo / Já não sei o que é dormir bem / E andei pelas favelas / Do que eu faço / Ora tropeço em erros crassos / Ora esqueço onde errei / E a mim que importa / Se é bem ou mal / Se me falha a cor da chama a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou não / Que me calhe a vida insane e vossa em boda / Até ao verão / E a mim que importa / Se é bem ou mal / Se me falha a cor da chama a vida toda / É-me igual / Vi sem volta queira eu ou não / Que me calhe a vida insane e vossa em boda / Até ao verão / Deixei na primavera o som do encanto

 

Dejé en la primavera el aroma a clavel / Rosa y quimera que se me clava en la memoria / Que inventé / Y anduve como quien espera / El fracaso contra la herida en un cuerpo de acero / En las callejuelas del desdén / Y a mí qué me importa si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Hasta el verano / Dejé en la primavera el sonido del encanto / Áspera promesa y sueño santo / Ya no sé lo que es dormir bien / Y anduve por las favelas / De lo que hago / Ahora tropiezo en errores macilentos / Ahora me olvido de en qué erré / Y a mí qué me importa / Si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Hasta el verano / Y a mí qué me importa / Si está bien o mal / Si me falla el color de la llama en toda la vida / Me da igual / Vine sin regreso, lo quiera yo o no / Demente y tuya en matrimonio / Dejé en la primavera el sonido del encanto

Despiu a saudade

Despiu a saudade depois do jantar / Num prato já frio de tanto esperar / Aquele que bebe nos tascos da vida / Rodadas de amantes de tara perdida / E chega tão cheio de nada p’ra dar / Sacudiu o pó desse amor primeiro / Num canto guardado do seu coração / Aquele retrato parado no tempo / Que morde por fora, magoa por dentro / Num corpo vazio de tanta ilusão / Mas de repente como um sol depois da chuva / Surgiu a noite transformada em alvorada / Vai p’ró espelho, faz-se bonita / Lábios vermelhos, corpo de chita / Vestido na pressa de quem sai já atrasada / Brilho nos olhos, ar de menina / Livre e rainha, de tresloucada / Saltou p’rá lua, na minha rua na madrugada / Trago o coração à flor da boca / E a sina escrita na palma da mão / Foram tantos anos sem imaginar / O dia sonhado da noite mais louca / Nas ruas da vida com ela a dançar / Despiu a saudade / Sacudiu o pó

  

Desnudó la saudade después de comer / En un plato ya frío de tanto esperar / Aquel que bebe en las tabernas de la vida / Rodadas de amantes de peso perdido / Y llega tan lleno de nada para entregar / Sacudió el polvo de ese primer amor / En un rincón guardado de su corazón / Aquel retrato parado en el tiempo / Que muerde por fuera, que hiere por dentro / En un cuerpo vacío de tanta ilusión / Pero de repente, como un sol después de la lluvia / Surgió la noche transformada en amanecer / Va hacia el espejo, se pone bonita / Labios rojos, cuerpo de seda / Vestido con la prisa de quien sale ya con retraso / Brillo en los ojos, aire de niña / Libre y reina, desvariada / Saltó hacia la luna, en mi calle de madrugada / Traigo el corazón a flor de boca / Y el destino escrito en la palma de la mano / Fueron tantos años sin imaginar / El día soñado en la noche más loca / En las calles de la vida en que ella danza / Desnudó la saudade / Sacudió el polvo

E tu gostavas de mim

Aviões no céu a mil / Banda larga em Arganil / Argonautas, foguetões / Fogos fátuos e neutrões / Nitro super combustão / Consta em Santa Comba Dão / Dão-se destas situações / Milagres, aparições / Dava-se outro acaso assim / E tu gostavas de mim / Pode um rebento em Belém / Ser filho mas só da mãe / Multiplicação do pão / O Boavista campeão / Automóveis sem motor / Motociclos a vapor / Se não tem divina mão / E acontece tudo em vão / Dava-se outro acaso assim / E tu gostavas de mim / Lei e ordem no Brasil / Ciberespaço em Contumil / Cães em naves espaciais / Microchips em cães normais / Microsondas em Plutão / Dentro da televisão / Situações paranormais / Para nós mais que banais / Não era pedir de mais / E tu gostavas de mim

    

Aviones a mil en el cielo / Banda ancha en Argenil / Argonautas, cohetes / Fuegos fatuos y neutrones / Nitro súper combustión / Costa en Santa Comba Dão / Se dan estas situaciones / Milagros, apariciones / Se daría otro caso así / Que yo te gustase / Puede un retoño en Belén / Ser hijo sólo de la madre / Multiplicación del pan / El Boavista campeón / Automóviles sin motor / Motocicletas a vapor / Si no tiene mano divina / Y todo sucede en vano / Se daría otro caso así / Que yo te gustase / Ley y orden en Brasil / Ciberespacio en Contumil / Perros en naves espaciales / Microchips en perros normales / Microsondas en Plutón / Dentro de la televisión / Situaciones paranormales / Para nosotros más que banales / No sería pedir de más / Que yo te gustase

Havemos de acordar

Canto o fado pela noite dentro, ele trabalha todo o dia fora / Corre tão veloz o tempo e chega apressada a hora / Ele suspira, sonolento: ó meu amor não vás embora / Feho os olhos pela noite fora, ele dorme pela noite dentro / De manhã não se demora, veste um casaco e sai correndo / E ouve a minha voz que implora: ó meu amor fica mais tempo / Eu hei-de inventar um fado, um fado novo / Um fado que me embale a voz e me adormeça a cantar / Eu hei-de ir nesse fado ao teu sonho / No meu sonho, e por fim sós, nele havemos de acordar / Vou sonhando pelo dia fora, ele trabalha pelo dia dentro / Não sei o que faz agora, mas ele talvez nese momento / Entre por aquela porta: ó meu amor fica mais tempo / Canto o fado pela noite dentro, ele trabalha todo o dia fora / Já o sinto nos meus dedos como um eterno agora / Será esse o nosso tempo: ó meu amor não vás embora

  

Canto el fado dentro de la noche, el trabaja fuera todo el día / Corre tan veloz el tiempo y llega apresurada la hora / Él suspira, somnoliento: ay, amor mía, no te marches / Cerro los ojos fuera de la noche, el duerme en el interior de la noche / Por la mañana no se retrasa, se pone una chaqueta y sale corriendo / Y escucha mi voz que implora: ay, amor mío, quédate más tiempo / Yo debo inventar un fado, un fado nuevo / Un fado que me acune la voz y me adormezca al cantar / Yo debo ir en ese fado a tu sueño / En mi sueño, y por fin solos, en él debemos despertarnos / Voy soñando fuera del día, él trabaja dentro del día / No sé qué hace ahora, pero él tal vez, en este momento / Entre por aquella puerta: ay, mi amor, quédate más tiempo / Canto el fado dentro de la noche, el trabaja fuera todo el día / Ya lo siento en mis dedos como un eterno ahora / Será ese nuestro tiempo: mi amor no te vayas lejos

A fadista

Vestido negro cingido / Cabelo negro comprido / E negro xaile bordado / Subindo à noite a Avenida / Quem passa julga-a perdida / Mulher de vício e pecado / E vai sendo confundida / Insultada e perseguida / P'lo convite costumado / Entra no café cantante / Seguida em tom provocante / P'los que querem comprá-la / Uma guitarra a trinar / Uma sombra devagar / Avança para o meio da sala / Ela começa a cantar / E os que a queriam comprar / Sentam-se à mesa a olhá-la / Canto antigo e tão profundo / Que vindo do fim do mundo / É prece, pranto ou pregão / E todos os que a ouviam / À luz das velas pareciam / Devotos em oração / E os que há pouco a ofendiam / De olhos fechado ouviam / Como a pedir-lhe perdão / Vestido negro cingido / Cabelo negro comprido / E negro xaile traçado / Cantando pra aquela mesa / Ela dá-lhes a certeza / De já lhes ter perdoado / E em frente dela na mesa / Como em prece a uma deusa / Em silêncio ouve-se o fado

Vestido negro ceñido / Cabello negro largo / Y negro chal bordado / Subiendo por la noche la Avenida / Quien pasa la juzga perdida / Mujer de vicio y pecado / Y va siendo confundida / Insultada y perseguida / Por la clientela habitual / Entra en el café cantante / Seguida por el aire provocador / Por los que quieren comprarla / Una guitarra que trina / Una sombra lentamente / Avanza por el medio de la sala / Ella comienza a cantar / Y los que la querían comprar / Se sientan a la mesa a mirarla / Canto antiguo y tan profundo / Que venido del fin del mundo / Es súplica, llanto o pregón / Y todos los que la oían / A la luz de las velas parecían / Devotos en oración / Y los que hace poco la ofendían / Con los ojos cerrados escuchaban / Como pidiéndole perdón / Vestido negro ceñido / Cabello negro largo / Y negro chal gastado / Cantando hacia aquella mesa / Ella les da la seguridad / De haberles ya perdonado / Y enfrente de ella en la mesa / Como en súplica a una diosa / En silencio se oye fado

Se acaso um anjo viesse

O amor que nunca quis / Anda a ver se me convence / Que só pode ser feliz / Quem a vida lhe pertence / Entreguei ao meu destino / Aquilo que não conheço / Um sorriso pequenino / E uma lágrima num lenço / Se acaso um anjo viesse / Baloiçar na minha cruz / Talvez ainda pudesse / Ficar aos pés de Jesus / Mas a fé não tem medida / Nem o fado uma razão / Toda a vida que é vivida / Dá mais vida ao coração

  

El amor que nunca quise / Está viendo si me convence / De que sólo puede ser feliz / Quien a la vida pertenece / Entregué a mi destino / Aquello que no conozco / Una sonrisa pequeñita / Y una lágrima en un pañuelo / Si acaso viniese un ángel / A balancear mi cruz / Tal vez yo aún pudiese / Quedarme a los pies de Jesús / Pero la fe no tiene medida / Ni el fado una razón / Toda la vida que es vivida / Da más vida al corazón

Fado alado

Vou de Lisboa a São Bento / Trago o teu mundo por dentro / No lenço que tu me deste / Vou do Algarve ao Nordeste / Trago o teu beijo bordado / Sou um comboio de fado / Levo um amor encantado / Sou um comboio de gente / Sou o chão do Alentejo / De ferro é o meu beijo / Tão quente como a liberdade / E se não trago saudade / É porque vives deitado / Num amor que não está parado / Sou um comboio de fado / Sou um comboio de gente / Não há amor com mais tamanho / Que este amor por ti eu tenho / Voo de pássaro redondo / Que não aporta no beiral / Não há amor que mais me leve / Que aquele em que se escreve / Ai... lume brando, paz e fogo / E a luz final / Desço do Porto ao Rossio / Levo o abraço do rio / Douro, amante do Tejo / Nos ecos dum realejo / Chora minha guitarra / Trazes-me a paz da cigarra / Num desencontro encontrado / Sou um comboio de fado / Se for morrer a Coimbra / Traz-me da luz a penumbra / Do amor que nunca se fez / Corre-me o sangue de Inês / Mostra-me um soho acordado / Somos um povo alado / Um povo que vive no fado / A alma de ser diferente

Voy de Lisboa a São Bento / Traigo tu mundo por dentro / En el pañuelo que me diste / Voy del Algarve al nordeste / Traigo tu beso bordado / Soy un tren de fado / Llevo un amor encantado / Soy un tren de gente / Soy el suelo del Alentejo / De hierro es mi beso / Tan caliente como la libertad / Y si no trago saudade / Es porque vives acostado / En un amor que no está parado / Soy un tren de fado / Soy un tren de gente / No hay amor con mayor tamaño / Que este amor que por ti tengo / Vuelo de pájaro redondo / Que no arriba al voladizo / No hay amor que más me lleve / Que aquel en que se escribe / Ay… lumbre blanda, paz y fuego / Y la luz final / Bajo de Porto a Rossio / Llevo el abrazo del río / Duero, amante del Tajo / En los ecos de un organillo / Llora mi guitarra / Me traes la paz de la cigarra / En un desencuentro encontrado / Soy un tren de fado / Si fuese a morir a Coimbra / Tráeme de la luz la penumbra / Del amor que nunca se hizo / Me corre sangre de Inés / Muéstrame un sueño recordado / Somos un pueblo alado / Un pueblo que vive en el fado / El alma de ser diferente

A minha estrela

No azul silento do céu / Brilha uma estrela sozinha / Com certeza que é minha / Tão sozinha como eu / Cansada de mendigar / A esmola de um olhar teu / Foi meus olhos repousar / No azul silento do céu / No firmamento sem fim / Que a mão de Deus encaminha / Talvez com pena de mim / Brilha uma estrela sozinha / A sua luz lembra bem / A que dos teus olhos vinha / Mas a constância que tem / Com certeza que é minha / Passo as noites a revê-la / Na graça que Deus lhe deu / Ando presa a essa estrela / Tão sozinha como eu

  

En el azul silente del cielo / Brilla una estrella solita / Con seguridad es mía / Tan solita como yo / Cansada de mendigar / La limosna de una mirada tuya / Fui a descansar mis ojos / En el azul silente del cielo / En el firmamento sin fin / Que la mano de Dios encamina / tal vez con lástima por mí / Brilla una estrella solita / Su luz recuerda bien / La que de tus ojos venía / Pero la constancia que tiene / Con seguridad es mía / Paso las noches remirándola / En la gracia que Dios le dio / Estoy presa de esa estrella / Tan solita como yo

Como nunca mais

Saudade, vá, entra à vontade / Porque eu já esperava que fosses voltar / Com esses teus olhos tão verdes / Falando de esperança para me tentar / Saudade, senta-te à vontade / E dá-me notícias que trazes de alguém / Passado, porque tudo passa / E até tu, saudade, vais passar também / Não há dois dias / Nunca iguais / E eu quero viver cada dia / Como nunca mais / É bem possível que amanhã / Ainda me peças para voltar atrás / Mas ouve, o que passou, passou / Nada se repete, para mim tanto faz / É bem possível que outro amor / Cresça em mim em flor da cor do jasmim / O improvável acontece / E até tu, saudade, vais chegar ao fim

  

Saudade, venga, entra según quieras / Porque yo ya esperaba que ibas a volver / Con esos ojos tuyos tan verdes / Hablando de esperanza para tentarme / Saudade, siéntate a tu antojo / Y dame las noticias que traes de alguien / Pasado, porque todo pasa / Y hasta tú, saudade, vas a pasar también / No hay dos días / Nunca iguales / Y yo quiero vivir cada día / Como nunca más / Es muy posible que mañana / Me pidas aún volver atrás / Pero escucha, lo que pasó, pasó / Nada se repite, para mí tanto da / Es bien posible que otro amor / Crezca en mí en flor del color del jazmín / Lo improbable sucede / Y hasta tú, saudade, vas a llegar al fin

Com a cabeça nas nuvens

Com a cabeça nas nuvens / Passo a vida meia tonta / Sempre a pensar que tu vens / Num jogo de faz-de-conta / Atiro raios, trovejo / Das nuvens onde me crês / Se cá do alto te vejo / Porque é que tu não me vês? / Ainda perco o juízo / Solto o olhar, de águas, farto / Ou estilhaço com granizo / As vidraças do teu quarto / Então atiro-me ao espaço / Desço pela luz da lua / Acordo-te num abraço / Dou-me de corpo e alma nua

  

Con la cabeza en las nubes / Paso la vida medio boba / Pensando siempre que tú vienes / En un juego de simulación / Lanzo rayos, trueno / Desde las nubes en que me crees / Si desde aquí alto te veo / ¿Por qué tú no me ves? / Todavía pierdo el juicio / Suelto la mirada, de aguas, harta / O golpeo con granizo / Los ventanales de tu cuarto / Entonces me lanzo al espacio / Bajo por la luz de la luna / Me despierto en un abrazo / Me entrego de cuerpo y alma desnuda

  

 

 

O espelho de Alice

Acordo e olho o espelho: / Percebo um sorriso velho / E um olhar abandonado / O coração é velhice / E na loucura de Alice / Vejo-me no outro lado / Da esperança resta-me o medo / A minha vida, um segredo / Que vê o mundo ao contrário / Todas as coisas são estranhas / Todas as dores são tamanhas / E eu o seu inventário / Deixei para trás o juízo / Confundo o choro e o riso / O direito com o avesso / Mas na louca lucidez / Eu sei que esta é a vez / Em que o fim é recomeço

  

Me despierto y miro el espejo: / percibo una sonrisa vieja / Y un mirar abandonado / El corazón es la vejez / Y en la locura de Alicia / me veo en el otro lado / De la esperanza me queda el miedo / Mi vida, un secreto / Que ve el mundo al contrario / Todas las cosas son extrañas / Todos los dolores tamaños / Y yo su inventario / Dejé atrás el juicio / Confundo el llanto y la risa / El derecho con el revés / pero en la loca lucidez / Yo sé que esta es la vez / En que el final es reinicio

Quando o sol espreitar de novo

Quis ser feliz / Eu sei que sempre quis alguma coisa / E jamais eu fui capaz de perder com o silêncio / Depressa mudo e só depois dou conta / De arrasto na verdade que me pega / E só passado tempo / Depois de guerras minhas / Encontro o chão deserto / Não é, não é, não é nada / Sou apenas eu não entendendo tudo / Meu amor, não é mesmo nada / Não há razão / Um não já é razão de sobra / E eu nem vou sequer tentar lutar com o desejo / Depressa o tempo passa e algo muda / Escondido nos segundos mais discretos / E só chegado o tempo / Depois de coisas minhas / Encontro o céu aberto / Ainda espero ver-te a meu lado / Quando o sol espreitar de novo

  

Quise ser feliz / Yo sé que siempre quise alguna cosa / Y jamás fui capaz de perder con el silencio / Cambio deprisa y sólo después me doy cuenta / De la red en la verdad que me retiene / y sólo pasado el tiempo / Después de mis guerras / Encuentro el suelo desierto / No hay, no hay, no hay nada / Apenas existo y no lo entiendo todo / Mi amor, no es igual a nada / No hay razón / Uno ya es razón de sobra / Y yo ni voy siquiera a intentar luchar contra el deseo / Pasa deprisa el tiempo y algo cambia / Escondido en los segundos más discretos / Y sólo pasado el tiempo / Después de mis cosas / Encuentro el cielo abierto / Aún espero a verte a mi lado / Cuando el sol despunte de nuevo

bottom of page