Camané
Discografía
Carlos Manuel Moutinho Paiva dos Santos Duarte, conocido artísticamente como Camané, nació en Oeiras el 22 de diciembre de 1967.
En 1979 ganó la Grande Noite do Fado, lo que le posibilitó la grabación de un álbum producido por António Chainho. Tras una interrupción de 5 años regresó al mundo del fado, actuando en diversas casas de fado y participando en producciones de Filipe La Feria —Grande Noite; Maldita Cocaína; Cabaret— donde se descubre su valía como fadista.
A partir de 2004 participó en el grupo Humanos junto a Manuela Azevedo y David Fonseca, así como de los músicos Nuno Rafael, João Cardoso y Hélder Gonçalves, con los que grabó dos discos, Humanos y Humanos ao Vivo, y un DVD de los conciertos en los teatros de Lisboa y Oporto en junio de 2005, en los que Camané demuestra su versatilidad como intérprete.
En mayo de 2007, presenta el espectáculo Otras canciones II en el teatro São Luiz de Lisboa, el fadista lisboeta se transforma en crooner, chansonier, canzonetista, cantante de boleros y de bossa nova. Canta en inglés, francés, italiano, español y en portugués, y en Anos dourados y Olha María saca el dulce soutaque brasilero para rendir homenaje a Chico Buarque. La elección del repertorio habla de su buen gusto y su coraje, en inglés hace todo el repertorio clásico de Broadway, clásicos de Leonard Bernstein y Stephen Sondheim, Henri Mancini, Ray Noble, Neil Hannon, y se atreve con My funny Valentine de Richard Rodgers y Lorenz Hart, Kurt Weill, The Beatles. En francés rescata a Jacques Brel, Charles Trenet, Charles Aznavour, Serge Gainsbourg y el final con Que c'est triste Venise de Françoise Dorin y Eddie Barclay.
En 2007 participa en la película Fados del director español Carlos Saura que se estrena en noviembre en España, y se presenta ese mismo mes en concierto en el Teatro Albéniz de Madrid, en Valladolid y en Santiago de Compostela para celebrar el estreno de la película, junto a Mariza, Carlos do Carmo y Miguel Poveda.
01. Acordem as guitarras
02. Aquela Triste e Leda Madrugada
03. Esquina da Rua
04. Uma Vez Que Já Tudo Se Perdeu
05. O Espaço e o Tempo
06. Saudades Trago Comigo
07. Fado da Tristeza
08. Guitarras de Lisboa
09. Saudades do Futuro
10. A Saudade Aconteceu
11. Fecho os Olhos Para Dar
12. O Meu Fado
13. Disse-te Adeus
14. Fado da Sina
15. Esta Contínua Saudade
Uma noite de fados (1995)
Acordem as guitarras
Acordem os fadistas / Que eu quero ouvir o fado / P’Ias sombras da moirama / P’Ias brumas dessa Alfama / P’Io Bairro Alto amado / Acordem as guitarras / Até que mãos amigas / Com a graça que nos preza / Desfiem numa reza / Rosários de cantigas / Cantigas do fado / Retalhos de vida / Umbrais de um passado / De porta corrida / São ais inocentes / Que embargam a voz / Das almas dos crentes / Que rezam por nós / Acordem as vielas / Aonde o fado mora / E há um cantar de beijos / Em marchas de desejos / Que vão p’la rua fora / Acordem as tabernas / Até que o fado canta / Em doce nostalgia / Aquela melodia / Que tanto nos encanta
Que se despierten los fadistas / Que yo quiero oír fado / Por las sombras de Mouraria / Por las brumas de esa Alfama / Por el Barrio Alto amado / Que se despierten las guitarras / Hasta que manos amigas / Con la gracia que nos estima / Desafíen en un rezo / Rosarios de cantos / Cantos de fado / Retazos de vida / Umbrales de un pasado / De puerta abierta / Son ayes inocentes / Que embargan la voz / De las almas de los creyentes / Que rezan por nosotros / Que se despierten las callejuelas / Donde el fado mora / Y hay un cantar de besos / En marchas de deseos / Que van por las calles / Que se despierten las tabernas / Hasta que el fado cante / En dulce nostalgia / Aquella melodía / Que tanto nos encanta
Aquela triste e leda madrugada
Aquela triste e leda madrugada / Cheia toda de dor e piedade / Enquanto houver no mundo saudade / Quero que seja sempre celebrada / Ela só quando alegre e marchetada / Saía dando à terra claridade / Viu apartar-se de uma, outra vontade / Que nunca poderá ver-se apartada / Ela só viu as lágrimas em fio / Que de um e de outros olhos derivadas / Juntando-se formaram largo rio / Ela ouviu as palavras magoadas / Que poderam tornar o fogo frio / E dar descanso às almas condenadas.
Aquella triste y alegre madrugada / Toda llena de dolor y de piedad / Mientras que haya en el mundo saudade / Quiero que sea siempre celebrada / Cuando ella sola alegre y adornada / Salía dando claridad a la tierra / Vio apartarse de una, otra voluntad / Que nunca podrá verse apartada / Sólo ella vio las lágrimas en hilera / Que de unos y otros ojos derivadas / Se juntaron formando un largo río / Ella escuchó las palabras heridas / Que pudieron tornar el fuego en frío / Y dar descanso a las almas condenadas.
Esquina de rua
Tinhas o corpo cansado / E a cidade era tão fria / Ninguém dormia a teu lado / Ninguém sabia que amado / O teu corpo se acendia / Andavas devagarinho / P’Ias ruas de Lisboa / Em busca de algum carinho / Que te fosse pão e vinho / E te desse boa noite / Eras triste se sorrias / E mais nova se choravas / As palavras que dizias / Tinham dores e alegrias / E só ternura deixavas / Por ti não houve ninguém / Para quem te desses nua / Podias ter sido mãe / Podias ter sido mãe / Mas foste esquina de rua
Tenías el cuerpo cansado / Y la ciudad era tan fría / Nadie dormía a tu lado / Nadie sabía que amado / Tu cuerpo se encendía / Andabas despacito / Por las calles de Lisboa / En busca de algún cariño / Que te fuese pan y vino / Y te diese buenas noches / Eras triste si sonreías / Y más joven si llorabas / Las palabras que decías / Tenían dolores y alegrías / Y dejabas sólo ternura / No había nadie para ti / Para quien te entregases desnuda / Podrías haber sido madre / Podrías haber sido madre / Pero fuiste esquina de calle
Uma vez que já tudo se perdeu
Que o medo não te tolha a tua mão / Nenhuma ocasião vale o temor / Ergue a cabeça dignamente irmão / Falo-te em nome seja de quem for / No princípio de tudo o coração / Como o fogo alastrava em redor / Uma nuvem qualquer toldou então / Céus de canção promessa e amor / Mas tudo é apenas o que é / Levanta-te do chão põe-te de pé / Lembro-te apenas o que te esqueceu / Não temas porque tudo recomeça / Nada se perde por mais que aconteça / Uma vez que já tudo se perdeu
Que el miedo no paralice tu mano / Ninguna ocasión merece el temor / Yergue la cabeza dignamente, hermano / Te hablo en nombre de quien sea / En principio de todo corazón / Como el fuego propagaba alrededor / Una nube cualquiera cubrió entonces / Cielos de canción, promesa y amor / Pero todo es apenas lo que es / Levántate del suelo, ponte de pie / Te recuerdo apenas lo que te olvidó / No temas porque todo recomienza / Nada se pierde por más que suceda / Una vez que ja todo se perdió
O espaço e o tempo
O tempo com que conto e não dispenso / Não limita o espaço do que sou / Por isso aparente contrasenso / De tanto que te roubo e que te dou / No tempo que tenho te convenço / Que mesmo os teus limites ultrapasso / Sobras do tempo em que te pertenço / Mas cabes inteirinha no meu espaço / Não sei qual de nós veio atrasado / Ou qual dessas metades vou roubando / Entraste no meu tempo já fechado / Ganhando o espaço que me vai sobrando / Por isso não me firas com o teu grito / O espaço não dá tempo à solidão / Não queiras todo o tempo que eu habito / O espaço é infinito o tempo não
El tiempo con el que no cuento y del que no prescindo / No limita el espacio de lo que soy / Por eso el aparente contrasentido / De tanto que te robé y que te di / En el tiempo que tengo te convenzo / Que hasta tus límites traspaso / Sobras del tiempo en que te pertenezco / Pero cabes enterita en mi espacio / No sé cuál de nosotros llegó atrasado / O cuál de esas mitades voy robando / Entraste en mi tiempo ya cerrado / Ganando el espacio que me va sobrando / Por eso no me hieras con tu grito / El espacio no le da tiempo a la soledad / No quieras todo el tiempo que yo habito / El espacio es infinito, el tiempo no
Saudades trago comigo
Saudades trago comigo / Do teu corpo e nada mais / Pois a lei por que me sigo / Não tem pecados mortais / Talvez tu queiras saber / Porque em vida já estou morto / São apenas podes crer / As saudades do teu corpo / E tu que sentes por mim / Desde essa noite perdida / Sentes esse frio em ti / Que eu sinto na minha vida / Eu sei que o teu corpo / Há-de sentir a falta do meu / Por isso eu tenho a saudade / Que o meu corpo tem do teu
Traigo saudades conmigo / De tu cuerpo y nada más / Pues la ley por la que me guío / No tiene pecados mortales / Tal vez tú quieras saber / Por qué en vida ya estoy muerto / Son, apenas podrás creerlo, / Las saudades de tu cuerpo / Y tú qué sientes por mí / Desde esa noche perdida / Sientes ese frío en ti / Que yo siento en mi vida / Yo sé que tu cuerpo / Ha de sentir la falta del mío / Por eso yo tengo la saudade / Que mi cuerpo tiene del tuyo
Fado da tristeza
Não cantes alegrias a fingir / Se alguma dor existir / A roer dentro da toca / Deixa a tristeza sair / Pois só se aprende a sorrir / Com a verdade na boca / Quem canta uma alegria que não tem / Não conta nada a ninguém / Fala verdade a mentir / Cada alegria que inventas / Mata a verdade que tentas / Porque é tentar a fingir / Não cantes alegrias de encomenda / Que a vida não se remenda / Com morte que não morreu / Canta da cabeça aos pés / Canta com aquilo que és / Só podes dar o que é teu
No cantes alegrías fingidas / Si algún dolor existe / Desgastando dentro de la guarida / Deja la tristeza salir / Pues sólo se aprende a sonreír / Con la verdad en la boca / Quien canta una alegría que no tiene / No le cuenta nada a nadie / Di la verdad al mentir / Cada alegría que inventas / Mata la verdad que intentas / Porque se intenta fingir / No cantes alegrías de encargo / Que la vida no se imita / Con muerte que no murió / Canta desde la cabeza a los pies / Canta con aquello que es / Sólo puedes dar lo que es tuyo
Guitarras de Lisboa
Guitarras atenção cantai comigo / Calai o vosso pranto trinai / Como lhes digo trinai / Guitarras desta vez sem ar magoado / Trinai este meu canto / Que é vosso este meu fado / Guitarras de Lisboa noite e dia / Trinando nas vielas do passado / Guitarras que dão voz à Mouraria / E vão falar a sós com a saudade / Guitarras de Lisboa são meninas / Brincando nas esquinas do passado / Dentro de vós ressoa a voz do próprio fado / Guitarras de Lisboa obrigado / Guitarras são iguais / Nossos reveses iguais / Nossos tormentos são ais / Nossos lamentos são ais / Guitarras mas também quando é preciso / Sabemos muitas vezes que a dor pode ser riso.
Guitarras, atención, cantad conmigo / Callad vuestro llanto, trinad / Como les digo, trinad / Guitarras esta vez sin aire herido / Trinad este canto mío / Que es vuestro este fado mío / Guitarras de Lisboa noche y día / Trinando en las callejuelas del pasado / Guitarras que dan voz a Mouraria / Y van a hablar a solas con la saudade / Guitarras de Lisboa son niñas / Jugando en las esquinas del pasado / Dentro de vosotras resuena la voz del propio fado / Guitarras de Lisboa, gracias / Guitarras son iguales / Nuestros reveses iguales / Nuestros tormentos son ayes / Nuestros lamentos son ayes / Guitarras, más también cuando es preciso / Sabemos muchas veces que el dolor puede ser risa.
Saudades do futuro
Daqui desta Lisboa que é tão minha / Como de ti que a amas como eu / Mando-te um beijo naquela andorinha / Que em Março me entregou um beijo teu / Aqui neste jardim à tua espera / Como se não tivesses embarcado / Digo ao Outono que ainda é Primavera / E encho de buganvílias este fado / Num tempo que de amor é tão vazio / Há coisas que não sei mas adivinho / Um rio ali à beira de outro rio / Só um depois da curva do caminho / Tenho tantas saudades do futuro / De um tempo que contigo hei-de viver / Não há mar não há fronteira não há muro / Que possam meu amor o amor deter
Desde aquí, de esta Lisboa que es tan mía / Como de ti que la amas como yo / Te mando un beso en aquella golondrina / Que en marzo me entregó un beso tuyo / Aquí en este jardín a tu espera / Como si no hubieses embarcado / Digo al otoño que siempre es primavera / Y lleno de buganvillas este fado / En un tiempo que de amor está tan vacío / Hay cosas que no sé, pero adivino / Un río allí a orillas de otro río / Sólo un después de la curva del camino / Tengo tantas saudades del futuro / De un tiempo que contigo he de vivir / No hay mar, no hay fronteras, no hay murallas / Que puedan, mi amor, el amor detener
A saudade aconteceu
Há pouco quando ficaram / Teus olhos presos nos meus / Quantos segredos contaram / Quantas coisas revelaram / Nessa confissão meu Deus / No silêncio desse adeus / Há pouco quando teimosas / Duas lágrimas rolaram / Trementes silenciosas / Deslizaram caprichosas / E nos teus lábios pararam / E nosso beijo selaram / Há pouco quando partiste / Todo o céu enegreceu / Ainda bem que tu não viste / Formou-se uma nuvem triste / Chorou o céu e chorei eu / E a saudade aconteceu
Hace poco cuando se encontraban / Tus ojos presos en los míos / Cuantos secretos contaron / Cuantas cosas revelaron / En esa confesión, Dios mío / En el silencio de ese adiós / Hace poco, cuando obstinadas / Dos lágrimas rodaron / Temblando silenciosas / Se deslizaron caprichosas / Y en tus labios pararon / Y nuestro beso sellaron / Hace poco, cuando partiste / Todo el cielo se ennegreció / Aunque tú no la viste / Se formó una nube triste / lloró el cielo y lloré yo / Y la saudade sucedió
Fecho os olhos para dar
Trago nos olhos segredos / Que todos julgam saber / São rosários, são enredos / Que ganham razão de ser / O olhar que traz verdade / Também luz outros anseios / Incertezas e saudade / Que em mim desfazem enleios / Revelar não é partir / Não querer ver é despedida / Cinco sentidos pra sentir / E dar um sentido à vida / A cegueira faz pensar / Nos segredos confundidos / Eu fecho os olhos pra dar / A imensidão dos sentidos
Traigo en los ojos secretos / Que todos creen saber / Son rosarios, son enredos / Que ganan la razón de ser / La mirada que trae verdad / También luz y otras ansias / Incertezas y saudade / Que en mí deshacen marañas / Revelar no es partir / No querer ver es despedida / Cinco sentidos para sentir / Y dar sentido a la vida / La ceguera hace pensar / En secretos confundidos / Yo cierro los ojos para dar / La inmensidad de los sentidos
O meu fado
Fado tão longe e tão perto / Fado tão meu, tão alheio / Momento nítido, incerto / Com esta voz pelo meio / Noites passadas em branco / Em cada fado que eu cante / Há uma vida que arranco / À morte de cada instante / Grito no peito rasgado / E na garganta contido / Que faz de um pequeno fado / Um grande instante vivido / O fado que vou vivendo / No canto e no gesto mudo / É tudo o que não entendo / Que me faz entender tudo
Fado tan lejano y tan cercano / Fado tan mío, tan ajeno / Momento nítido, incierto / Con esta voz por en medio / Noches pasadas en blanco / En cada fado que canté / Hay una voz que arranco / A la muerte en cada instante / Grito rasgado en el pecho / Y en la garganta contenido / Que hace de un pequeño fado / Un gran instante vivido / El fado que voy viviendo / En un canto y un gesto mudo / Es todo lo que no entiendo / Que me hace entenderlo todo
Disse-te adeus
Disse-te adeus não me lembro / Em que dia de Setembro / Só sei que era madrugada; / A rua estava deserta / E até a lua discreta / Fingiu que não deu por nada / Sorrimos à despedida / Como quem sabe que a vida / É nome que a morte tem / Nunca mais nos encontrámos / E nunca mais perguntámos / Um p’lo outro a ninguém / Que memória ou que saudade / Contará toda a verdade / Do que não fomos capazes / Por saudade ou por memória / Eu só sei contar a história / Da falta que tu me fazes
Te dije adiós, no recuerdo / En que día de septiembre / Sólo sé que era de madrugada; / La calle estaba desierta / Y hasta la luna discreta / Fingió que no veía nada / Sonreímos en la despedida / Como quien sabe que la vida / Es nombre que la muerte tiene / Nunca más nos encontramos / Y nunca más preguntamos / El uno por el otro a nadie/ Qué memoria o qué saudade / Contará toda la verdad / De que no fuimos capaces / Por saudade o por memoria / Sólo sé contar la historia / De cuánta falta me haces
Fado da sina
Reza-te a sina / Nas linhas traçadas na palma da mão / Que duas vidas / Se encontram cruzadas / No teu coração / Sinal de amargura / De dor e tortura / De esperança perdida / Indício marcado / De amor destroçado / Na linha da vida / E mais te reza / Na linha do amor / Que terás de sofrer / O desencanto ou leve dispor / De uma outra mulher / Já que a má sorte assim quis / A tua sina te diz / Que até morrer terás de ser / Sempre infeliz / Não podes fugir / Ao negro fado brutal / Ao teu destino fatal / Que uma má estrela domina / Tu podes mentir às leis do teu coração / Mas ai quer queiras quer não / Tens de cumprir a tua sina / Cruzando a estrada da linha da vida / Traçada na mão / Tens uma cruz a afeição mal contida / Que foi uma ilusão / Amor que em segredo / Nasceu quase a medo / Para teu sofrimento / E foi essa imagem a grata miragem / Do teu pensamento / E mais ainda te reza o destino / Que tens de amargar / Que a tua estrela de brilho divino / Deixou de brilhar / Estrela que Deus te marcou / Mas que bem pouco brilhou / E cuja luz aos pés da cruz / Já se apagou
Reza tu destino / En las líneas marcadas en la palma de la mano / Que dos vidas / Se encuentran cruzadas / En tu corazón / Señal de amargura / De dolor y tortura / De esperanza perdida / Indicio marcado / De amor destrozado / En la línea de la vida / Y reza aún más / En la línea del amor / Que tendrás que sufrir / El desencanto o la leve disposición / De otra mujer / Ya que la mala suerte así lo quiso / Tu destino te dice / Que hasta tu muerte habrás de ser / Siempre infeliz / No puedes huir / Al negro fado brutal / A tu destino fatal / Que una mala estrella domina / Tú puedes mentir a las leyes de tu corazón / Pero lo quieras o no / Debes cumplir tu destino / Cruzando la calle de la línea de la vida / Trazada en la mano / Tienes una cruz de amor mal contenido / Que fue una ilusión / Amor que en secreto / Nació casi con miedo / Para tu sufrimiento / Y fue esa imagen el grato espejismo / De tu pensamiento / Y aún más dice tu destino / Que sentirás amargura / Que tu estrella de brillo divino / Dejó de brillar / estrella que Dios te marcó / Pero que bien poco brilló / Y cuya luz a los pies de la cruz / Ya se apagó
Esta contínua saudade
Esta contínua saudade / Que me afasta do que digo / E me deserta do amor / Tem uma voz e uma idade / Contra as quais eu não consigo / Mais força que a minha dor / Esta contínua e perigosa / Saudade que prende a mágoa / E enfraquece o entendimento / É uma fonte rigorosa / Onde eu bebo a angústia da água / Que me assombra o pensamento/ Mas para um tempo tão puro / Como é o de esperar / O sonho no olhar que trazes / É que eu no vento procuro / Todo o bem que posso dar / Em todo o mal que me fazes
Esta continua saudade / Que me desvía de lo que digo / Y me aleja del amor / Tiene una voz y una edad / Contra las que no consigo / Más fuerza que mi dolor / Esta continua y peligrosa / Saudade que prende la amargura / Y debilita el entendimiento / Es una fuente cruel / De donde bebo la angustia del agua / Que ensombrece mi pensamiento / Pero para un tiempo tan puro / Como es el de esperar / El sueño en la mirada que traes / Es el que busco en el viento / Todo el bien que puedo dar / En todo el mal que me haces
Na linha da vida, 1998
1. Ah Quanta Melancolia
2. Fado Penelope
3. Senhora do Livramento
4. Ponto de Encontro
5. O Meu Amor Anda em Fama
6. Eu Não Me Entendo
7. Mote
8. Sopram Ventos Adversos
9. A Minha Rua
10. Guitarra, Guitarra
11. À Mercê de uma Saudade
12. Maria
13. Não Sei
Ah quanta melancolia
Ah quanta melancolia / Quanta, quanta solidão / Aquela alma que vazia / Que sinto inútil e fria / Dentro do meu coração / Que angústia desesperada / Que mágoa que sabe a fim / Se a nau foi abandonada / E o cego caiu na estrada / Deixai-os que tudo é assim / Sem sossego, sem sossego / Nenhum momento de meu / Onde for que a alma emprego / Na estrada morreu o cego / A nau desapareceu
Ay, cuánta melancolía / Cuanta, cuánta soledad / Aquella alma, qué vacía / Que siento inútil y fría / Dentro de mi corazón / Qué angustia desesperada / Que amargura que sabe a fin / Si la nave fue abandonada / Y el ciego cayó en la calle / Déjalos que todo es así / Sin sosiego, sin sosiego / Ningún momento mío / Donde sea que alma empeño / En la calle murió el ciego / Y la nave desapareció
Sagrado é este fado que te canto / Do fundo da minha alma tecedeira / Da noite do meu tempo me levanto / E nasço feito dia à tua beira / Passei por tantas portas já fechadas / Com a dor de me perder pelo caminho / A solidão germina nas mãos dadas / Que dão a liberdade ao passarinho / E enquanto o meu amor anda em viagem / Fazendo a guerra santa ao desespero / Eu encho o meu vazio de coragem / Fazendo e desfazendo o que não quero / A fome de estar vivo é tão intensa / Paixão que se alimenta do perigo / De o chão em que se inscreve a minha crença / Só ter por garantia ser antigo
Sagrado es este fado que te canto / Desde el fondo de mi alma tejedora / Desde la noche de mi tiempo me levanto / Y nazco hecho día a tu vera / Pasé por tantas puertas ya cerradas / Con el dolor de perderme por el camino / La soledad germina en manos dadas / Que dan la libertad al pajarillo / Y como mi amor está de viaje / Haciendo la guerra santa a la desesperación / Yo lleno mi mismo vacío de coraje / Haciendo y deshaciendo lo que no quiero / El hambre de estar vivo es tan intenso / Pasión que se alimenta del peligro / Del suelo en que se inscribe mi creencia / Cuya única garantía es ser antiguo
Fado Penelope
Senhora do livramento
Senhora do Livramento / Livrai-me deste tormento / De a não ver há tantos dias / Partiu zangada comigo / Deixou-me um retrato antigo / Que me aquece as noites frias / Senhora que o pensamento / Corre veloz como o vento / Rumando estradas ao céu / Fazei crescer os meus dedos / Para desvendar os segredos / Num céu que não é só meu / Senhora do céu das dores / Infernos, prantos, amores / A castigar tanto norte / Porque é que partiste um dia / Sofrendo a minha agonia / E não me roubaste a morte
Señora de la Liberación / Líbrame de este tormento / De tantos días sin verla / Se fue enfadada conmigo / Me dejó un retrato antiguo / Que me calienta en noche frías / Señora que el pensamiento / Corre veloz como el viento / Dirigiendo calles al cielo / haciendo crecer mis dedos / Para desvelar los secretos / En un cielo que no es sólo mío / Señora del cielo de los dolores / Infiernos, llantos, amores / Castigando tanto norte / Por qué partiste un día / Sufriendo mi agonía / Y no me robaste la muerte
Ponto de encontro
A medida em que me meço / Mede a medida de um ponto / De encontro do que conheço / Com aquilo com que não conto / Ponto de encontro da sorte / Com o traçado da corrida / Em que a coragem na morte / Nasce do medo da vida / Veneno, punhal, saída / Porta aberta para o fim / Loucura comprometida / Com o que conheço de mim / É nesse ponto-momento / Que no limite do excesso / Me transformo no que invento / E finalmente apareço
La medida en que me mido / Mide la medida de un punto / De encuentro de lo que conozco / Como aquello con que no cuento / Punto de encuentro de la suerte / Con el trazado de la carrera / En que el coraje en la muerte / Nace del miedo de la vida / Veneno, puñal, salida / Puerta abierta hacia el fin / Locura comprometida / Con lo que conozco de mí / Es en ese punto-momento / Que en el límite del exceso / Me transformo en lo que invento / Y finalmente aparezco
O meu amor anda em fama
O meu amor anda em fama / Mesmo assim lhe quero bem / Os olhos do meu amor / Não os vejo em mais ninguém / Eu nunca pensei na vida / Vir um dia a encontrar / A minha vida escondida / Dentro do teu olhar / Eu bem sei que me desdenhas / Mas gosto que seja assim / Que o desdém que por mim tenhas / Sempre é pensares em mim / Se algum dia me deixares / Meu amor por caridade / Entre as coisas que levares / Leva também a saudade
Mi amor está de boca en boca / Aún así lo quiero bien / Los ojos de mi amor / No los veo en nadie más / Yo nunca pensé en la vida / venir un día a encontrar / Mi vida escondida / Dentro de tu mirar / Yo sé bien que me desdeñas / pero me gusta que sea así / Que el desdén que por mí sientas / Es siempre pensar en mí / Si algún día me dejaras / Mi amor, por caridad / Entre las cosas que te lleves / Llévate también la saudade
Eu não me entendo
Entrego a minha voz ao coração do vento / E quanto mais água dos meus olhos corre / Mais fogo acendo / Eu não me entendo / Eu não me entendo / E por ti já gastei o pensamento / Ai amor, ai amor, se o tempo / Já gastou, já gastou o nosso tempo / Eu não me entendo / Eu não me entendo / A primavera do meu tempo / Já gastei a primavera do meu tempo / Já fiz da boca jardins de vento / E não me entendo / E não me entendo / Eu não me entendo
Entrego mi voz al corazón del viento / Y cuanta más agua corre de mis ojos / Más fuego enciendo / Yo no me entiendo / Yo no me entiendo / Y por ti ya gasté el pensamiento / Ay, amor; ay, amor; si el tiempo / Ya se gastó, ya se gastó nuestro tiempo / Yo no me entiendo / Yo no me entiendo / La primavera de mi tiempo / Ya gasté la primavera de mi tiempo / Ya hice de la boca jardines de viento / Y no me entiendo / Y no me entiendo / Yo no me entiendo
Mote
Quando a dor me amargurar / Quando sentir penas duras / Só me podem consolar / Teus olhos, contas escuras / Deles só brotam amores / Não há sombra d’ironias / Teus olhos sedutores / São duas ave-marias / Quando a vida os vem turvar / Fazem-me sofrer torturas / E as contas todas rezar / Do rosário d amarguras / Ou se os alaga a aflição / Peço para ti alegrias / Numa fervente oração / Que rezo todos os dias / Teus olhos, contas escuras / São duas ave-marias / No rosário d’ amarguras / Que rezo todos os dias
Cuando el dolor me amarga / Cuando siento penas duras / Sólo me pueden consolar / Tus ojos, cuentas oscuras / De ellos sólo brotan amores / No hay sombra de ironías / Tus ojos seductores / Son dos avemarías / Cuando la vida viene a turbarlos / Me hacen sufrir torturas / Y rezar todas las cuentas / Del rosario de amarguras / O si los inunda la aflicción / Pido para ti alegrías / En una ferviente oración / Que rezo todos los días / Tus ojos, cuentas oscuras / Son dos avemarías / En un rosario de amarguras / Que rezo todos los días
Sopram ventos adversos
Sopram ventos adversos / Junto à praia que se quis / E há sentimentos dispersos / Que são barcos submersos / No mar do que se não diz / Nos mastros que vão quebrar / Soltas velas de cambraia / E é cada remo a tentar / Menos um barco no mar / Mais um cadáver na praia / O dia nunca alcançado / Morre em todas as marés / E é sempre dia acabado / Junto ao sargaço espalhado / De tudo o que se não fez
Soplan vientos adversos / Junto a la playa que se quiso / Y hay sentimientos dispersos / Que son barcos sumergidos / En el mar de lo que no se dice / En los mástiles que van a quebrarse / Velas sueltas de tul / Y está cada remo intentándolo / un barco menos en el mar / Un cadáver más en la playa / El día nunca alcanzado / Muere en todas las mareas / Y es siempre día acabado / Junto al sargazo desgranado / De todo lo que no se hizo
A minha rua
Mudou muito a minha rua / Quando o outono chegou / Deixou de se ver a lua / Todo o trânsito parou / Muitas portas estão fechadas / Já ninguém entra por elas / Não há roupas penduradas / Nem há cravos nas janelas / Não há marujos na esquina / De manhã não há mercado / Nunca mais vi a varina / A namorar com o soldado / O padeiro foi-se embora / Foi-se embora o professor / Na rua só passa agora / O abade e o doutor / O homem do realejo / Nunca mais por lá passou / O Tejo já não o vejo / Um grande prédio o tapou / O relógio da estação / Marca as horas em atraso / E o menino do pião / Anda a brincar ao acaso / A livraria fechou / A tasca tem outro dono / A minha rua mudou / Quando chegou o outono / Há quem diga ainda bem / Está muito mais sossegada / Não se vê quase ninguém / E não se ouve quase nada / Eu vou-lhes dando razão / Que lhes faça bom proveito / E só espero pelo verão / P`ra pôr a rua a meu jeito
Cambió mucho mi calle / Cuando el otoño llegó / Se dejó de ver la luna / Todo el tráfico paró / Muchas puertas están cerradas / Ya nadie entra por ellas / No hay ropas tendidas / Ni claveles en las ventanas / No hay marinos en la esquina / Por la mañana no hay mercado / Nunca más vi a la pescadera / Enamorando al soldado / El panadero se marchó / Se marcho el profesor / Por la calle sólo pasan ahora / El abad y el doctor / El hombre del organillo / Nunca más pasó por allí / El Tajo ya no lo veo / Un gran edificio lo tapó / El reloj de las estación / Marca las horas con retraso / Y el niño del piano / Esta jugando a todas horas / La librería cerró / La tasca tiene otro dueño / Mi callé cambió / Cuando llegó el otoño / Habrá quien diga que muy bien / Que está mucho más tranquila / No se ve casi a nadie / Y no se oye casi nada / Y yo les doy la razón / Que les aproveche / Y sólo espero al verano / Para poner la calle a mi gusto
A mercê de uma saudade
O amor anda à mercê duma saudade / Com ele anda sempre a ilusão / O nosso amor não tem a mesma idade / Mas tem a mesma lei no coração / Sabemos qual a ânsia da chegada / E nunca recordamos a partida / Trazemos na memória renegada / A dor de uma distância sem saída / Existem entre nós sonhos calados / Que a vida não permite acontecer / Por vezes sigo os teus olhos parados / E sinto que é por ti que vou viver / Recuso lamentar a minha entrega / Teus braços são a minha liberdade / O amor é fantasia que nos cega / É força que transforma a realidade
El amor está a merced de una saudade / Con él va siempre la ilusión / Nuestro amor no tiene la misma edad / Pero tienen la misma ley en el corazón / Sabemos cómo es el ansia de la llegada / Y nunca recordamos la partida / Traemos en la memoria renegada / El dolor de una distancia sin salida / Existen entre nosotros sueños callados / Que la vida no permite realizar / A veces sigo tus ojos parados / Y siento que es por ti que viviré / Me niego a lamentar mi entrega / Tus brazos son mi libertad / El amor es fantasía que nos ciega / Es fuerza que transforma la realidad
Maria
Tenho cantado esperanças... / Tenho falado de amores... / Das saudades e dos sonhos / Com que embalo as minhas dores... / E eu cuidei que era poesia / Todo esse louco sonhar... / Cuidei saber o que é vida / Só porque sei delirar... / Eram fantasmas que a noite / Trouxe, e o dia levou... / À luz da estranha alvorada / Hoje minha alma acordou! / Esquece aqueles cantos... / Só agora sei falar! / Perdoa-me esses delírios... / Só agora soube amar
He cantado esperanzas / He hablado de amores... / De saudades y de sueños / Con que envolví mis dolores... / Y creí que era poesía / Todo ese loco soñar... / Creí saber lo que es la vida / Sólo porque sé delirar... Eran fantasmas que la noche / Trajo, y que el día se llevó... / A la luz de extraña alborada / Hoy mi alma despertó / Olvida aquellos cantos... / ¡Sólo ahora sé hablar! / Perdóname esos delirios / Sólo ahora supe amar
Não sei
Não sei que rio é este em que me banho / Que destrói todas as margens que escolhi / Que leva para o mar tudo o que tenho / E me traz da nascente o que perdi / Não sei que vento é este de repente / Que tudo o que eu desfiz ele refaz / Que me empurra com força para a frente / Quando caio desamparado para trás / Não sei que tempo é este em que carrego / Com a memória das coisas que não guardo / Que me obriga a partir sempre que chego / E a chegar cedo demais sempre que tardo / Não sei que sol é este que me abrasa / Quanto mais tapo os olhos e me abrigo / Que abre a tudo o que é estranho a minha casa / Quanto mais eu me fecho só comigo / Que não-saber é este que não quer / Saber do não-saber que lhe ensinei / E que faz com que eu aprenda sem querer / A saber cada vez mais o que não sei
No sé qué río es este en que me baño / Que destruye todas las orillas que escogí / Que se lleva al mar todo lo que tengo / Y me trae desde el manantial lo que perdí / No sé qué viento es este de repente / Que todo lo que hice lo rehace / Que me empuja con fuerza hacia el frente / Cuando caigo desamparado hacia atrás / No sé qué tiempo es este en el que cargo / Con la memoria de las cosas que no guardo / Que me obliga a partir siempre que llego / Y a llegar demasiado pronto siempre que tardo / No sé qué sol es este que me abrasa / Cuanto más me tapo los ojos y me resguardo / Que abre a todo lo que es ajeno a mi casa / Cuanto más me cierro yo sólo conmigo / Qué no saber es este que no quiere / Saber del no saber que le enseñé / Y que hace que aprenda sin querer / A saber cada vez más lo que no sé
Esta coisa da alma (2000)
1.- Maria II
2.- Quadras
3.- Dor Repartida
4.- Por um Acaso
5.- Memórias de um Chapéu
6.- Escadas sem Um Corrimão
7. Se ao Menos Houvesse um Dia
8.- Quem à Janela
9.- Fado da Recaida
10.- Balada
11.- Canção
12.- Não Posso
13.- Sopra Demais o Vento
14.- A Luz de Lisboa (Claridade)
Maria II
Nova luz, que me rasga dentro da alma / Dum desejo melhor me veste a vida / Outra fada celeste agora leva / Minha débil ventura adormecida / Não sei que novos horizontes vejo / Que pura e grande luz inunda a esfera / Quem, nuvens deste inverno, nesse espaço / Em flores vos mudou de primavera? / Se as noites nos enviam mais segredos / Ao sacudir seus vaporosos mantos / Se desprendem do seio mais suspiros / É que dizem teu nome nos seus cantos / Nem eu sei se houve amor até este dia / Nem eu sei se dormi até esta hora / Mas, quando me roçou o teu vestido / Abri o meu olhar: acordo agora!
Nueva luz que me rasga dentro del alma / De un deseo mejor me viste la vida / Otra hada celeste ahora me lleva / Mi débil ventura adormecida / No sé qué nuevos horizontes veo / Que pura y gran luz inunda la esfera / ¿Quién, nubes de este invierno, en ese espacio / En flores os mudo de primavera? / Si las noches nos envían más secretos / Al sacudir sus vaporosos mantos / Si desprenden del seno más suspiros / Es que dicen tus nombres en sus cantos / Ni yo sé si hubo amor hasta este día / Ni yo sé si dormí hasta esta hora / Pero, cuando me rozó tu vestido / Abri mi mirada: ¡Despierta ahora!
Quadras
O amor, quando se revela / Não se sabe revelar / Sabe bem olhar pra ela / Mas não lhe sabe falar / Quem quer dizer o que sente / Não sabe o que há-de dizer / Fala: parece que mente / Cala: parece esquecer / Ah, mas se ela adivinhasse / Se pudesse ouvir o olhar / E se um olhar lhe bastasse / Pra saber que a estão a amar! / Mas quem sente muito, cala / Quem quer dizer quanto sente / Fica sem alma nem fala / Fica só, inteiramente!
El amor, cuando se revela / No se sabe revelar / Sabe bien mirar hacia ella / Pero no le sabe hablar / Quien quiere decir lo que siente / No sabe lo que ha de decir / Habla: parece que miente / Calla: parece olvidar / Ay, pero si ella adivinase / Si pudiese oír la mirada / Y si una mirada le bastase / ¡Para saber que la están amando! / Pero quien siente mucho, calla / Quien quiere decir cuanto siente / Se queda sin alma y no habla / Se queda solo, ¡enteramente!
Dor repartida
Cinzento porque chovia / Todo o céu que me cobria / Comigo chorava tanto / Mas ali à minha frente / Afastado e tão presente / O rio secou o meu pranto / No fundo das suas águas / Adormeceu minhas mágoas / E acordei menos triste / A dor ao mar entregava / Enquanto às margens contava / A razão porque partiste / Sem ti seguirei viagem / Como o rio que larga a margem / E continua sozinho / Com a força da corrente / Que se reparte entre a gente / Hei-de encontrar o caminho / É na força da corrente / Que se reparte entre a gente / Que eu encontro o meu caminho
Ceniciento porque llovía / Todo el cielo que me cubría / Conmigo lloraba tanto / Pero allí, frente a mí / Alejado y tan presente / El río secó mi llanto / En el fondo de sus aguas / Se adormecieron mis amarguras / Y me desperté menos triste / El dolor entregaba al mar / En cuanto a las orillas contaba / La razón por qué partiste / Sin ti seguiré el viaje / Como el río que abandona su orilla / Y continúa solo / Es con la fuerza de la corriente / Que se reparte entre la gente / Que yo encuentro mi camino
Por um acaso
Entendi que era verdade / Toda aquela claridade / A entrar pela janela / Vi teus olhos a brilhar / Duma cor que vem do mar / E de todas a mais bela / Foi o encanto desse olhar / Que me fez acreditar / Na repentina verdade / Corri para porta da rua / E a vontade nua e crua / Era agora realidade / Eu por ti então tirei / As cortinas que fechei / Noutro tempo que vivi / Entre crenças nublosas / Tuas súplicas teimosas / Me juntaram mais a ti / Lembro esse dia distante / Em que só por um instante / Esqueci a cortina aberta / Afinal um esquecimento / Revelou num só momento / Toda a luz da descoberta
Entendí que era verdad / Toda aquella claridad / Que entraba por la ventana / Vi tus ojos brillando / Con un color que viene del mar / Y de todos el más bello / Fue el encanto de ese mirar / Que me hizo creer / En la repentina verdad / Corrí a la puerta de la calle / Y el deseo desnudo y crudo / Era ahora realidad / Yo por ti entonces corrí / Las cortinas que abrí / En otro tiempo que viví / Entre creencias nubladas / Tus súplicas obstinadas / Me unieron más a ti / Recuerdo ese día distante / En que sólo por un instante / Olvidé la cortina abierta / Al final un olvido / Reveló en un solo momento / Toda la luz descubierta
Memórias de um chapéu
Quisera então saber toda a verdade / De um chapéu na rua encontrado / Trazendo a esse dia uma saudade / De algum segredo antigo e apagado / Sentado junto à porta desse encontro / Ficando sem saber a quem falar / Parado sem saber qual era o ponto / Em que devia então eu começar / Parada na varanda estava ela a meditar / Quem sabe se na chuva, no sol, no vento ou mar / E eu ali parado perdi-me a delirar / Se aquela beleza era meu segredo a desvendar / Porém apagou-se a incerteza / Eram traços de beleza os seus olhos a brilhar / E vendo que outro olhar em frente havia / Só não via quem não queria da paixão ouvir falar / Um dia entre a memória e o esquecimento / Colhi aquele chapéu envelhecido / Soltei o pó antigo entregue ao vento / Lembrando aquele sorriso prometido / As abas tinham vincos mal traçados / Marcados pelas penas ressequidas / As curvas eram restos enfeitados / De um corte de paixões então vividas
Quisiera entonces saber toda la verdad / De un sombrero encontrado en la calle / Trayendo a ese día una saudade / De algún secreto antiguo y apagado / Sentado junto a la puerta de ese encuentro / Quedándome sin saber a quien hablar / Parado sin saber cuál era el punto / En que yo debía entonces comenzar / Parada en la baranda ella estaba meditando / Quién sabe si en la lluvia, en el sol, en el viento o el mar / Y yo parado allí me perdí a delirar / Si aquella belleza era mi secreto a desvelar / Sin embargo se apagó la duda / Eran trazos de belleza sus ojos brillando / Y viendo que enfrente había otra mirada / Sólo no veía quien no quería oír hablar de pasión / Un día entre la memoria y el olvido / Cogí aquel sombrero envejecido / Le quité el polvo antiguo y lo entregué al viento / Recordando aquella sonrisa prometida / Las alas tenían dobleces mal trazadas / Marcadas por las penas resecas / Las curvas eran restos adornados / De un corte de pasiones mal vividas
Escadas sem corrimão
É uma escada em caracol / E que não tem corrimão / Vai a caminho do Sol / Mas nunca passa do chão / Os degraus, quanto mais altos / Mais estragados estão / Nem sustos nem sobressaltos / Servem sequer de lição / Quem tem medo não a sobe / Quem tem sonhos também não / Há quem chegue a deitar fora / O lastro do coração / Sobe-se numa corrida / Corre-se perigos em vão / Adivinhaste: é a vida / A escada sem corrimão
Hay una escalera de caracol / Que no tiene pasamanos / Va hacia el camino del sol / pero nunca pasa del suelo / Los escalones, cuanto más altos / Más gastados están / Ni sustos ni sobresaltos / Sirven siquiera de lección / Quien tiene miedo no la sube / Quien tiene sueños tampoco / Hay quien llega a dejar fuera / El lastre del corazón / Si se sube de una carrera / Se corren peligros en vano / Adivinaste: es la vida / La escalera sin pasamanos
Se ao menos houvesse um dia
Se ao menos houvesse um dia / Luas de prata gentia / Nas asas de uma gazela / E depois, do seu cansaço / Procurasse o teu regaço / No vão da tua janela / Se ao menos houvesse um dia / Versos de flor tão macia / Nos ramos com as cerejas / E depois, do seu outono / Se dessem ao abandono / Nos lábios, quando me beijas / Se ao menos o mar trouxesse / O que dizer e me esquece / Nas crinas da tempestade / As palavras litorais / As razões iniciais / Tudo o que não tem idade / Se ao menos o teu olhar / Desse por mim ao passar / Como um barco sem amarra / Deste fado onde me deito / Subia até ao teu peito / Nas veias de uma guitarra
Si al menos hubiese un día / Lunas de plata salvaje / En las alas de una gacela / Y después de su cansancio / Buscase tu regazo / En el vano de tu ventana / Si al menos hubiese un día / Versos de flor tan suave / En ramos como cerezas / Y después de su otoño / Se diesen al abandono / En los labios, cuando me besas / Si al menos el mar trajese / Lo que se me olvida decir / En las crines de la tempestad / Las palabras litorales / Las razones iniciales / Todo lo que no tiene edad / Si al menos tu mirada / Reparase en mí al pasar / Como un barco sin amarras / De este fado donde me acuesto / Subiría hasta tu pecho / En las velas de mi guitarra
Quem à janela
Ninguém sabe por que fados / Os ventos sopram sozinhos / Às janelas da saudade / Arrastando tempestades / Que nos fustigam as carnes / Desfazendo com uivados / O que foi a nossa imagem / Resto de nós, quase aragem / À janela / À janela / À janela / E haverá um lugar / Onde toda esta colheita / De razões mais que maduras / Fermente enfim descansada / Desfazendo até ao osso / Este esboço de pureza / Desfeito em água mirada / Que está aonde e é o quê / À janela / À janela / À janela / Bato ao postigo, à vidraça / Responde o eco, batendo / Não sei se lá está alguém / Ou não quer, não pode ouvir-me / Quisera eu estar lá dentro / E fora também, batendo / Quisera eu ser alívio / Pra nosso alívio encontrar
Nadie sabe por qué fados / Los vientos soplan solos / A las ventanas de la saudade / Arrastrando tempestades / Que nos fustigan las carnes / Deshaciendo con aullidos / Lo que fue nuestra imagen / Resto de nosotros, casi una brisa / A la ventana / A la ventana / A la ventana / Y habrá un lugar / Donde toda esta recolecta / De razones más que maduras / Fermente al fin descansada / deshaciendo hasta el hueso / Este esbozo de pureza / Deshecho en agua mirada / Que está donde y es lo que es / A la ventana / A la ventana / A la ventana / Golpeo el postigo, el ventanal / Responde el eco, batiendo / No se si ahí hay alguien / O no quiere o no puede oírme / Yo quisiera estar ahí dentro / Y fuera también, golpeando / Para encontrar nuestro alivio
Fado da recaida
Lembrei-me de ti sem querer / Entrei num bar e bebi / Paguei a conta de dois / Não consigo perceber / Porque me lembrei de ti / Todo este tempo depois / Fui à rua onde vivias / Vi a tua luz acesa / Apeteceu-me beber / Fui ao bar onde tu ias / E sentado à mesma mesa / Lembrei-me de ti sem querer / Perguntei sem reparar / Com quem vivias agora / Se alguém sabia de ti / Mas antes de alguém falar / Levantei-me, fui-me embora / Entrei num bar e bebi / Que feitiço ou que loucura / Voltar a sentir ciúme / Todo este tempo depois / Andar à tua procura / E nos sítios do costume / Pagar a conta de dois / Rua em rua, bar em bar / Já não sei se te esqueci / Se não te quero esquecer / O que procuro encontrar / Para me perder de ti / Não consigo perceber / Lá em cima continua / A tua janela acesa / Como quando te perdi / E no bar da tua rua / Há dois copos sobre a mesa / Porque me lembrei de ti / Em tantas noites iguais / Perdoei o que tardaste / Quando vivemos os dois / Não te perdoo nunca mais / A noite que me estragaste / Todo este tempo depois
Me acordé de ti sin querer / Entré en un bar y bebí / Pagué la cuenta de dos / No consigo percibir / Porque me acordé / Todo este tiempo después / Fui a la calle en que vivías / Vi tu luz encendida / Me apeteció beber / Fui al bar donde tú ibas / Y sentado en la misma mesa / Me acordé de ti sin querer / Pregunté sin darme cuenta / Con quién vivías ahora / Si alguien sabía de ti / Pero antes de que alguien hablase / Me levanté, me fui fuera / Entré en un bar y bebí / Qué hechizo o qué locura / Volver a sentir celos / Después de todo este tiempo / Andar buscándote / En los sitios de costumbre / Pagar la cuenta de dos / De calle en calle, de bar en bar / Ya no sé si te olvidé / Si no te quiero olvidar / Lo que busco encontrar / Para olvidarme de ti / No consigo darme cuenta / Allí arriba continúa / Tu ventana encendida / Como cuando te perdí / Y en el bar de tu calle / Hay dos cuerpos sobre la mesa / Porque me acordé de ti / En tantas noches iguales / Perdoné o que tardaste / Cuando vivimos los dos / No te perdono nunca más / La noche que me dañaste / Todo este tiempo después
Balada
Na rua da solidão / Sem alegrias nem dores / Habita o meu coração / À espera dos seus amores / Meus amores onde estão? / Uns partiram sem querer / Andam perdidos alguns / Outros são meus sem os ter / Como se fossem nenhuns / Quando e como os posso ver? / Há castelos, há inimigos / Que não os deixam passar / Mas sei que não temem perigos / E sei que me ouvem chamar / Quero meus os seus castigos! / Da rua da solidão / Onde o sol mal chega às flores / Parte, vai, meu coração / Em busca dos teus amores / Meus amores vencerão
En la calle de la soledad / Sin alegrías ni dolores / Habita mi corazón / A la espera de sus amores / ¿Mis amores dónde están? / Unos partieron sin querer / Andan perdidos algunos / Otros son míos sin tenerlos / Como si fuesen ninguno / ¿Cuándo y cómo los puedo ver? / Hay castillos, hay enemigos / Que no los dejan pasar / Pero sé que no temen peligros / Y sé que me oyen llamar / ¡Quiero míos sus castigos! / De la calle de la soledad / Donde el sol apenas llega a las flores / Parte, se va mi corazón / En busca de tus amores / Mis amores vencerán
Canção
Não te deites coração / À sombra dos teus amores / Não durmas, olha por eles / Com alegrias e dores / Não tenhas medo. O calor / Que vem das serras ao mar / Erguendo incêndios, não queima / O que não é de queimar / Agradece ao vento frio / Que traz chuva miudinha / É neve que se aproxima / Tormenta que se avizinha... / Nos incêndios naturais / Queimo ramos de saudades / E faz a tua canção / Do grito das tempestades
No te acuestes corazón / A la sombra de tus amores / No duermas, mira por ellos / Con alegrías y dolores / No tengas miedo. El calor / Que viene de las sierras al mar / Irguiendo incendios, no quema / Lo que no debe quemar / Agradece al viento frío / Que trae lluvia pequeñita / Y nieve que se aproxima / Tormenta que se avecina... En los incendios naturales / Quemo ramos de saudades / Y haz tu canción / Del grito de las tempestades
Não posso
Pedes-me um canto, anjo? / Ai não, não sei cantar-te / Hinos para elevar-te / Não sabe a minha voz / Os grandes sentimentos / As majestosas cenas / Sentimo-las apenas / Que mais podemos nós? / Nas praias do oceano / Ao som dos seus bramidos / Enlevam-se os sentidos / Escuta o coração / Ai não me peças cantos! / O sentimento é mudo / Diga o silêncio tudo / Quanto eu não sei cantar / Mas, se amas ... se no peito / Intima voz te fala / Tudo o que a lira cala / Lerás no meu olhar
¿Me pides un canto, ángel? / Ay, no, no sé contarte / Himnos para elevarte / No sabe mi voz / Los grandes sentimientos / Las majestuosas escenas / Las sentimos apenas / ¿Qué más podemos nosotros? / En las playas del océano / Al son de sus bramidos / Se extasían los sentidos / Escucha el corazón / ¡Ay, no me pidas cantos! / El sentimiento es mudo / Diga todo el silencio / Cuanto yo no sé cantar / Pero, si amas... si en el pecho / Intima voz te habla / Todo lo que la lira calla / Leerás en mi mirar
Sopra demais o vento
Sopra demais o vento / Para eu poder descansar / Há no meu pensamento / Qualquer coisa que vai parar / Talvez esta coisa da alma / Que acha real a vida / Talvez esta coisa calma / Que me faz a alma vivida / Sopra um vento excessivo / Tenho medo de pensar / O meu mistério eu avivo / Se me perco a meditar / Vento que passa e esquece / Poeira que se ergue e cai / Ai de mim se eu pudesse / Saber o que em mim vai!
Sopla de más el viento / Para que yo pueda descansar / Hay en mi pensamiento / Cualquier cosa que va a parar / Tal vez esta cosa del alma / Que encuentra real la vida / Tal vez esta cosa calma / Que me hace el alma vivida / Sopla un viento excesivo / Tengo miedo de pensar / Mi misterio yo lo avivo / Si me pierdo en meditar / Viento que pasa y olvida / Polvareda que se yergue y cae / ¡Ay de mí, si yo pudiese / Saber lo que va en mí!
A luz de Lisboa (Claridade)
Quando Lisboa escurece / E devagar adormece / Acorda a luz que me guia / Olho a cidade e parece / Que é de tarde que amanhece / Que em Lisboa é sempre dia / Cidade sobrevivente / De um futuro sempre ausente / De um passado agreste e mudo / Quanto mais te enches de gente / Mais te tornas transparente / Mais te redimes de tudo / Acordas-me adormecendo / E dos sonhos que vais tendo / Faço a minha realidade / E é de noite que eu acendo / A luz do dia que aprendo / Com a tua claridade
Cuando Lisboa oscurece / Y despacio adormece / Despierta la luz que me guía / Miro la ciudad y parece / Que es de tarde que amanece / Que en Lisboa es siempre de día / Ciudad superviviente / De un futuro siempre ausente / De un pasado agreste y mudo / Cuanto más te llenas de gente / Más transparente te vuelves / Más te redimes de todo / Me despiertas adormeciendo / Y de los sueños que vas teniendo / Hago mi realidad / Y es por la noche que enciendo / La luz del día que aprendo / Con tu claridad
Pelo dia dentro (2001)
01.Filosofias
02.Templo Dourado
03.Marcha do Bairro Alto 1995
04.Noite Apressada
05.Redond /Ilha
06.Fado da Vendedeira
07.Ela Tinha Uma Amiga
08.A Cantar (É que te deixas levar)
09.Fado Sagitário
10.Complicadissima Teia
11.Mais um Fado no Fado
12.Terreiro dos Passos
13.Elegia do Amor
14.Sem Deus nem Senhor
15.Estranho Fulgor
Filosofias
Meu coração, que pranteias? / Não tenhas dó de ninguém / Não queiras penas alheias / Que as tuas chegam-te bem! / Se fosses de gelo feito / De mármore ou de granito / Não galopavas aflito / Pelas ruas do meu peito / Nos artifícios das teias / Da triste melancolia / Que fizeste da alegria / Meu coração, que pranteias? / Quem pensa muito não tem / Horas tranquilas, serenas! / Penas! Não queiras mais penas / Que as tuas chegam-te bem!
Corazón mío, ¿qué lloras? / No sientas dolor por nadie / No quieras penas ajenas / Que con las tuyas te basta / Si estuvieses hecho de hielo / De mármol o de granito / No galoparías afligido / Por las calles de mi pecho / En los artificios de las telas / De la triste melancolía / Que hiciste de la alegría / Corazón mío, ¿qué lloras? / Quien piensa mucho no tiene / Horas tranquilas, serenas / ¡Penas! / No quieras más penas / Que con las tuyas te basta
Templo dourado
Ao cair da noite, salta o muro / Deita abaixo a porta da fachada / Vai p’lo corredor comprido e escuro / Corre os cantos da casa abandonada / Pelas brechas do soalho apodrecido / Saúda com a ponta dos teus dedos / O chão inicial que foi escondido / A pedra que guardou os teus segredos / Desmonta uma a uma as fechaduras / Rasga as cortinas, esventra as almofadas / Para que as penas cubram as molduras / E voem p’las janelas escancaradas / Destapa os retratos de família / Dos lençóis que os protegem da poeira / Transforma cada peça da mobília / Em achas preparadas prá fogueira / P’la sala espalha ramos de alecrim / Acende um candelabro bem no centro / Fuma um cigarro, sai pelo jardim / E entra cantando p’lo dia dentro
Al caer de la noche, salta el muro / Deja abajo la puerta ya cerrada / Va por el pasillo estrecho y oscuro / Recorre los rincones de la casa abandonada / Por las brechas de la tarima podrida / Saluda con la punta de tus dedos / El suelo inicial que fue escondido / La piedra que guardó tus secretos / Desmonta una a una las cerraduras / Rasga las cortinas, rompe las almohadas / Para que las penas cubran las molduras / Y vuelen por las ventanas abiertas de par en par / Destapa los retratos de familia / De los lienzos que los protegen del polvo / Transforma cada pieza del mobiliario / En astillas preparadas para la hoguera / Por la sala desparrama ramos de romero / Enciende un candelabro justo en el centro / Fuma un cigarro, sal al jardín / Y entra cantando al interior del día
Marcha do Bairro Alto 1995
Sou o Bairro Alto / E olho sempre de alto / Prás tristezas que Lisboa tem / Sou o Bairro Alto / Pronto a dar o salto / Para um tempo novo que aí vem / Todo o bom filho sai / Conforme os pais que tem / O Fado é meu pai / Lisboa, minha mãe / E eles cantando / Vão-me preparando / Para um tempo novo que aí vem / Nem quando foi dos terramotos do Marquês / Nem com as maldades que o Fado sempre lhe fez / Do Bairro Alto, cá no alto, eu vi Lisboa a chorar / Deu sempre a volta, pôs-me à solta e ensinou-me a cantar / O tempo corre, mas a vida continua / Lisboa morre por sair comigo à rua / Fez uma marcha ao meu jeito / Vestiu-me a preceito / E cá vou eu a desfilar / Sou o Bairro Alto / E olho sempre de alto / Prás tristezas que Lisboa tem / Porque ela cantando / Me foi preparando / Para o tempo novo que aí vem / O Fado é meu pai / Lisboa, minha mãe / E um bom filho sai / Conforme os pais que tem / Sou o Bairro Alto / Pronto a dar o salto / Para um tempo novo que aí vem / Nem quando foi seu coração incendiado / Ou quando viu o Parque Mayer apagado / Do Bairro Alto, cá no alto, eu vi Lisboa a chorar / Do que era pranto, fez um canto e ensinou-me a cantar / O tempo corre, é a marcha desta vida / Lisboa morre por ver a sua Avenida / Cheia de gente tão diferente / A ver-me tão contente / Por ela abaixo a desfilar / Sou o Bairro Alto / E olho sempre de alto / Prás tristezas que Lisboa tem / Porque ela cantando / Me foi preparando / Para um tempo novo que aí vem / O Fado é meu pai / Lisboa, minha mãe / E um bom filho sai / Conforme os pais que tem / Sou o Bairro Alto / Pronto a dar o salto / Para um tempo novo que aí vem
Soy el Barrio Alto / Y miro siempre desde lo alto / A las tristezas que Lisboa tiene / Soy el Barrio Alto / Preparado a dar el salto / A un tiempo nuevo que ahí viene / Todo buen hijo sale / Según los padres que tenga / El Fado es mi padre / Lisboa, mi madre / Y ellos cantando / Me van preparando / Para un tiempo nuevo que ahí viene / Ni cuando sucedieron los terremotos del Marqués / Ni con las maldades que el Fado siempre le hace / Desde el Barrio Alto, aquí en lo alto, vi a Lisboa llorar / Me dio siempre la vuelta, me dejó en libertad y me enseñó a cantar / El tiempo corre, pero la vida continúa / Lisboa se muere por salir conmigo a la calle / Hizo una marcha a mi estilo / Me vistió rigurosamente / Y aquí estoy yo desfilando / Soy el Barrio Alto / Y miro siempre desde lo alto / A las tristezas que Lisboa tiene / Me fui preparando / Para un tiempo nuevo que ahí viene / El Fado es mi padre / Lisboa, mi madre / Y un buen hijo sale / Según los padres que tiene / Soy el Barrio Alto / Preparado a dar el salto / A un tiempo nuevo que ahí viene / Ni cuando su corazón fue incendiado / Ni cuando vio el Parque Mayer apagado / Desde el Barrio Alto, aquí en lo alto, vi a Lisboa llorar / De lo que era llanto, hizo un canto y me enseñó a cantar / El tiempo corre, es el curso de esta vida / Lisboa se muere por ver su Avenida / Llena de gente tan diferente / Al verme tan contento / Desfilar por su parte baja / Soy el Barrio Alto / Y miro siempre desde lo alto / A las tristezas que Lisboa tiene / Porque ella cantando / Me fue preparando / Para un tiempo nuevo que ahí viene / El fado es mi padre / Lisboa, mi madre / Y un buen hijo sale / Según los padres que tenga / Soy el Barrio Alto / Preparado a dar el salto / A un tiempo nuevo que ahí viene
Noite apressada
Era uma noite apressada / Depois de um dia tão lento / Era uma rosa encarnada / Aberta nesse momento / Era uma boca fechada / Sob a mordaça de um lenço / Era afinal quase nada / E tudo parecia imenso! / Imensa a casa perdida / No meio do vendaval / Imensa a linha da vida / No seu desenho mortal / Imensa na despedida / A certeza do final / Era uma haste inclinada / Sob o capricho do vento / Era minh’ alma, dobrada / Dentro do teu pensamento / Era uma igreja assaltada / Mas que cheirava a incenso / Era afinal quase nada / E tudo parecia imenso / Imensa, a luz proibida / No centro da catedral / Imensa, a voz diluída / Além do bem e do mal / Imensa por toda a vida / Na descrença total
Era una noche apresurada / Después de un día tan lento / Era una rosa encarnada / Abierta en ese momento / Era una boca cerrada / Bajo la mordaza de un pañuelo / Al final era casi nada / ¡Y todo parecía inmenso! / Inmensa la casa perdida / En medio del vendaval / Inmensa la línea de la vida / En su diseño inmortal / Inmensa en la despedida / La certeza del final / Era un astil inclinado / Bajo el capricho del viento / Era mi alma, doblada / Dentro de tu pensamiento / Era una iglesia asaltada / Pero que olía a incienso / Al final era casi nada / Y todo parecía inmenso / Inmensa la luz prohibida / En el centro de la catedral / Inmensa la voz diluida / Más allá del bien y el mal / Inmensa por toda la vida / En descreimiento total
Redond/Ilha
Meu amor, de madrugada / Quando te perdes me perco / Quando a vida está calada / Entre os braços que te cerco / Renasce o lume, e alumia / Faz-se unidade uma idade / Em que é noite e paira o dia / Sem memória nem vontade / E assim se treme e se trama / A teia do que nos falta / Cada lugar minha cama / Cada cama é lua alta / E de repente aparece / Um silêncio entretecido / Em que já nada apetece / Em que tudo tem sentido
Mi amor, de madrugada / Cuando te pierdes me pierdo / Cuando la vida está callada / Entre los brazos con que te estrecho / Renace el fuego, e ilumina / Se hace unidad una edad / En que es de noche y para el día / Sin memoria ni deseo / Y así se tiembla o se trama / El lienzo de lo que nos falta / Cada lugar es mi cama / Cada cama es luna alta / Y de repente aparece / Un silencio entretejido / En que ya nada apetece / En que todo tiene sentido
Fado da vendedeira
Vendedeira que apregoas / Entre muitas coisas boas / Uma vida de cansaço / Rua abaixo, rua acima / Ligeireza de menina / Com vaidade no teu passo / Hoje fruta, amanhã flores / Ao sabor dos teus amores / Tua voz tu vais moldar / Ora triste, ora contente / Se a falar ficas diferente / Não te negas a mostrar / No Inverno és calor / Com certeza sem favor / Nunca paras com o frio / O teu lenço cai no xaile / Como quem dança no baile / Num perfeito desvario / Na cintura bem marcado / Em teu colo pendurado / O avental é um carinho / A brilhar por tanta rua / A saudade é toda tua / Quando mudas de caminho
Vendedora que pregonas / Entre muchas cosas buenas / Una vida de cansancio / Calle abajo, calle arriba / Ligereza de muchacha / Con vanidad en tu paso / Hoy fruta, mañana flores / Al sabor de tus amores / Tu voz modularás / Ora triste, ora contenta / Si al hablar te pareces distinta / No te niegas a mostrarlo / En el invierno eres calor / Con certeza sin favor / Nunca paras con el frío / Tu pañuelo caen en el chal / Como quien danza en el baile / En un perfecto desvarío / En la cintura bien marcado / En tu regazo colgando / El delantal es un cariño / Que brilla por tu calle / La saudade es toda tuya / Cuando cambias de camino
Ela tinha uma amiga
Ela tinha uma amiga chamada Maria / Que era quem me atendia quando eu telefonava / Ela tinha uma amiga chamada Maria / A quem ela dizia para dizer que não estava / E quando eu insistia, e não desligava / Era sempre a Maria / Que me mentia e me consolava / E perguntava o que é que eu lhe queria / Ela tinha uma amiga chamada Maria / Que nunca sabia por onde ela andava / Ela tinha uma amiga chamada Maria / De quem se servia quando me enganava / E quando eu lá ia, e não a encontrava / Era sempre a Maria / Que me dizia que ela não tardava / Que me jurava que ela voltaria / Quando eu ia buscá-la, e a gente saía / Era sempre a Maria que nos animava / Quando eu a convidava, e ela não queria / Era com a Maria que eu sempre dançava / E quando eu inventava uma melodia / Era sempre a Maria / Que me aplaudia, e ela não ligava / E eu ficava a cantar prá a Maria / No cinema, no escuro, quando eu a beijava / Ela empalidecia, a Maria corava / Ela não me ligava e adormecia / E era com a Maria / Que eu conversava / E que eu ficava quase até ser dia / Ela tinha uma amiga chamada Maria / A quem ela dizia p’ra dizer que não estava / Até que outro dia ela me telefonou / E eu disse: Maria... / E eu disse: Maria! / E eu disse: “Maria, vai dizer que eu não estou!”
Ella tenía una amiga llamada María / Que era quien me atendía cuando yo telefoneaba / Ella tenía una amiga llamada María / A quien ella mandaba decir que no estaba / Y cuando yo insistía, y no descolgaba / Era siempre María / Quien me mentía y me consolaba / Y me preguntaba para qué la quería / Ella tenía una amiga llamada María / De quien se servía cuando me engañaba / Y cuando yo iba allí, y no la encontraba / Era siempre María / La que me decía que no tardaría / Quien me juraba que ella volvería / Cuando yo iba a buscarla / Y la gente salía / Era siempre María quien nos animaba / Cuando yo la invitaba, y ella no quería / Era con María con quien yo siempre bailaba / Y cuando yo me inventaba una melodía / Era siempre María / Quien me aplaudía, y ella ni se inmutaba / Y yo me encontraba cantando para María / En el cine, en lo oscuro, cuando yo la besaba / Ella empalidecía, María enrojecía / Ella no me atendía y se adormecía / Y era con María / Con quien yo conversaba / Y que yo me quedase hasta casi ser día / Ella tenía una amiga llamada María / A quien ella mandaba decir que no estaba / Hasta que otro día ella me telefoneó / Y yo dije: María... / Y yo dije: María...! / Y yo dije: "¡María, dile que yo no estoy!..."
A cantar
A cantar, a cantar é que te deixas levar / A cantar / Tantas vezes enganada te vi / Ai Lisboa / Quem te dera estar segura / Que o teu canto é sem mistura / E nasce mesmo de ti / Lenço branco / Perdeste-te no cais / Pensaste “nunca mais” / Disseram-te “até quando”? / A cantar / Fizeram-te calar / A dor que, para dentro, ias chorando / Tanta vez / Quiseste desistir / E vimos te partir / Sem norte / A cantar / Fizeram-te rimar / A sorte que te davam com má sorte / A cantar, a cantar é que te deixas levar / A cantar tantas vezes enganada te vi / Ai Lisboa, quem te dera estar segura / Que o teu canto é sem mistura / E nasce mesmo de ti / Tanta vez / Para te enganar a fome / Usaram o teu nome / Nas marchas da Avenida / A cantar / Puseram-te a marchar / Enquanto ias cantando distraída / A cantar / Deixaram-te sonhar / Enquanto foi sonhar à toa / A meu ver / Fizeram-te esquecer / A verdadeira marcha de Lisboa / A cantar, a cantar é que te deixas levar / A cantar tantas vezes enganada te vi / Ai Lisboa, quem te dera estar segura / Que o teu canto é sem mistura / E nasce mesmo de ti
Al cantar, al cantar te dejas llevar / Al cantar / Tantas veces engañada de ti / Ay, Lisboa / Ojalá pudieras estar segura / De que tu canto no está mezclado / Y nace de ti misma / Pañuelo blanco / Te perdiste en el puerto / Pensaste: "nunca más" / Te dijeron: "¿Hasta cuándo?" / Al cantar / Te hicieron callar / El dolor, que por dentro, ibas llorando / Tantas veces / Quisiste desistir / Y te vimos partir / Sin norte / Al cantar / Te hicieron rimar / La suerte que te saban con la mala suerte / Al cantar, al cantar te dejas llevar / Al cantar / Tantas veces engañada de ti / Ay, Lisboa, ojalá pudieras estar segura / De que tu canto no está mezclado / Tantas veces / Para engañarte el hambre / Usaron tu nombre / En las marchas de la Avenida / Al cantar / Te pusieron a marchar / Y mientras ibas cantando distraída / Al cantar / Te dejaron soñar / Y cuando más soñabas / Según mi parecer / Te hicieron olvidar / La verdadera marcha de Lisboa / Al cantar, al cantar te dejas llevar / Al cantar / Tantas veces engañada de ti / Ay, Lisboa, ojalá pudieras estar segura / De que tu canto no está mezclado / Y nace de ti misma
Fado Sagitário
Se foi Deus que quis assim / Nem tu sabes nem eu sei / Mas tenho-te presa a mim / Por tudo o que não te dei / Se eu te desse o que tu queres / Quem sabe se nesse dia / Depois de tu me prenderes / Eu nunca mais te prendia / E se me queres como sou / Não me queiras prisioneiro / Não te daria o que dou / Se me desse por inteiro / Só posso dar-te o que dou / Porque não me dou por inteiro / E por muito que te queixes / Só espero que tu entendas / Que prefiro que me deixes / A deixar que tu me prendas / Bem sei que é contradição / Eu pedir-te liberdade / Sabendo que a condição / É ficar preso à saudade
Si fue Dios quien lo quiso así / Ni tú lo sabes ni yo lo sé / Pero eres presa de mí / Por todo lo que no te di / Si te diese lo que tú quieres / Quién sabe si en ese día / Después que tú me aprisionaras / Yo nunca más te prendería / Y si me quieres como soy / No me quieras prisionero / No te daría lo que doy / Si me diese por entero / Sólo puedo darte lo que doy / Porque no me doy por entero / Y por mucho que te quejes / Sólo espero que me entiendas / Que prefiero que me dejes / A dejar que tú me prendas / Sé bien que es contradicción / Que te pida libertad / Sabiendo que la condición / Es ser preso de la saudade
Complicadissima teia
Quem põe certezas na vida / Facilmente se embaraça / Na vil comédia do amor / Não vale a pena ter alma / Porque o melhor é andarmos / Mentindo seja a quem for / Gosto de saber que vives / Mas não perdi a cabeça / Nem corro atrás do desejo / Quem se agarra muito ao sonho / Vê o reverso da vida / Nos movimentos dum beijo / Ando queimado por dentro / De sentir continuamente / Uma coisa que me rala / Nem no meu olhar o digo / Que estes segredos da gente / Não devem nunca ter fala / Talvez não saibas que o amor / Apesar das suas leis / Desnorteia os corações / Complicadíssima teia / Onde se perde o bom senso / E as mais sagradas razões
Quien pone verdades en la vida / Fácilmente se complica / En la vil comedia del amor / No vale la pena tener alma / Pues lo mejor es que vayamos / Mintiendo a quien sea / Me gusta saber que vives / Pero no perdí la cabeza / No corro tras el deseo / Quien se agarra mucho al sueño / Ve el reverso de la vida / En los movimientos de un beso / Estoy quemado por dentro / De sentir continuamente / Una cosa que me atormenta / Ni en mi mirada lo digo / Que estos secretos de la gente / No deben hablarse nunca / Tal vez no sepas que el amor / A pesar de sus leyes / Desorienta los corazones / Complicadísima red / Donde se pierde el sentido / Y las más sagradas razones
Mais um fado no fado
Eu sei que esperas por mim / Como sempre, como dantes / Nos braços da madrugada / Eu sei que em nós não há fim / Somos eternos amantes / Que não amaram mais nada / Eu sei que me querem bem / Eu sei que há outros amores / Para bordar no meu peito / Mas eu não vejo ninguém / Porque não quero mais dores / Nem mais baton no meu leito / Nem beijos que não são teus / Nem perfumes duvidosos / Nem carícias perturbantes / E nem infernos nem céus / Nem sol nos dias chuvosos / Porque inda somos amantes / Mas Deus quer mais sofrimento / Quer mais rugas no meu rosto / E o meu corpo mais quebrado / Mais requintado tormento / Mais velhice, mais desgosto / E mais um fado no fado
Yo sé que esperas por mí / Como siempre, como antes / En brazos de la madrugada / Yo sé que en nosotros no hay fin / Somos eternos amantes / Que no amaron nada más / Yo sé que me quieres bien / Yo sé que hay otros amores / Para bordar en mi pecho / Pero yo no veo a nadie / Porque no quiero más dolores / Ni más carmín en mi lecho / Ni besos que no sean tuyos / Ni perfumes dudosos / Ni caricias perturbadoras / Ni infiernos ni cielos / Ni sol ni días lluviosos / Porque aún somos amantes / Pero Dios quiere más sufrimiento / Quiere más arrugas en mi rostro / Y mi cuerpo más quebrado / Más refinado tormento / Más vejez, más disgusto / Y un fado más en el fado
Terreiro dos passos
Ai o calor de Dezembro / Girando à volta das casas / Fazendo festas na noite / De uma lareira apagada / Pasmada de iluminada / Ai a matéria dos sonhos / Sem outra vida que a nossa / Em bandos partem imagens / Doirando a luz insegura / Nas asas de feroz doçura / Quebrou-se o riso dos tédios / Na sua própria procura / Paradas ficam nas horas / As águas que não secaram / De desgostos que já se foram / Sei-me à volta disto tudo / Nada disto é coisa alguma / Virei eu mesmo na noite / Vestir o espaço do centro / Da casa onde nunca entro / Vinda da vida há uma sombra / Que encerra a vida que passa / E nessa sombra outra sombra / Mais escura que nenhuma / Sonhando a luz que esvoaça / Nos teus gestos que me tentam / Janelas de eu ver o mundo / Baloiça em jeitos de rede / O descanso dos sentidos / Em memória convertidos / Quem me achar que me procure / Quem me encontrar que me solte / Já estou para além deste arquivo / Onde tudo sabe a pouco / E onde eu morro no que vivo
Ay, el calor de diciembre / Girando alrededor de las casas / Haciendo fiestas en la noche / De una chimenea apagada / Pasmada de iluminada / Ay, la materia de los sueños / Sin otra vida que la nuestra / En bandadas se van imágenes / Dorando la luz insegura / En las alas de feroz dulzura / Se quebró la risa de los tedios / En su propia búsqueda / Paradas se quedan en las horas / Las aguas que no se secaron / De disgustos que ya se fueron / Me sé de vuelta de todo esto / Nada de esto es alguna cosa / Yo mismo giré en la noche / Para vestir el espacio del centro / De la casa donde nunca entro / Venida de la vida hay una sombra / Que encierra la vida que pasa / Y en esa sombra otra sombra / Más oscura que ninguna / Soñando la luz que revolotea / En tus gestos que me tientan / Ventanas con que yo veo el mundo / Bambolea como en una red / El descanso de los sentidos / En memoria convertidos / Quien me encuentre, que me busque / Quien me encuentre que me suelte / Ya estoy fuera de este archivo / Donde todo sabe a poco / Y donde muero en lo que vivo
Elegia do amor
O meu amor por ti / Meu bem, minha saudade / Ampliou-se até Deus / Os astros alcançou / Beijo o rochedo e a flor / A noite e a claridade / São estes, sobre o mundo / Os beijos que te dou / Todo eu fico a cismar / Na louca voz do vento / Na atitude serena / E estranha duma serra / No delírio do mar / Na paz do Firmamento / E na nuvem que estende / As asas sobre a terra / Vivo a vida infinita / Eterna, esplendorosa / Sou neblina, sou ave / Estrela, azul sem fim / Só porque, um dia, tu / Mulher misteriosa / Por acaso, talvez / Olhas-te para mim
Mi amor por ti / Mi bien, mi saudade / Se creció hasta Dios / Alcanzó los astros / Besó el roquedal y la flor / La noche y la claridad / Están sobre el mundo / Los besos que te doy / Todo yo estoy imaginando / En la loca voz del viento / En la altitud serena / Y extraña de una sierra / En el delirio del mar / En la paz del firmamento / Y en la nube que extiende / Las alas sobre la tierra / Vivo la vida infinita / Eterna, esplendorosa / Soy neblina, soy ave / Estrella, azul sin fin / Sólo porque un día tú / Mujer misteriosa / Por casualidad, tal vez / Me miraste
Sem Deus nem Senhor
A luz é tão cega / Que nunca se entrega / Só se deixa ver / Numa razão de ser / Sem sequer entender / Os olhos que a vão receber / E o rasto que fica / É uma coisa antiga / Que a gente tem pr’a dar / E só pode encontrar / Quando morrer a procurar / Salvo pelo amor / Só se pode ser salvo pelo amor / No sentido perdido ganhador / Não tem Deus nem Senhor / Esta dor / Anda à solta por aí / Que eu bem a vi / Ai, se eu pudesse parar / Se eu vos pudesse contar / Salvo pelo amor / Não existe derrota para a dor / Com o seu capital triturador / Não tem Deus nem Senhor / É simplesmente dor / Que é o que faz questão de ser / Sem entender / Que a vida toda surgiu / De um sol que nunca se viu / Nem sei se existe
La luz es tan ciega / Que nunca se entrega / Sólo se deja ver / En una razón de ser / Sin siquiera entender / Los ojos que la van a recibir / Y el rastro que queda / Es una cosa antigua / Que la gente tiene para dar / Y sólo puede encontrar / Cuando muere buscando / Salvo por el amor / Sólo se puede ser salvado por el amor / En el sentido perdido ganador / No tiene Dios ni Señor / Este dolor / Va en libertad por ahí / Que yo lo vi bien / Ay, si yo pudiese parar / Si yo os pudiese contar / Salvo por el amor / No existe derrota para el dolor / Con su capital triturador / no tiene Dios ni Señor / Es simplemente dolor / Que es lo que hace cuestión de ser / Sin entender / Que toda la vida surgió / De un sol que nunca se vio / Ni sé si existe
Estranho fulgor
Deu-me Deus bodas vermelhas / E palavras como abelhas / Esquecendo-se de mim / Deu-me a paz de alguns minutos / E palavras como frutos / Esquecendo-se de mim / Deu-me as ideias formosas / E palavras como rosas / Esquecendo-se de mim / Deu-me a voz que persuade / Muito mais do que a verdade / Esquecendo-se de mim / Mas um dia, veio a dor / Veio o castigo sem fim / Veio esse estranho fulgor / Apartando o bem do mal / E vi que Deus afinal / Já se lembrava de mim...
Me dio Dios bodas rojas / Y palabras como abejas / Olvidándose de mí / Me dio la paz de algunos minutos / Y palabras como frutos / Olvidándose de mí / Me dio ideas hermosas / Y palabras como rosas / Olvidándose de mí / Me dio la voz que persuade / Mucho más que la verdad / Olvidándose de mí / pero un día vino el dolor / Vino el castigo sin fin / Vino ese extraño fulgor / Alejando el bien del mal / Y vi que Dios al final / ya se acordaba de mí…
Como sempre... como dantes (2003)
Disco recopilatorio
The art of Camané (2004)
Disco recopilatorio
Sempre de mim (2008)
01.Mar impossível
02.Tudo isso
03.Lembra-te sempre de mim
04.Bicho de conta
05.Antes do grito
06.Este silêncio
07.Sonhar durante o fado
08.Sei de um rio
09.Dança de volta
10.Ciúmes da saudade
11.Eram morenas tuas mãos
12.Te juro
13.Brado
14.A noite e o dia
15.Ser aquele
16.As palavras
Mar impossível
Na neve mais pura escrevo / As saudades do meu mar / Tenho saudades da areia / Branca de neve ao luar / Tenho saudades do vento / Que sopra breve, indeciso / Leve como um pensamento / Do céu azul, calmo e liso / Tenho saudades das ondas / Das conchas e das sereias / Aqui as ondas são poucas / E vivem paredes meias / No coração com a saudade / De não ver o mar sem fim / (Quando não posso cantar / Tenho saudades de mim)
En la nieve más pura escribo / Las saudades de mi mar / Tengo saudades de la arena / Blanca de nieve a la luz de la luna / Tengo saudades del viento / Que sopla breve, indeciso / Leve como un pensamiento / Del cielo azul, calmo y liso / Tengo saudades de las ondas / De las conchas y de las sirenas / Aquí las olas son pocas / Y viven paredes medias / En el corazón con la saudade / De no ver el mar sin fin / (Cuando no puedo cantar / Tengo saudades de mí)
Tudo isso
Deixei atrás os erros do que fui / Deixei atrás os erros do que quis / E que não pude haver porque a hora flui / E ninguém é exacto nem feliz / Tudo isso como o lixo da viagem / Deixei nas circunstâncias do caminho / No episódio que fui e na paragem / No desvio que foi cada vizinho / Deixei tudo isso, como quem se tapa / Por viajar com uma capa sua / E a certa altura se desfaz da capa / E atira com a capa para a rua
Dejé detrás los errores de lo que fui / Dejé detrás los errores de lo que quise / Y que no pude tener porque la hora fluye / Y nadie es exacto ni feliz / Todo eso, como los restos del un viaje / Dejé en las circunstancias del camino / En el episodio que fui y en la parada / En el desvío que fue cada vecino / Dejé todo eso, como quien se tapa / Por viajar con una capa suya / Y acierta altura se deshace de la capa / Y tira con la capa hacia la calle
Lembra-te sempre de mim
Se alguém pedir a teu lado / Que na música de um fado / A noite não tenha fim / Lembra-te logo de mim! / Se o passado de repente / Mais presente que o presente / Te falar também assim / Lembra-te logo de mim! / Se a chuva no teu telhado / Repetir o mesmo fado / E a noite não tiver fim / Lembra-te sempre de mim! / Lembra-te sempre de mim! / O dia não tem sentido / Quando estás longe de mim... / Se o dia não tem sentido / Que a noite não tenha fim!
Si alguien pidiese a tu lado / Que en la música de un fado / La noche no tenga fin / ¡Acuérdate luego de mí! / Si el pasado de repente / Más presente que el presente / Te hablase también así / ¡Acuérdate luego de mí! / Si la lluvia en tu tejado / Repitiera el mismo fado / Y la noche no tuviese fin / ¡Acuérdate siempre de mí! / ¡Acuérdate siempre de mí! / El día no tiene sentido / Cuando estás lejos de mí.. / Si el día no tiene sentido / ¡Que la noche no tenga fin!
Bicho de conta
Meu pobre bicho de conta / Que te enrolaste de vez / Já não vives nos jardins / Já não sentes, já não vês / Só sei, meu bicho de conta / Que te enrolaste de vez / Minh’alma, se te matei / Perdoa por esta vez / Fiz-te aspirar tão acima / Que desceste onde hoje vês / A seres um bicho de conta / Que te enrolaste de vez / Não deixes o desespero / Ferir-te onde tu não vês / Há mais coisas nesta vida / Mais prazeres, que não vês / Que essa dor que te atingiu / E que te enrolou de vez
Mi pobre bicho bola / Que te enrollaste de una vez / Ya no vives en los jardines / ya no sientes, ya no ves / Sólo sé, mi bicho bola / Que te enrollaste de una vez / Mi alma, si te maté / Perdona por esta vez / Te hice aspirar a lo más alto / Y bajaste donde hoy ves / Que eres un bicho bola / Que te enrollaste de una vez / No dejes la desesperación / herirte donde tú no ves / Hay más cosas en esta vida / Más placeres que no ves / Que ese dolor que te tocó / Es quien te enrolló de una vez
Antes do grito
Foi a mão sem anéis, antes da luva / Sorriso breve, antes do beijo lento / Foi a rosa, entreaberta antes da chuva / Foi a brisa, encontrada antes do vento / Foi a noite, a inocência na demora / Foi a manhã - verde janela aberta / Dois corpos lisos que se vão embora / Como a acordar a praia, ainda deserta / Foi a paz, o silêncio antes do grito / Foi a nudez, antes de ser brocado… / E foi, o cântico interdito / E todo o meu poema recusado!
Fui la mano si anillos, antes del guante / Sonrisa breve, antes del beso lento / Fui la rosa, entreabierta antes de la lluvia / Fui la brisa, encontrada antes de tiempo / Fui la noche, la inocencia en la demora / Fui la mañana: verde ventana abierta / Dos cuerpos desnudos que se marchan lejos / Como para despertar la playa, aun desierta / Fui la paz, el silencio antes del grito / Fui la desnudez antes de des bordado… / Y fui, el cántico prohibido / ¡Y todo mi poema rechazado!
Este silêncio
Há um silêncio pesado / Que não sei de onde é que vem / Nem sei se lhe chamam fado / Ou que outro nome é que tem / Se canto, não me dói tanto / O coração magoado / Mas há em tudo o que canto / Este silêncio pesado / Não é mágoa nem saudade / Nem é pena de ninguém / O silêncio que me invade / E não sei de onde é que vem / Silêncio que anda comigo / E que mesmo sem eu querer / Diz através do que eu digo / O que eu não posso dizer / Este silêncio pesado / Que me suspende e sustém / Não sei se lhe chamam fado / Ou que outro nome é que tem / Se com palavras se veste / A alegria e o pranto / Então que silêncio é este / Que há em tudo o que eu canto
Hay un silencio pesado / Que no sé de dónde viene / Ni sé si le llaman fado / O qué otro nombre tiene / Si canto, no me duele tanto / El corazón herido / Pero hay en todo lo que canto / Este silencio pesado / No es herida ni saudade / Ni es pena de nadie / El silencio que me invade / Y no sé de dónde viene / Silencio que va conmigo / Y que incluso sin yo quererlo / Dice a través de lo que yo digo / Lo que yo no puedo decir / Este silencio pesado / Que me suspende y sujeta / No sé si le llaman fado / O qué otro nombre tiene / Si con palabras e visten / La alegría y el llanto / Entonces, qué silencio es este / Que hay en todo lo que yo canto
Sonhar durante o fado
Cantar / Durante o sono já largado / Depois do amor / Adormecer / Adormecer / Ouvir de lado / Um sopro apuradíssimo / Um canto antiquíssimo / Ao corpo tão chegado / Sonhar durante o fado / Sonhar durante o fado / Sonhar durante o fado / O beijo / Por amor prematurado / E por ciúme / Retrocedido / Levado ao cume / Depois lançado / À dúvida dos ventos / Inúteis movimentos / De volta ao paraíso / Chorar durante o riso / Parar numa lágrima o passado / Sonhar durante o fado / A peça / Que partiu só se conserta / Se alguém de dentro / Fizer melhor / E na janela / Ficar aberta / Em todo, a transparência / E o amor, como a ciência / À vez verificado / Como o destino é o presente do passado / Sonhar durante o fado / Sonhar durante o fado / O amor / Tem por um fio a marioneta / Ou manipula / Ou então respeita / Ou congratula / Ou passa ao lado / Que fazes com a alma / Quando ela se enlaçar / Com o corpo, lado a lado? / Se o pecado é filho do desejo / Vais dizer ao desejo o que é pecado? / Sonhar durante o fado / Sonhar durante o fado
Cantar / Durante el sueño ya huido / Después del amor / Adormecer / Adormecer / Escuchar de lado / Un soplo apuradísimo / Un canto antiquísimo / Al cuerpo tan pegado / Soñar durante el fado / Soñar durante el fado / Soñar durante el fado / El beso / Por amor adelantado / Y por celos / Retrocedido / Llevado a la cima / Después lanzado / A la duda de los vientos / Inútiles movimientos / De vuelta al paraíso / Llorar durante la risa / Detener en una lágrima el pasado / Soñar durante el fado / La parte / Que partió sólo se repara / Si alguien de dentro / Lo hace mejor / Y en la ventana / Queda abierta / En todo, la transparencia / Y el amor, como la ciencia / A la vez verificado / Como el destino es el presente del pasado / Soñar durante el fado / Soñar durante el fado / El amor / Tiene por un hilo a la marioneta / O manipula / O acaso respeta / O felicita / O pasa al lado / ¿Qué haces con el alma / Cuando ella se enlaza / Como el cuerpo, un lado a otro lado? / Si el pecado es hijo del deseo / ¿Vas a decirle al deseo lo que es pecado? / Soñar durante el fado / Soñar durante el fado
Sei de um rio
Sei de um rio… / Sei de um rio / Em que as únicas estrelas / Nele, sempre debruçadas / São as luzes da cidade / Sei de um rio… / Sei de um rio / Rio onde a própria mentira / Tem o sabor da verdade / Sei de um rio / Meu amor, dá-me os teus lábios! / Dá-me os lábios desse rio / Que nasceu na minha sede! / Mas o sonho continua… / E a minha boca (até quando?) / Ao separar-se da tua / Vai repetindo e lembrando / “Sei de um rio… / Sei de um rio…” / Sei de um rio… / Ai! / Até quando?
Sé de un río… / Sé de un río / en que las únicas estrellas / en él siempre asomadas / Son las luces de la ciudad / Sé de un río… / Sé de un río / Río donde la propia mentira / Tiene el sabor de la verdad / Sé de un río / ¡Amor mío, dame tus labios! / Dame los labios de ese río / ¿Qué nació de mi sed! / Pero el sueño continua… / Y mi boca (¿hasta cuándo?) / Al separarse de la tuya / Va repitiendo y recordando / “Sé de un río… / Sé de un río…” / Sé de un río… / ¡Ay! / ¿Hasta cuándo?
Dança de volta
Entrei na dança de roda / Mas não cheguei a dançar / Enganei todas as voltas / – Não me deixaram ficar / Desci por não ter mais forças / As águas verdes sem fundo / Mesmo que voltem as forças / Não quero voltar ao mundo / Entrei na dança e pedi / Alguém que fosse meu par / Não falei senão de ti / – Não me deixaram ficar / Desci por não ter mais forças / As águas verdes do lago / Mesmo que voltem as forças / Não voltarei a ser escravo / Entrei na dança contente / De poder enfim dançar / Quando viram quem eu era / – Não me deixaram ficar / Desci por não ter mais forças / As águas verdes sem fim / Mesmo que voltem as forças / Não me separo de mim
Entré en la pista de baile / Pero no llegué a bailar / Engañé todas las vueltas: / No me dejaron quedarme / Bajé porque no tenía más fuerzas / A las aguas verdes sin fondo / Y aunque regresen las fuerzas / No quiero volver al mundo / Entré en el baile y pedí / A alguien que fuese mi pareja / No hablé más que de ti / No me dejaron quedarme / Bajé porque no tenía más fuerzas / A las aguas verdes del lago / Y aunque regresen las fuerzas / No volveré a ser esclavo / Entré en la danza contento / De poder al fin danzar / Cuando vieron quien era yo / No me dejaron quedarme / Bajé porque no tenía más fuerzas / A las aguas verdes sin fin / Y aunque regresen las fuerzas / No me separo de mí
Ciúmes da saudade
Se não matas a saudade / Quando morres de vontade / De pôr à saudade fim / É talvez porque preferes / Ter da saudade o que queres / E não me pedes a mim / A saudade em que me deixas / É penhor das tuas queixas / Por não dizeres a verdade / Bastava que me pedisses / De cada vez que me visses / O que pedes à saudade / O que dás, se me não vês / Não consigo que me dês / Por timidez ou vaidade / E a saudade que vais tendo / Com ela vives, morrendo / P’ra me matares de saudade / Talvez seja o que tu queres / E é por isso que preferes / A saudade em vez de mim / Morrendo os dois de saudade / Temos toda a eternidade / P’ra pôr à saudade fim
Si no matas la saudade / Cuando mueres de deseo / De poner a la saudade fin / Es tal vez porque prefieres / Tener de la saudade lo que quieres / Y no me pides a mí / La saudade en que me dejas / Es la señal de tus quejas / Porque no dices la verdad / bastaba que me pidieses / cada vez que me vieses / Lo que le pides a la saudade / Lo que das, si no me ves / No consigo que me des / Por timidez o vanidad / Y la saudade que vas teniendo / Con ella vives, muriendo / Para matarme de saudade / Tal vez sea lo que tú quieres / Y es por eso que prefieres / A la saudade en vez de a mí / Muriendo los dos de saudade / Tenemos toda la eternidad / De poner a la saudade fin
Eram morenas as tuas mãos
Eram morenas tuas mãos tão frias / Verde-esmeralda o teu olhar de gelo / Por que deixaste minhas mãos vazias? / Porquê não vir, meu sonho ou pesadelo? / Eram morenas tuas mãos fingidas / Verde-esmeralda o teu olhar incerto / Sem ti, meu sonho a que não sei dar vida / Não tem futuro o coração deserto / Eram morenas tuas mãos... mordi-as / Verde-esmeralda o teu olhar... beijei-o / (Tudo a sonhar...) / Eu, triste, passo os dias / À espera dum fantasma que não veio
Eran morenas tus manos frías / Verde esmeralda tu mirada de hielo / ¿Por qué dejaste mis manos vacías? / ¿Por qué no vienes, mi sueño o pesadilla? / Eran morenas tus manos fingidas / Verde esmeralda tu mirar incierto / Sin ti, mi sueño al que no sé dar vida / No tiene futuro el corazón desierto / Eran morenas tus manos… las mordí / Verde esmeralda tu mirada… la besé / (Todo soñando) / Yo, triste, paso los días / A la espera de un fantasma que no veo
Te juro
Meus olhos eram mesmo água – Te juro / Lustro de brilho vidrado – Te juro / Meus olhos eram mesmo água / Verde claro / Verde escuro / Três barquinhos de brinquedo – Te juro / Fui botando todos eles – Te juro / Naquele rio tão puro / Naquele rio tão puro / Veio vindo a ventania – Te juro / As águas mudam seu brilho / Quando o tempo é inseguro / Quando o tempo é inseguro – Te juro / Quando as águas escurecem / Todos os barcos se perdem / Entre o passado e o futuro / Entre o passado e o futuro / São dois rios os meus olhos – Te juro / Noite e dia correm, correm – Te juro / Mas não acho o que procuro / Mas não acho o que procuro
Mis ojos eran ciertamente agua: te juro / Lustre de brillo vidriado: te juro / Mis ojos eran ciertamente agua: te juro / Verde claro / Verde oscuro /tres barquitos de juguete: te juro / Fui botándolos todos: te juro / En aquel río tan puro / En aquel río tan puro / Fue llegando el vendaval: te juro / Las aguas cambian su brillo / Cuando el tiempo es inseguro / Cuando el tiempo es inseguro: te juro / Cuando las aguas se oscurecen / Todos los barcos se pierden / Entre el pasado y el futuro / Entre el pasado y el futuro / Mis ojos son dos ríos: te juro / Noche y día corren, corren: te juro / Pero no encuentro lo que busco / Pero no encuentro lo que busco
Brado
Fosse por horas contado / O vento que nos afasta / Seria o mais longo fardo / Com essa força de um brado / Que a garganta nos desgasta / Fosse por dias contado / Todo o mar que nos separa / Seriam dias a nado / Sem nada mais que o brado / De quem nas vagas naufraga / Fosse por meses contado / O céu que não nos agarra / Seria um céu desdobrado / Multiplicado no brado / De cem milhões de guitarras / Só de outros modos contado / Pode ser o que nos mata / Só por gritos de afogados / Só por séculos de fado / Só por milénios de nada
Si fuese por horas contado / El viento que nos aleja / Sería el más largo fardo / Con esa fuerza de una queja / Que la garganta no nos desgasta / Si fuese por días contado / Todo el mar que nos separa / Serían días nadando / Sin nada más que la queja / De quien naufraga en las olas / Si fuese por meses contado / El cielo que no nos atrapa / Sería un cielo desbordado / Multiplicado en la queja / De cien millones de guitarras / Sólo de otros modos contado / Puede ser lo que nos mata / Sólo por gritos de ahogados / Sólo por siglos de fado / Sólo por milenios de nada
A noite e o dia
Ai foi o dia que invadiu a noite / Ou foi a noite que invadiu o dia / A chuva contra o vidro, leve açoite / Quase saudade ou triste alegria / Minha alma quieta em desassossego / Já madrugada ou ainda manhã / Nenhuma sombra sobre o mundo cego / E, no entanto, a escuridão que há / O tempo fraco ou o tempo forte / Luz do que foi, dor do que há-de vir / Simples vazio ou amor de morte / Verdade a chuva e os céus a fingir / Ai foi o dia que invadiu a noite / Ou foi a noite que invadiu o dia / Chove no meu destino, duro açoite / Clara saudade ou negra alegria
Ahí estuvo el día que invadió la noche / O estuvo la noche que invadió el día / La lluvia contra el vidrio, leve azote / Casi saudade o triste alegría / Mi alma quieta en desasosiego / Ya madrugada o aún mañana / Ninguna sombra sobre el mundo ciego / Y, mientras tanto, la oscuridad que hay / El tiempo débil o el tiempo fuerte / Luz de lo que fue, dolor de lo que ha de venir / Simple vacío o amor de muerte / Verdad para la lluvia y los cielos que fingen / Ahí estuvo el día que invadió la noche / O estuvo la noche que invadió el día / llueve en mi destino, duro azote / Clara saudade o negra alegría
Ser aquele
Se estou só, quero não estar / Se não estou, quero estar só / Enfim, quero sempre estar / Da maneira que não estou / Ser feliz é ser aquele / E aquele não é feliz / Porque pensa dentro dele / E não dentro do que eu quis / A gente faz o que quer / Daquilo que não é nada / Mas falha se o não fizer / Fica perdido na estrada
Si estoy solo, no quiero estarlo / Si no lo estoy, quiero estar solo / En fin, quiero siempre estar / De la manera en que no estoy / Ser feliz es ser aquel / Y aquel no es feliz / Porque piensa dentro de él / Y no dentro de lo que yo quise / La gente hace lo que quiere / De aquello que no es nada / Pero falla si el no hacer / Se queda perdido en el camino
As palavras
São as palavras que eu digo / Meu abismo e meu abrigo / Partilha de pão e espanto / Lucidez que desatina / Chão sagrado onde germina / A semente do meu canto / Palavras a que eu entrego / Prazer e desassossego / Tormento e consolação / A quem pergunto e respondo / Quando me exponho e me escondo / Entre a crença e a razão / Palavras que reinvento / Meu desafio e sustento / Pedras de luz e de lodo / Companheiras do caminho / Maneiras de eu estar sozinho / Abraçando o mundo todo / Palavras que só mereço / Se em troca do que lhes peço / Der tudo o que posso dar / Se um dia as não merecer / Que as não consiga dizer / E que eu deixe de cantar / Um dia, se as não merecer / Que as não consiga dizer / E que eu deixe de cantar
Son las palabras que digo / Mi abismo y mi abrigo / División de pan y espanto / Lucidez que desatina / Suelo sagrado en que germina / La simiente de mi canto / Palabras a las que entrego / Placer y desasosiego / Tormento y consolación / A quien pregunto y respondo / Cuando me expongo y me escondo / Entre la creencia y la razón / Palabras que reinvento / Mi desafío y sustento / Piedras de luz y de lodo / Compañeras del camino / Maneras de que esté solo / Abrazando el mundo entero / Palabras que sólo merezco / Si a cambio de lo que les pido / Diera todo lo que puedo dar / Si un día no las mereciera / Por que no consigo decirlas / Es porque de dejé de cantar / Un día, si no las merezco / Porque no consigo decirlas / Es porque dejé de cantar
Do amor e dos dias (2010)
01. Casa (Tentei fugir da mancha mais escura)
02. Emboscadas
03. Súplica
04. Último recado
05. O amor é o amor (Comentário 1)
06. Porta Aberta
07. Fado Livre
08. Lúbrica
09. Depois que um beijo me deste
10. Ausência
11. O amor é o amor (Comentário 2)
12. Tanto me faz
13. Piso térreo
14. A guerra das rosas
15. Porque me olhas assim
16. E por vezes
17. O amor é o amor (Comentário 3)
18. A meu favor
Casa (Tentei fugir da mancha mais escura)
A meu favor / Tenho o verde secreto dos teus olhos / Algumas palavras de ódio / Algumas palavras de amor / O tapete que vai partir para o infinito / Esta noite ou uma noite qualquer / A meu favor / As paredes que insultam devagar / Certo refúgio acima do murmúrio / Que da vida corrente teime em vir / O barco escondido pela folhagem / O jardim onde a aventura recomeça
A mi favor / Tengo el verde secreto de tus ojos / Algunas palabras de odio / Algunas palabras de amor / Una alfombra que va a partir hacia el infinito / Esta noche o una noche cualquiera / A mi favor / Las paredes que lentamente insultan / Cierto refugio encima del murmullo / Que de la vida corriente insiste en venir / El barco escondido entre el follaje / El jardín donde la aventura recomienza
Emboscadas
Foste como quem me armasse uma emboscada / Ao sentir-me desatento / Dando aquilo em que me dei / Foste como quem me urdisse uma cilada / Vi-me com tão pouca coisa / Depois do que tanto amei / Resgatei o teu sorriso / Quatro vezes foi preciso / Por não precisares de mim / E depois, quando dormias / Fiz de conta que fugias / E que eu não ficava assim / Nesta dor em que me vejo / Do nos ver quase no fim / Foste como quem lançasse as armadilhas / Que se lançam aos amantes / Quando amar foi coisa em vão / Foste como quem vestisse as mascarilhas / Dos embustes que se tramam / Ao cair da escuridão / Resgatei o teu carinho / Quatro vezes fiz o ninho / Num beiral do teu jardim / E depois, já em cuidado / Vi no espelho do passado / A tua imagem de mim / E esta dor em que me vejo / De nos ver quase no fim / Foste como quem cumprisse uma vingança / Que guardavas às escuras / Esperando a sua vez / Foste como quem me desse uma bonança / Fraquejando à tempestade / De tão frágil que se fez / Resgatei o teu ciúme / Quatro vezes deitei lume / Ao teu corpo de marfim / E depois, como uma espada / Pousei na terra queimada / O meu ramo de alecrim / E esta dor em que me vejo / De nos ver quase no fim / Foste como quem me armasse uma emboscada / Foste como quem me urdisse uma cilada
Fuiste como quien me trama una emboscada / Al sentirme desatento / Dando aquello en que me di / Fuiste como quien me urde una celada / Me vi con tan poca cosa / Después de haber amado tanto / Rasgue tu sonrisa / Fueron precisas cuatro veces / Porque no me necesitabas / Y después, cuando dormías / Me hice la idea de que huías / Y que yo no me quedaba así / En este dolor en que me veo / de vernos casi en el fin / Fuiste como quien lanza las redes / Que se lanzan a los amantes / Cuando amar fue cosa vana / Fuiste como quien vestía los antifaces / De las mentiras que se traman / Al caer la oscuridad / Rasgué tu cariño / Cuatro veces hice el nido / En una baranda de tu jardín / Y después, ya con cautela / Vi en el espejo del pasado / Tu imagen de mí / Y este dolor en que me veo / De vernos casi en el fin / Fuiste como quien cumplía una venganza / Que ocultabas a oscuras / Esperando su turno / Fuiste como quien me diera la bonanza / Flaqueando en la tempestad / De tan frágil como se hace / Rescaté tu ceniza / Cuatro veces prendí fuego / A tu cuerpo de marfil / Y después, como una espada / Puse en la tierra quemada / Mi ramo de romero / Y este dolor en que me veo / De vernos casi en el fin / Fuiste como quien me trama una emboscada / Fuiste como quien me urde una celada
Súplica
Já quantas vezes / Te pedi que me esquecesses / Ou que ao menos não viesses / Não voltasses mais aqui / Pois tu não vês / Que o mau viver que tu me dês / Só pode ser por malvadez / E eu não espero mais de ti / Já quantas vezes / Te implorei por caridade / Que encobrisses a maldade / Que há-de ir sempre onde tu vais / Eu poderei ser um traidor / Fugir à lei do que é amor / Sofrer bem sei / Mas prender-me nunca mais / Ainda agora / Eu bem sei que tu não gostas / Vou pedir-te de mãos postas / Que me dês o que era meu / Vagas paixões, meus tristes ais / Mil tentações e pouco mais / Do que ilusões / Que o amor…esse morreu
Cuántas veces ya / Te pedí que me olvidaras / O que al menos no vinieses / No volvieses más aquí / Pues tú no ves / Que el mal vivir que tú me des / Suele ser por crueldad / Y yo no espero más de ti / Cuántas veces ya / Te imploré por caridad / Que encubras la maldad / Que ha de ir siempre donde tú vas / Y puede que sea un traidor / Huir de la ley de lo que es el amor / Sufrir sé bien / Pero prenderme nunca más / Aún ahora / Yo sé bien que no te gusto / Voy a pedirte con las manos erguidas / Que me des lo que era mío / Vagas pasiones, mis tristes ays / Mil tentaciones y poco más / Que ilusiones / Que el amor... ese murió
Último recado
No dia em que me deixaste / Nada quis do que te dei / Tudo o que eu tinha levaste / Nem com a saudade fiquei / Se foi tão fácil esquecer-te / E ao pouco bem que me deste / Só me resta agradecer-te / Todo o mal que me fizeste / Aqui vai este recado / Gratidão a que me obrigas / Por tudo, muito obrigado / Por nada, espero que digas / Não penso que ele te fira / Nem qualquer bem te fará / De nada, nada se tira / A nada, nada se dá / / Mas fico mais descansado / Sem nenhum mal entendido / Já que fui mal empregado / Não sou mal agradecido / E serve pra confessar / Quanto fiquei a dever-te / Por nunca poder pagar / O que ganhei em perder-te
En el día en que me dejaste / No quise nada de lo que te di / Todo lo que tenía te lo llevaste / Ni con la saudade me quedé / Si fue tan fácil olvidarte / Y al poco bien que me diste / Sólo me queda agradecerte / Todo el mal que me hiciste /Gratitud a la que me obligas / Por todo, muchas gracias / De nada, espero que digas / No pienso que eso te hiera / Ni que te haga ningún bien / De nada, nada se tira / A nada, nada se da / Pero me quedo más descansado / Sin ningún malentendido / Ya que fui mal empleado / No soy mal agradecido / Y sirve para confesarte / Cuanto te dejé a deber / Por no poder pagar nunca / Lo que gané en perderte
O amor é o amor (Comentário 1)
O amor é o amor - e depois?!
El amor es el amor... ¡¿Y después?!
Porta aberta
Entraste em minha casa de mansinho / P’la porta que te abri de par em par / E juntos começámos um caminho / Que não sabemos bem onde vai dar / Ao peito levo a rosa que trazias / Tingida pelo sangue dos teus dedos / E agora, p’ra não ires de mãos vazias / Eu tenho de abrir mão dos meus segredos / Não sei por quanto tempo ficaremos / No espaço que inventámos p’ra nos ter / Não sei sequer ao certo o que sabemos / Mas sei que não preciso de saber / E um dia, à despedida, queira Deus / Que eu possa partir sem dizer nada / E tu possas dizer, em vez de adeus / Obrigada, meu amor, muito obrigada
Entraste en mi casa de puntillas / Por la puerta que te abrí de par en par / Y juntos comenzamos un camino / Que no sabemos bien dónde va a dar / Llevo en el pecho la rosa que traías / Teñida por la sangre de tus dedos / Y ahora, para que no te vayas de manos vacías / Tengo yo que abrir la mano de mis secretos / No sé por cuánto tiempo nos quedaremos / En el espacio que inventamos para tenernos / No sé si quiera con seguridad lo que sabemos / Pero sé que no necesito saberlo / Y un día, en la despedida, quiera Dios / Que pueda yo partir sin decir nada / Y tú puedas decir, en vez de adiós / Gracias, mi amor, muchas gracias
Fado livre
Não ser livre, não consigo / Por isso já decidi / Se não for livre contigo / Vejo-me livre de ti / Amo-te à minha maneira / Não sei se é crime ou castigo / Mas por muito que eu te queira / Não ser livre, não consigo / Deus me livre de trocar / A liberdade por ti / És livre de não gostar / Por isso já decidi / O risco de te perder / É preço de maior perigo / Deus te livre de eu te querer / Se não for livre contigo / Ao escolher a liberdade / Sabendo que te perdi / Sem me livrar da saudade / Vejo-me livre de ti / Não me livro da saudade / Mas fico livre de ti
No ser libre no lo consigo / Por eso ya decidí / Si no fuese libre contigo / Me veo libre de ti / Te amo a mi manera / No sé si es crimen o castigo / Pero por mucho que yo te quiera / No ser libre no lo consigo / Dios me libre de cambiar / La libertad por ti / Eres libre de que no te guste / Por eso ya he asumido / El riesgo de perderte / Es el precio del mayor peligro / Dios te libre de que yo te quiera / Si no fuese libre contigo / Al escoger la libertad / Sabiendo que te perdí / Sin librarme de la saudade / Me veo libre de ti / No me libro de la saudade / Pero me quedo libre de ti
Lúbrica
Mandaste-me dizer / No teu bilhete ardente / Que hás-de por mim morrer / Morrer muito contente / Lançaste no papel / As mais lascivas frases / A carta era um painel / De cenas de rapazes! / Ó cálida mulher / Teus dedos delicados / Traçaram do prazer / Os quadros depravados! / Contudo, um teu olhar / É muito mais fogoso / Que a febre epistolar / Do teu bilhete ansioso / Do teu rostinho oval / Os olhos tão nefandos / Traduzem menos mal / Os vícios execrandos / Teus olhos sensuais / Libidinosa Marta / Teus olhos dizem mais / Que a tua própria carta / As grandes comoções / Tu, neles, sempre espelhas / São lúbricas paixões / As vívidas centelhas... / Teus olhos imorais / Mulher, que me disecas / Teus olhos dizem mais / Que muitas bibliotecas!
Me mandaste decir / En tu nota ardiente / Que has de morir por mí / Morir muy contento / Lanzaste al papel / Las frases más lascivas / La carta era un lienzo / Con escenas de muchachos / Oh, cálida mujer / Tus dedos delicados / Trazaron en el placer / Los cuadros depravados / Con todo, una mirada tuya / Es mucho más ardiente / Que la fiebre epistolar / De tu nota ansiada / De tu rostrito ovalado / Tus ojos nefandos / Traducen, menos mal / Los vicios abominables / Tus ojos sensuales / Libidinosa Marta / Tus ojos dicen más / Que tu propia carta / Las grandes conmociones / Tú en ellas siempre te reflejas / Son lúbricas pasiones / Las vívidas centellas… / Tus ojos inmorales / Mujer, que me disecas / Tus ojos dicen más / ¡Que muchas bibliotecas!
Depois que um beijo me deste
Outros amores já tiveste / Maiores talvez do que este / Mas uma coisa eu sei bem / Depois que um beijo me deste / Todos os outros esqueceste / E a quem os deste também / Um dia, p’ra me esquecer / Amarás outro qualquer / Mas teu mal não terá fim / Podes amar quem quiseres / Que em cada beijo que deres / Hás-de lembrar-te de mim / Aos outros a quem amares / É melhor beijos não dares / P’ra não sofreres o castigo / De em mim nem sequer pensares / Mas sentires, quando os beijares / Que os atraiçoas comigo
Ya tuviste otros amores / Tal vez mayores que este / Pero sé bien una cosa / Después que me dieras un beso / Olvidaste a todos los otros / Y a quien se los diste también / Un día, para olvidarme / Amarás a cualquier otro / Pero tu mal no tendrá fin / Puedes amar a quien quieras / Que en cada beso que des / Habrás de acordarte de mí / A los otros a quien ames / Es mejor que no les des besos / Para que no sufras el castigo / de no pensar siquiera en mí / Pues sentirías al besarlos / Que los traicionas conmigo
Ausência
Partiste, é-me indiferente / Nem me lembro quando foi / És passado sem presente / Saudade que se não sente / E ferida que já não dói / Não há luz no teu andar / Nem cortinas nas vidraças / Só há silêncio e luar / Um cão vadio a passar / Na rua onde já não passas / Como outra coisa qualquer / No vazio do abandono / O que ficou por dizer / Ajuda-me a adormecer / Nas minhas noites sem sono / Largaste ao sabor do vento / O que guardavas na mão / Palavras e pensamento / Pedras soltas ao relento / Espalhadas pelo chão / Deixaste por despedida / A tua porta fechada / E agora, na minha vida / És uma taça partida / És só ausência e mais nada
Partiste, me es indiferente / Ni recuerdo cuando fue / Eres pasado sin presente / Saudade que si no se siente / Es herida que ya un duele / No hay luz en tu piso / Ni cortinas en las ventanas / Sólo hay silencio y luz de luna / Un perro vagabundo que pasa / En la calle por donde ya no pasas / Como otra cosa cualquiera / En el vacío del abandono / Lo que quedó por decir / me ayuda a adormecerme / En mis noches sin sueño / Dejaste al sabor del viento / Lo que guardabas en la mano / Palabras y pensamiento / Piedras sueltas al relente / Dispersadas por el suelo / Dejaste como despedida / Tu puerta cerrada / Y ahora, en mi vida / Eres una copa partida / Eres sólo ausencia y nada más
O amor é o amor - e depois?!
El amor es el amor... ¡¿Y después?!
O amor é o amor (Comentário 2)
Tanto me faz
Andas a dizer praí / Que morres por me não ver / Eu já não gosto de ti / Não me interessa nem saber / Nem que peças de joelhos / Que eu volte a dar-te o que dava / Não embarco em contos velhos / Era só o que faltava / Fartei-me de te avisar / Não vale a pena insistir / Voltar p’ra ti a chorar / Deixa-me rir / Quando se acaba o amor / Não se volta para trás / Sejas tu, seja quem for / Tanto me faz / Não te adianta querer / Que eu te procure ou te siga / Eu tenho mais que fazer / Não vou na tua cantiga / Dizes que te sentes só / Que choras ter-me perdido / Se esperas que eu tenha dó / Tira daí o sentido / Fartei-me de te avisar… / Que podemos ser felizes / Que já não estás magoada / Dar ouvidos ao que dizes / Não me faltava mais nada / Talvez tu tenhas razão / Talvez eu nunca te esqueça / Mas que eu te peça perdão / Nem te passe pla cabeça / Fartei-me de te avisar… / Não sei mais que te dizer / As coisas são mesmo assim / Mas se me queres convencer / Volta pra mim!
Vas diciendo por ahí / Que te mueres por no verme / Tú ya no me gustas / No me interesa ni saber / Ni aunque lo pidas de rodillas / Que yo vuelva a darte lo que te daba / Ni me embarco en viejos asuntos / Era sólo lo que faltaba / Me harté de avistarte / No merece la pena insistir / Volver a llorar por ti / Déjame reír / Cuando se acaba el amor / No se vuelve hacia atrás / Seas tú, sea quien fuere / Lo mismo me da / No te adelantes queriendo / Que yo te busque o te siga / Yo tengo más por hacer / No voy con tu cantinela / Dices que te sientes sola / Que lloras el haberme perdido / Si esperas que sienta dolor / Aleja ese sentimiento / Me harté de avisarte… / Que podemos ser felices / Que ya no estás herida / Prestando oídos a lo que me dices / No me faltaba nada más / Tal vez tú tengas razón / Tal vez yo nunca te olvide / Aunque te pida perdón / Ni te pase por la cabeza / Me harté de avisarte… / No sé que más decirte / Las cosas son justo así / Pero si me quieres convencer / ¡Vuelve a mí!
Piso térreo
Não aprendi a viver / Amar julguei que bastava / E a pouco e pouco, sem querer / Comecei a perceber / Que já nem sequer te amava / Tudo aquilo que te dou / A fingir que inda te quero / Já não é o que hoje sou / Se chegas, ainda estou / Se faltas, já não te espero / São sombras do que perdi / Os gestos com que te minto / São restos do que senti / Da vida que não vivi / Do amor que já não sinto / Sonhei o sonho perfeito / Adormeci a teu lado / E agora quando me deito / Tu és o sonho desfeito / Que me mantém acordado
No aprendí a vivir / Juzgué que mar bastaba / Y poco a poco, sin querer / Comencé a darme cuenta / De que ya ni siquiera te amaba / Todo aquello que te doy / Fingiendo que aún te quiero / Yo no es lo que hoy soy / Si llegas, aún estoy / Si faltas, ya no te espero / Son sombras de lo que perdí / Los gestos con que te miento / Son restos de lo que sentí / De la vida que no viví / Del amor que ya no siento / Soñé el sueño perfecto / Me adormecí a tu lado / Y ahora cuando me acuesto / Tú eres el sueño deshecho / Que me mantiene despierto
A guerra das rosas
Partiste / Sem dizer adeus nem nada / Fingiste / Que a culpa era toda minha / Disseste / Que eu tinha a vida estragada / E eu gritei-te da escada / Que fosses morrer sozinha / Voltaste / E nem desculpa pediste / Perguntaste / Porque é que eu tinha chorado / Não respondi / Mas quando vi que sorriste / Eu disse que estava triste / Porque tu tinhas voltado / Zangada / Esvaziaste o meu armário / E em nada / Ficou meu disco preferido / De raiva / Rasguei o teu diário / Virei teu saco ao contrário / Dei-te cabo de um vestido / Queimaste / O meu jantar favorito / Deixaste / O meu champanhe azedar / E quando / Cozinhei o periquito / Para abafar o teu grito / Eu comecei a cantar / Fumavas / Eu nem suportava o cheiro / Teimavas / Em me acender um cigarro / E quando / Tu me ofereceste um isqueiro / Atirei-te com o cinzeiro / Escondi as chaves do carro / Não queria / Que visses televisão / Em dia / De jogos de Portugal / Torcias / Contra a nossa selecção / Se eu via um filme de acção / Tu mudavas de canal / Tu querias / Que eu fosse contigo ao bar / Só ias / Se eu não entrasse contigo / Saía / Pra não ter de te aturar / Tu ficavas a dançar / Com o meu melhor amigo / Gozavas / Porque eu não queria beber / Ralhavas / Ao veres-me de grão na asa / Eu ia / À festa sem te dizer / Nunca cheguei a saber / Se tu ficavas em casa / Tu deste / Ao porteiro roupa minha / Soubeste / Que eu lhe dera o teu roupão / Eu dei / O teu anel à vizinha / E pla estima que eu lhe tinha / Ofereceste-lhe o meu cão / Foste-te-me lendo / O teu romance de amor / Sabendo / Que eu não gostava da história / No dia / De o mandares pró editor / Fui ao teu computador / Apaguei-o da memória / Se cozinhavas / Eu jantava sempre fora / Juravas / Que eu havia de pagá-las / Põe-te na rua / Dizias-me a toda a hora / E quando eu me fui embora / Tu ficaste-me coas malas / Depois / Desses anos infernais / Os dois / Éramos caso arrumado / Achando / Que também era demais / Jurámos pra nunca mais / Foi cada um pra seu lado / No escuro / Tu insistes que eu não presto / Eu juro / Que falta a parte melhor / Um beijo / Acaba com o teu protesto / Amanhã conto-te o resto / Boa noite meu amor
Partiste / Sin decir adiós ni nada / Fingiste / Que la culpa era toda mía / Dijiste / Que yo tenía la vida perdida / Y te grité desde la escalera / Que te ibas a morir sola / Volviste / Y ni disculpas pediste / Preguntaste / Por qué yo había llorado / No respondí / Pero cuando vi que sonreíste / Yo dije que estaba triste / Porque habías regresado / Enfadada / Vaciaste mi armario / Y en nada / Quedó mi disco preferido / Rabioso / Rompí tu diario / Di la vuelta a tu chaqueta / Rompí un vestido / Quemaste / Mi comida favorita / Dejaste mi champán avinagrarse / Y cuando / Cociné el periquito / Para ahogar tu grito / Yo comencé a cantar / Fumabas / Y ni el olor soportaba / Insistías / En encenderme un cigarro / Y cuando / Tú me ofreciste un mechero / Te di con el cenicero / Escondí las llaves del coche / No quería / Que vieses la televisión / En el día / De los Juegos de Portugal / Desanimabas a nuestra selección / Si yo veía una película de acción / Tu cambiabas de canal / Tú querías / Que yo fuese contigo al bar / Sólo ibas / Si yo no entraba contigo / Salía / Para no tener que fastidiarte / Tú te quedabas a bailar / Con mi mejor amigo / Gozabas / Porque yo no quería beber / Voceabas / Al verme trompa / Yo me iba / De fiesta sin decírtelo / Nunca llegué a saber / Si te quedabas en casa / Tú le diste / Al portero mi ropa / Supiste / Que yo le había dado tu bata / Yo le di / Tu anillo a la vecina / Y con el cariño que yo le tenía / Le diste mi perro / Me fuiste leyendo / Tu novela de amor / Sabiendo que a mí no me gustaba la historia / En el día / En que la mandabas al editor / Fui a tu ordenador / Lo borré de la memoria / Si cocinabas / Yo comía siempre fuera / Jurabas / Que yo debía pagarlas / Vete en la calle / Me decías a todas horas / Y cuando yo me iba fuera / Tú me dejaste con las maletas / Después / De esos años infernales / Los dos / Éramos caso perdido / Creyendo / Que también era demasiado / Juramos que nunca más / Cada uno fue para su lado / En la oscuridad / Tú insistes en que yo no me rindo / Y juro / Que falta la mejor parte / Un beso / Acaba con tu protesta / Mañana te cuento el resto / Buenas noches, mi amor
É por vezes
Diz-me agora o teu nome / Se já dissemos que sim / Pelo olhar que demora / Porque me olhas assim / Porque me rondas assim / Toda a luz da avenida / Se desdobra em paixão / Magias de druida / P’lo teu toque de mão / Soam ventos amenos / P’los mares morenos / Do meu coração / / Espelhando as vitrinas / Da cidade sem fim / Tu surgiste divina / Porque me abeiras assim / Porque me tocas assim / E trocámos pendentes / Velhas palavras tontas / Com sotaques diferentes / Nossa prosa está pronta / Dobrando esquinas e gretas / P’lo caminho das letras / Que tudo o resto não conta / E lá fomos audazes / Por passeios tardios / Vadiando o asfalto / Cruzando outras pontes / De mares que são rios / E num bar fora de horas / Se eu chorar perdoa / Ó meu bem é que eu canto / Por dentro sonhando / Que estou em Lisboa / Dizes-me então que sou teu / Que tu és toda p’ra mim / Que me pões no apogeu / Porque me abraças assim / Porque me beijas assim / Por esta noite adiante / Se tu me pedes enfim / Num céu de anúncios brilhantes / Vamos casar em Berlim / À luz vã dos faróis / São de seda os lençóis / Porque me amas assim / E lá fomos audazes…
Dime ahora tu nombre / Si ya dijimos que sí / Por la mirada que tarda / Porque me miras así / Porque me rondas así / Toda la luz de la avenida / Se desdobla en pasión / Magias de druida / Por el toque de tu mano / Suenan vientos amenos / Por los mares morenos / de mi corazón / reflejando los escaparates / De la ciudad sin fin / Tú surgiste divina / Porque te acercas así / Porque me tocas así / Y cambiamos pendientes / Viejas palabras tontas / Con acentos diferentes / Nuestra prosa está preparada / Doblando esquinas y grietas / Por el camino de las letras / Que todo lo demás no cuenta / Y entonces fuimos audaces / Por paseos tardíos / Vagando por el asfalto / Cruzando otros puentes / De mares que son ríos / Y en un bar fuera de hora / Si yo llorase, perdona / Es mi amor lo que yo canto / Soñando por dentro / Que estoy en Lisboa / Me dices entonces que soy tuyo / Que tú eres toda para mí / Que me pones en la cúspide / Porque me abrazas así / Porque me besas así / Porque esta noche de repente / Si tú me pides, en fina / Entre un cielo de anuncios brillantes / Nos vamos a casar a Berlín / A la luz vana de las farolas / Son de seda las sábanas / Porque me amas así / Y entonces fuimos audaces…
O amor é o amor (comentario 3)
O amor é o amor - e depois?!
El amor es el maro: ¡¿Y después?!
A meu favor
A meu favor / Tenho o verde secreto dos teus olhos / Algumas palavras de ódio / Algumas palavras de amor / O tapete que vai partir para o infinito / Esta noite ou uma noite qualquer / A meu favor / As paredes que insultam devagar / Certo refúgio acima do murmúrio / Que da vida corrente teime em vir / O barco escondido pela folhagem / O jardim onde a aventura recomeça
A mi favor / Tengo el verde secreto de tus ojos / Algunas palabras de odio / Algunas palabras de amor / La alfombra que va a partir hacia el infinito / Esta noche o una noche cualquiera / A mi favor / Las paredes que insultan lentamente / Cierto refugio encima del murmullo / Que de la vida corriente se empeña en venir / El barco escondido por el follaje / El jardín donde la aventura recomienza
Camané, o melhor (2013)
CD1
- Senhora do livramento
- Avordem as guitarras
- Quadras
- A minha rua
- Marcha do Bairro Alto (1995)
- Lembra-te sempre de mim
- Quem, à janela
- Escada sem corrimão
- Fado sagitário
- Súplica
- Ai Silvininha, Silvininha
- Este silêncio
- Balada
- Esquina de rua
- Estranho fulgor
- Triste sorte (ao vivo)
CD2
- A cantar é que te deixas levar
- Ai, Margarida
- Mais um fado no fado
- Ela tinha uma amiga
- A guerra das rosas
- Fado da sina
- Gola alta
- Sopram ventos adversos
- A luz de Lisboa (Claridade)
- Bicho de conta
- Dança de volta
- Já não estar
- Eu não me entendo
- Complicadíssima teia
- Fado Penélope
- Vendaval
- Te juro
- Saudades trago comigo (ao vivo)
Doble cd recopilatorio con temas de toda su carrera
Infinito Presente (2015)
El tiempo es el hilo conductor del nuevo trabajo de Camané. En «Infinito Presente» hay pasado con fados tradicionales, un poema de Frai António Chagas que data del siglo XVII e incluso fados cantados a inicios del siglo XX por el bisabuelo del fadista. Hay presente con letras de Manuela de Freitas y fados nuevos de José Mário Branco. Y futuro que, según el propio Camané, es el tiempo que más le interesa. Hay además un tiempo constante, o infinito, en los poemas de David Mourão Ferreira y en la sonoridad del fadista que este año conmemora el vigésimo aniversario de su primer álbum de estudio.
Infinito Presente (2015)
1.- Os Dois Horizontes
2.- Chega-Se A Este Ponto
3.- Conta E Tempo
4.- Paraíso
5.- Medalha Da Senhora Das Dores
6.- Passaste Por Mim
7.- Ao Correr Da Pena
8.- Quando O Fado Acontece
9.- Quatro Facas
10.- Lume
11.- Ai Miriam
12.- Desastre
13.- IV Acto
14.- A Correr
15.- Aqui Está-Se Sossegado
16.- Infinito Presente
17.- Triste Sorte
Os Dois Horizontes
Um horizonte, a saudade / Do que não há de voltar / Outro horizonte, a esperança / Dos tempos que hão de chegar / O gozo do amor, sonhado / Num olhar profundo e ardente / Tal é na hora presente / O horizonte do passado / Ou ambição de grandeza / Que no espírito calou / Desejo de amor sincero / Que o coração não gozou / Ou um viver calmo e puro / À alma convalescente / Tal é na hora presente / O horizonte do futuro / Na avidez do bem sonhado / Ao nosso espírito ardente / Nunca o presente é passado / Nunca o futuro é presente
Un horizonte, la saudade / De lo que no ha de volver / Otro horizonte, la esperanza / De los tiempos que han de llegar / El gozo del amor, soñado / En un mirar profundo y ardiente / Es tal en la hora presente / El horizonte del pasado / O ambición de grandeza / Que en el espíritu caló / Deseo de amor sincero / Que el corazón no gozó / O un vivir calmo y puro / Al alma convaleciente / Es tal en la hora presente / El horizonte del futuro / En la avidez del bien soñado / A nuestro espíritu ardiente / Nunca el presente es pasado / Nunca el futuro es presente
Chega-se A Este Ponto
Chega-se a este ponto em que se fica à espera / Em que apetece um ombro, o pano de um teatro / Um passeio de noite, a sós, de bicicleta / O riso que ninguém reteve num retrato / Folheia-se num bar o horário da morte / Encomenda-se um gin enquanto ela não chega / Loucura foi não ter incendiado o bosque / Já não em que mês se deu aquela cena / Já não sei em que mês / Chega-se a este ponto em que se fica à espera / Chega-se a este ponto a arrepiar caminho / Soletrar no passado a imagem do futuro / Abrir uma janela, acender o cachimbo / Para deixar no mundo uma herança de fumo / Rola nais um trovão, chega-se a este ponto / Em que apetece um ombro e nos pedem um sabre / Em que a rota do sol è a roda do sono / Chega-se a este ponto em que a gente não sabe
Se llega a ese punto en que se está a la espera / En que apetece un hombro, el telón de un teatro / Un paseo de noche, a solas, en bicicleta / La risa que nadie retuvo en un retrato / Se hojea en un bar el horario de la muerte / Se pide una ginebra mientras ella no llega / Locura fue no haber incendiado el bosque / Ya no sé en qué mes se produjo esa escena / Ya no sé en qué mes / Se llega a ese punto en que se está a la espera / Se llega a ese punto en que se da la vuelta / Se deletrea en el pasado la imagen del futuro / Abrir una ventana, encender la pipar / Para dejar en el mundo una herencia de humo / Rueda un trueno más, se llega a ese punto / En que apetece un hombro y nos piden un sable / En que la ruta del sol es la ruta del sueño / Se llega a ese punto en que la gente no sabe…
Conta E Tempo
Deus pede estrita conta de meu tempo / E eu vou do meu tempo, dar-lhe conta / Mas, como dar, sem tempo, tanta conta / Eu, que gastei, sem conta, tanto tempo? / Para dar minha conta feita a tempo / O tempo me foi dado, e não fiz conta / Não quis, sobrando tempo, fazer conta / Hoje, quero acertar conta, e não há tempo / Oh, vós, que tendes tempo sem ter conta / Não gasteis o vosso tempo em passatempo / Cuidai, enquanto é tempo, em vossa conta! / Pois, aqueles que, sem conta, gastam tempo / Quando o tempo chegar, de prestar conta / Chorarão, como eu, o não ter tempo
Dios pide estricta cuentas de mi tiempo / Y yo voy de mi tiempo, a darle cuentas / Pero, ¿cómo dar, sin tiempo, tanta cuentas / Yo, que gasté, sin cuentas, tanto tiempo? / Para dar mis cuentas hechas a tiempo / El tiempo me fue dado, y no hice cuentas / No quise, sobrándome el tiempo, hacer cuentas / Hoy quiero ajustar cuentas, y no hay tiempo / Ay, vosotros que tenéis tiempo sin tener cuentas / No gastéis vuestro tiempo en pasatiempos / ¡Cuidad, mientras haya tiempo, vuestras cuentas! / Pues, aquellos que, sin cuenta, gastan tiempo / Cuando llegue el tiempo de presentar cuentas / Llorarán como yo el no tener tiempo.
Paraíso
Deixa ficar comigo a madrugada / Para que a luz do Sol me não constranja / Numa taça de sombra estilhaçada / Deita sumo de lua e de laranja / Arranja uma pianola, um disco, um posto / Onde eu ouça o estertor de uma gaivota / Crepite, em derredor, o mar de Agosto / E o outro cheiro, o teu, à minha volta! / Depois, podes partir. Só te aconselho / Que acendas, para tudo ser perfeito / À cabeceira a luz do teu joelho / Entre os lençóis o lume do teu peito / Podes partir / De nada mais preciso / Para a minha ilusão do Paraíso
Deja quedarse conmigo la madrugada / Para que la luz del sol no me ahogue / En una copa de sombra hecha trizas / Echa zumo de luna y de naranja / Consigue una pianola, un disco, un sitio / Donde yo escuche el estertor de una gaviota / Crepite alrededor el mar de agosto / Y el otro olor, el tuyo, a mí regreso / Después, puedes marcharte. Sólo te aconsejo / Que enciendas, para que todo sea perfecto / En el cabecero la luz de tu rodilla / Entre las sábanas la lumbre de tu pecho / Puedes partir / Nada más necesito / Para mi ilusión del Paraíso
Medalha Da Senhora Das Dores
Não desvies os teus olhos dos meus / Quando passo à tua porta / Trago sempre no meu peito / A medalhinha inocente / Que me ofereceste ao escurecer / Naquele domingo tão triste / Só luzia a chama morna, fraquinha / Dum candeeiro de loiça pintada / Quando atiraste o cabelo p'ra trás / E da tua garganta firme, certeira / Soltou-se o fado / Ai tão amarga, dolorosa despedida / A santa tem sete espadas cravadas / Num coração com espinhos d'oiro na coroa / Lá se me foi o amor / A sangrar lágrimas puras e tristes / Foi-se o amor eu fiquei só / Tu em esplendor / Estamos quites
No desvíes tus ojos de los míos / Cuando paso por tu puerta / Traigo siempre en mi pecho / La medallita inocente / Que me ofreciste al oscurecer / Aquel domingo tan triste / Sólo lucía la llama mortecina, débil / De un quinqué de loza pintada / Cuando te echaste el cabello hacia atrás / Y de tu garganta firme, segura / Se soltó un fado / Ay, tan amarga y dolorosa despedida / La santa tiene siete espadas clavadas / En un corazón con espinas de oro en la corona / Se me marchó el amor / Sangrando lágrimas puras y tristes / Se fue el amor y me quedé solo / Tú en un fulgor / Estamos separados
Passaste Por Mim
Já a tarde ia no fim / Quando passaste por mim / Sem que eu tenha reparado / Depois do que já passei / Foi mais um passo que dei / Para esquecer o passado / Nem reparei, acredita / Como tu ias bonita / No vestido que eu te dei / Nem que levavas contigo / O nosso disco preferido / E o livro que te emprestei / Passou-me pela cabeça / Talvez já não te conheça / E passo tão bem assim / Mas seja lá p'lo que for / Passaria bem melhor / Se não passasses por mim / Tudo isto há-de passar / E eu hei-de acreditar / Que passaste e eu não te vi / Até lá, que queres que eu faça / Se esta saudade não passa / E eu não passo sem ti
Ya la tarde tocaba a su fin / Cuando pasaste junto a mí / Sin que yo me diese cuenta / Fue un paso más que di / Para olvidar el pasado / Ni me di cuenta, créelo / De lo hermosa que ibas / Con el vestido que te regalé / No que llevabas contigo / Nuestro disco preferido / Y el libro que te presté / Se me pasó por la cabeza / Que tal vez ya no te conozca / Y estoy tan bien así / Pero sea por lo que sea / Sería mucho mejor / Si no pasases junto a mí / Todo esto ha de pasar / Y yo he de creer / Que pasaste y no te vi / Hasta entonces, qué quieres que haga / Si esta saudade no pasa / Y yo no paso sin ti
Ao Correr Da Pena
Não fora tanta porta que se fecha / De cada vez que te abro o coração / Não fora tu só teres razões de queixa / E eu ter de te dar sempre a razão / Não fora tanta porta que se fecha / De cada vez que te abro o coração / Não fora este silêncio como um fardo / Que pesa sobre nós a toda hora / E tu não entenderes que quando tardo / É só p'ra não te ouvir mandares-me embora / Não fora este silêncio como um fardo / Que pesa sobre nós a toda hora / Não fora tu dizeres que não partiste / Apenas porque tens pena de mim / E eu acreditar, ao ver-te triste / Que mesmo sendo pena, é mesmo assim / Não fora tu dizeres que não partiste / Apenas porque tens pena de mim / Não fora tanta história que não presta / Pesar demais no livro da memória / E ao correr da pena que nos resta / Escrivíamos de novo a nossa história / E ao correr da pena que nos resta / Escrivíamos de novo a nossa história
Si no hubiera tanta puerta que se cierra / Cada vez que te abro el corazón / Si no fuera que tú sólo tienes razones de queja / Y yo tengo que darte siempre la razón / Si no hubiera tanta puerta que se cierra / Cada vez que te abro el corazón / Si no fuera este silencio como un fardo / Que pesa sobre nosotros a todas horas / Y tú no entendieses que cuando llego tarde / Es sólo para no escuchar cómo me echas / Si no fuera este silencio como un fardo / Que pesa sobre nosotros a todas horas / Si no fuera porque decías que no partiste / Apenas porque tenías pena de mí / Y yo creyendo, al verte triste / Que incluso siendo por pena, era así / Si no fuera porque decías que no partiste / Apenas porque tenías pena de mí / Si no existiera tanta historia que no se presta / A pesar de más en el libro de la memoria / Y al correr de la pena que nos queda / Escribiéramos de nuevo nuestra historia / Y al correr de la pena que nos queda / Escribiéramos de nuevo nuestra historia
Quando O Fado Acontece
Quando uma voz se levanta / Veemente como uma prece / Quando è a alma que canta / È quando o fado acontece / È a saudade de alguém / È riso, melancolia / Desespero, fantasia / Uma razão que se tem / E já não se sabe bem / O que alegra ou entristece / Mas tudo em volta emudece / Quando uma verdade è tanta / Quando uma voz se levanta / Veemente como uma prece / É uma pausa, um cansaço / Uma aposta desmedida / Tão inútil como a vida / Uma pedra ou um estilhaço / Ou apenas mais un passo / P'ra saber que canto è esse / Que ao ouvi-lo mais parece / Que já não vem da garganta; / Quando è a alma que canta / È quando o fado acontece
Cuando una voz se levanta / Vehemente como una súplica / Cuando es el alma quien canta / Es cuando el fado sucede / Es la saudade de alguien / Es risa, melancolía / Desesperación, fantasía / Una razón que no se tiene / Y ya no se sabe bien / Lo que alegra o entristece / Pero todo alrededor enmudece / Cuando una verdad es tanta / Cuando una voz se levanta / Vehemente como una súplica / Es una pausa, un cansancio / Una apuesta desmedida / Tan inútil como la vida / Una piedra o una astilla / O apenas un paso más / Para saber qué canto es ese / que al oírlo más parece / Que ya no viene de la garganta; / Cuando es el alma quien canta / Es cuando el fado sucede
Quatro Facas
Quatro letras nos matam quatro facas / que no corpo me gravam o teu nome. / Quatro facas amor com que me matas / sem que eu mate esta sede e esta fome. / Este amor é de guerra. (De arma branca). / Amando ataco amando contra-atacas / este amor é de sangue que não estanca. / Quatro letras nos matam quatro facas. / Armado estou de amor. E desarmado. / Morro assaltando morro se me assaltas. / E em cada assalto sou assassinado. / Quatro letras amor com que me matas. / E as facas ferem mais quando me faltas. / Quatro letras nos matam quatro facas.
Cuatro letras nos matan cuatro dagas / que en el cuerpo me graban tu nombre. / Cuatro dagas amor con que me matas / sin que yo mate esta sed y este hambre. / Este amor es de guerra. (De arma blanca). / Amando ataco amando contraatacas / este amor es de sangre que no para. / Cuatro letras nos matan cuatro dagas. / Armado estoy de amor. Y desarmado. / Muero asaltando muero si me asaltas. / Y en cada asalto soy asesinado. / Cuatro letras amor con que me matas. / Y las dagas hieren más cuando me faltas. / Cuatros letras nos matan cuatro dagas.
Lume
Foi assim, era costume / Tu vinhas pedir-me lume / Ao balcão daquele bar / Eu disse que não, primeiro / Depois, comprei um isqueiro / E até voltei a fumar / As noites que nós passamos / Quantos cigarros fumámos / Tanto lume que eu te dei / Um dia acordei com frio / Estava o cinzeiro vazio / E nunca mais te encontrei / Mas ontem, naquele bar / De repente, vi-te entrar / Foste direita ao balcão / Como era o teu costume / Vieste pedir-me lume / Mas eu disse-te que não / Se quando te foste embora / Deitei o isqueiro fora / Que lume te posso eu dar? / Pede a outro que te ajude / P'ra bem da minha saúde / Eu já deixei de fumar / Sem dormir de madrugada / Ouvi teus passos na escada / Vi da janela, o teu carro / Debaixo do travesseiro / Encontraste o meu isqueiro / E acendeste-me o cigarro
Fue así, era la costumbre / Tú venías a pedirme lumbre / A la barra de aquel bar / Yo dije que no, primero / Después, compré un mechero / Y hasta volví a fumar / Las noches que nosotros pasamos / Cuántos cigarros fumamos / Tanta lumbre yo te di / Un día desperté con frío / Estaba el cenicero vacío / Y nunca más te encontré / Pero ayer, en aquel bar / De repente, te vi entrar / Te fuiste derecha al balcón / Como era tu costumbre / Viniste a pedirme lumbre / Pero yo te dije que no / Si cuando te fuiste lejos / Dejé fuera mi mechero / ¿Qué lumbre te puedo dar? / Pide a otro que te ayude / Por el bien de mi salud / Yo ya dejé de fumar / Sin dormir de madrugada / Oí tus pasos en la escalera / Vi por la ventana tu coche / Debajo de la almohada / Encontrarse mi mechero / Y me encendiste el cigarro
Ai Miriam
Quem te visse aprumadinha / Camisa, calça de ganga / Colarzinho de missanga / E quase sempre sozinha / Mas chegando a madrugada / Montavas a bicicleta / De t-shirt e calça preta / E grande capa doirada / Uma argola na orelha / E uma mochila vermelha / Quem havia de dizer / O que andavas a fazer / Ai Miriam... quem te visse / A passear no Chiado / Com o teu ar aprumado / De repente tão reguila / E o que era mais estranho / É que essa tua mochila / Parecia sem tamanho / Lá cabia o que tiravas / De toda a parte onde andavas / Sem que ninguém te apanhasse / E sem que ninguém te visse / Qual Robin que se inspirasse / Nas aventuras de Alice / Quem havia de dizer / O que tu ias trazer / Ai Miriam... quem te visse / De dia, uma boa menina / E à noite, super heroína / Vejam só as coisas que ela trazia: / «Um grande queijo da serra / Um dicionário, um colchão / Um bom pedaço de terra / Um combóio, um avião / Uma fábrica, um lagar / Uma viagem p'lo mar / A pomada e a aspirina / A cirurgia, a consulta / Estacionamento sem multa / Um posto de gasolina / Um bilhete pró teatro / Umas férias em Berlim / Uma casa e um jardim / Um alvará e um contrato / Um bife, uma sopa quente / Uma visita a Foz Côa / Uns patins, uma meloa / O expresso do Oriente / Uma sara de trigo / Um livro de ilustrações / E um outro muito antigo / Um parque de diversões / Um presunto, uma braguesa / Uma praia tropical / Um carnaval em Veneza / Uma ceia de natal / Os discos do violinista / Os Dvds da fadista / Um trabalho criativo / Um bom canal de tv / E os Stones ao vivo / Ida e volta a São Tomé / Um piano e um trator / Um pão, um computador / Uma pescada, um balet / Uma sessão de cinema / Um brinquedo e um poema / Uns ténis, uma aguarela / Uma toalha de linho / Uma bola, uma traineira / Um curso, um barco à vela / Um rebanho, uma lareira / Um Porto, um verde fresquinho» / E muito mais, muito mais / As coisas essenciais / P' ra se poder escolher / A vida que se quer ter / E de toda a parte vinham / Os que nunca nada tinham / Fazer um grande festim / Com tudo o que tu trazias / Como se todos os dias / Tudo fosse sempre assim / Quem è que pode saber / O que vai acontecer / Ai Miriam... quem te seguisse / Se muitos fossem capazes / De fazer o que tu fazes / Entretanto nestas bandas / Já pergunta toda a malta / Ai Miriam... onde è que andas / Tu não és a solução / Mas fazes cá muita falta
Quien te viese con tu aplomo / Camisa, pantalón vaquero / Collarcito de cuentas / Y casi siempre sola / Pero al llegar la madrugada / Montabas en tu bicicleta / Con camiseta y pantalón ajustado / Y una gran capa dorada / Una argolla en una oreja / Y una mochila colorada / Quién podría decir / Lo que ibas a hacer / Ay, Miriam... quien te viese /Paseando por el Chiado / Con tu aire seguro / de repente tan traviesa / Y lo que era más extraño / Es que esa mochila tuya / No parecía tener tamaño / Allí cabía lo que cogías / Por todas partes por donde ibas / Sin que nadie te atrapase / Y sin que nadie te viese / Como un Robin que se inspirase / En las aventuras de Alicia / Quién podría decir / Lo que ibas a hacer / Ay, Miriam... quien te viese / De día, una buena chica / Y de noche, súper-heroína / Vean sólo las cosas que ella traía: / «Un gran queso de la sierra / Un diccionario, un colchón /Un buen pedazo de tierra / Un tren, un avión / Una fábrica, una bodega / Un viaje por el mar / La pomada y la aspirina / La cirugía y la consulta / Estacionamiento sin multa / Un puesto de gasolina / Un billete para el teatro / Vacaciones en Berlín / Una casa y un jardín / Un albarán y un contrato / Un filete y una sopa caliente / Una visita a Foz Côa / Unos patines, un melón / El expreso de Oriente / Una saca de trigo / Un libro de ilustraciones / Y otro muy antiguo / Un parque de atracciones / Un jamón, una boina / Una playa tropical / Un carnaval de Venecia / Una cena de Navidad / Los discos del violinista / Los Dvds de la fadista / Un trabajo creativo / Un buen canal de tv / Y los Stones en vivo / Ida y vuelta a San Tomé / Un piano y un tractor / Un pan, un ordenador / Una pescadilla, un ballet / Una sesión de cine / Un juguete y un poema / Unos tenis, una acuarela / Una toalla de lino / Una pelota, una barca / Un curso, un barco a vela / Un rebaño, una chimenea / Un Oporto, un verde fresquito» / Y mucho más, mucho más / Las cosas esenciales / Para poder escoger / La vida que se quiere tener / Y de todas partes venían / Los que nunca tenían nada / Para hacer una gran fiesta / Con todo lo que tú traías / Como si todos los días / Fuese todo siempre así / Quién es quien puede saber / Lo que va a suceder / Ay, Miriam, quién te imitase / Si muchos fuesen capaces / De hacer lo que tú haces / Mientras tanto por esta parte / Ya se pregunta toda la gente / Ay, Miriam... ¿por dónde andas? / Tú no eres la solución / Pero aquí haces mucha falta
Desastre
A pedra bateu na fachada / A casa ruiu / A onda varreu a amurada / Perdeu-se o navio / O lápis sujou-se na lama / Estragou o desenho / A jovem matou-se na cama / Ao lado de um estranho / O homem saltou p'la janela / Morreu na calçada / O grito soou na viela / Ninguém deu por nada / A faca apareceu na mão / O corpo caiu / O fogo abateu a prisão / Mas ninguém fugiu / A chave sumiu no tapete / A porta fechou / A sorte saiu no bilhete / Que ninguém comprou / O guarda soltou o ladrão / Prendeu o pedinte / O morto acordou em vão / No dia seguinte / O medo impediu a diferença / O sono não veio / No palco vazio a presença / Que ficou a meio / O sino tocou a rebate / A igreja ardeu / O pai pagou o resgate / O filho morreu / O mar levou muita gente / Ninguém foi ao fundo / O rato matou a serpente / Na selva mundo / São voltas e voltas da vida / A vida è assim / Às voltas nas voltas da vida / Que farei de mim / São voltas e voltas da vida / A vida è assim / Às voltas nas voltas da vida / Que farei de mim
La piedra golpeó en la fachada / La casa se hundió / La ola barrió la defensa / El navío se perdió / El lápiz se ensució en el lodo / Dañando el dibujo / La joven se mató en la cama / Al lado de un extraño / El hombre saltó por la ventana / Murió en la calzada / El grito sonó en la callejuela / Nadie se enteró de nada / La navaja apareció en la mano / El cuerpo cayó / El fuego abatió la prisión / Pero nadie huyó / La llave se escondió en el felpudo / La puerta se cerró / La suerte tocó en el billete / Que nadie compró / El guardia soltó al ladrón / Detuvo al mendigo / El muerto se despertó en vano / Al día siguiente / El miedo impidió la diferencia / El sueño no vino / En el escenario vacío la presencia / Que se quedó en medio / La campana tocó a arrebato / La iglesia ardió / El padre pagó el rescate / El hijo murió / El mar se llevó a mucha gente / Ninguno fue al fondo / El ratón mató a la serpiente / En la selva del mundo / Son vueltas y vueltas de la vida / La vida es así / En las vueltas y vueltas de la vida / Qué será de mí / Son vueltas y vueltas de la vida / La vida es así / En las vueltas y vueltas de la vida / Qué será de mí
IV Acto
Sem memória nem intento / E sempre a recomeçar / Sem mágoa ou ressentimento / Ser apenas alimento / Se eu aprendesse com o mar / Sem rumo nem pensamento / Sem destino nem lugar / Se eu aprendesse com o vento / Ser apenas o momento / Que se contenta em passar / Se eu pudesse, como o vento / Se eu pudesse, como o mar / Ser apenas elemento / Ar e água em movimento / Se eu pudesse descansa; / Ai ser o mar e o vento / Ser apenas o que invento / Se eu pudesse descansar
Sin memoria ni intento / Y siempre recomenzando / Sin amargura o resentimiento / Ser apenas alimento / Si yo aprendiese con el mar / Sin rumbo ni pensamiento / Sin destino ni lugar / Si yo aprendiese con el viento / A ser apenas el momento / Que se contenta en pasar / Si yo pudiese, como el viento / Si yo pudiese, como el mar / Ser apenas elemento / Aire y agua en movimiento / Si yo pudiese descansar / Ay, ser el mar y el viento / Ser apenas lo que invento / Si yo pudiese descansar
A Correr
Corre a gente decidida / Pra ter a vida que quer / Sem repararmos que a vida / Passa por nós a correr / Às vezes até esquecemos / Nessa louca correria / Porque motivo corremos / E para onde se corria / Buscando novos sabores / Corre-s'atrás de petiscos / Quem corre atrás de valores / Corre sempre grandes riscos / E dá pra ser escorraçado / Correr de forma dif'rentre / Há quem seja acorrentado / Por correr contr'a corrente / Num constante corropio / Já nem sequer nos ocorre / Que a correr até o rio / Chegando ao mar também morre / Vou atrás do prejuiso / Vou à frente d'ameaça / Morremos sem ser preciso / E a correr, a vida passa / Percorrendo o seu caminho / Correndo atrás dum sentido / Há quem dance o corridinho / Eu canto o fado corrido / E o que me ocorre agora / Pra não correr qualquer p'rigo / É correr daqui pra fora / Antes que corram comigo / Vou correr daqui pra fora / Antes que corram comigo
Corre la gente decidida / para tener la vida que quiere / Sin que reparemos en que la vida / Pasa corriendo por nosotros / A veces incluso olvidamos / En esa loca carrera / Por qué motivo corremos / Y hacia donde se corría / Buscando nuevos sabores / Se corre detrás de caprichos / Quien corre detrás de valores / Corre siempre grandes riesgos / Y se arriesga a ser expulsado / Al correr de forma diferente / Hay quien sea encadenado / por correr contra corriente / En un constante correr / Ya ni siquiera nos ocurre / Que al correr hasta el río llegando al mar también muere / Voy detrás del prejuicio / Voy al frente de la amenaza / Morimos sin ser preciso / Y al correr, la vida pasa / Recorriendo su camino / Cuando detrás de un sentido / Hay quien dance el corridiño / Yo canto fado corrido / Y lo que me ocurre ahora / Para no correr ningún peligro / Es que corro de aquí hacia fuera / Antes que corran conmigo / Voy a correr de aquí hacia fuera / Antes que corran conmigo
Aqui Está-Se Sossegado
Aqui está-se sossegado / Longe do mundo e da vida / Cheio de não ter passado / Até o futuro se olvida / Tinha os gestos inocentes / Seus olhos riam no fundo / Mas invisíveis serpentes / Faziam-a ser do mundo / Aqui tudo é paz e mar / Que longe a vista se perde / Na solidão a tornar / Em sombra, o azul que é verde! / Não foi propósito, não / Os seus gestos inocentes / Tocavam no coração / Como invisíveis serpentes / Durmo, desperto e sozinho / Que tem sido a minha vida? / Velas de inútil moinho / Um movimento sem lida... / Nada explica nem consola / Tudo está certo depois / Mas a dor que nos desola / A mágoa de um não ser dois
Aquí se está sosegado / Lejos del mundo y de la vida / Lleno de no tener pasado / Hasta el futuro se olvida / Tenía los gestos inocentes / Sus ojos reían en el fondo / Pero invisibles serpientes / La hacían ser del mundo / Aquí todo es paz y mar / Que lejos la vista se pierde / En la soledad al volver / En sombra el azul que es verde / No fue propósito, no / Sus gestos inocentes / Tocaban el corazón / Como invisibles serpientes / Duermo, despierto y solo / ¿Qué es lo que ha sido mi vida? Velas de inútil molino / Un movimiento sin fruto... Nada explica ni consuela / Todo está bien después / Pero el dolor que nos desuela / La angustia de un no ser dos
Infinito Presente
Irrompe do teu corpo iluminado / toda a luz de que o mundo sente a falta / Não a que mais reluz Só a mais alta / Só a que nos faz ver o outro lado / do bosque onde o Futuro e o Passado / defrontam o Presente que os assalta / num combate indeciso a que nem falta / o sabor de saber-se ilimitado / Irrompe assim a luz entre os extremos / da mesma renovada madrugada / E vibra a cada instante um novo grito / Com essa luz do grito é que nós vemos / que Passado e Futuro não são nada / apenas o Presente é infinito / Passado e Futuro não são nada / apenas o Presente é infinito
Irrumpe de tu cuerpo iluminado / toda la luz de la que el mundo siente la falta / No la que más reluce Sólo la más alta / Sólo la que nos hace ver el otro lado / del bosque donde el Futuro y el Pasado / se encaran al Presente que los asalta / en un combate indeciso al que no falta / el sabor de saberse ilimitado / Irrumpe así la luz entre los extremos / de la misma renovada madrugada / Y vibra a cada instante un nuevo grito / Con esa luz de grito es con la que nosotros vemos / que Pasado y Futuro no son nada / apenas el Presente es infinito / Pasado y Futuro no son nada / apenas el Presente es infinito
Triste Sorte
Ando na vida à procura / De uma noite menos escura / Que traga luar do céu / De uma noite menos fria / Em que não sinta agonia / De um dia a mais que morreu / Vou cantando amargurado / Vou de um fado a outro fado / Que fale de um fado meu / Meu destino assim cantado / Jamais pode ser mudado / Porque do fado sou eu / Ser fadista é triste sorte / Que nos faz pensar na morte / E em tudo o que em nós morreu / Andar na vida à procura / De uma noite menos escura / Que traga luar do céu
Ando buscando en la vida / Una noche menos oscura / Que traiga luna del cielo / Una noche menos fría / En que no sienta la agonía / De un día más que murió / Voy cantando afligido / Voy de un fado a otro fado / Que hable de un fado mío / Mi destino así cantado / Jamás puede ser cambiado / Porque del fado soy yo / Ser fadista es triste suerte / Que nos hace pensar en la muerte / Y en todo lo que en nosotros murió / Andar buscando en la vida / Una noche menos oscura / Que traiga luna del cielo