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Carlos do Carmo

Carlos Alberto do Carmo Almeida (Lisboa, 21 de diciembre de 1939) conocido artísticamente como Carlos do Carmo alcanzó dimensión internacional a través del fado.

Es hijo de la conocida fadista Lucília do Carmo y de Alfredo de Almeida, librero y hotelero. De joven, Carlos estudia hostelería en Suiza, iniciando su carrera artística en 1964, si bien ya había grabado un disco cuando tenía 9 años.

Representó a Portugal en el XXI Festival de la Canción de Eurovisión 1976, con el tema Flor de verde pinho (basado en un poema de Manuel Alegre). En el Festival RTP de la canción de aquel año fue el único intérprete, entre las últimas canciones presentadas estaban temas como Estrela da tarde.

De entre muchas otras, sus canciones más conocidas son: Os putos, Um homem na cidade, Canoas do Tejo, Lisboa menina e moça, Duas lágrimas de orvalho y Bairro Alto.

Ha cantado en portugués el tema El drapaire de Joan Manuel Serrat, (O ferro velho en adaptación del poeta Alexandre O'Neill), tema incluido en su disco Canoas do Tejo (LP Movieplay en 1972-CD en 1997) y en O melhor dos melhores (Tecla, 1992).

Su nombre figura entre los pioneros de la nueva discografía portuguesa, ya que su disco Un homem no país fue el primer CD editado por un artista en Portugal.

José María Nóbrega lo acompaña en la guitarra desde hace 36 años. Fue homenajeado en 2003 con motivo de sus 40 años de carrera musical.

En 2007 participó en la película Fados de Carlos Saura junto a otros grandes artistas lusos y brasileños, como Mariza, Camané o Caetano Veloso. Este largometraje es estrenado en la gran pantalla el 23 de noviembre de 2007, después de ser proyectado en diversos festivales de cine. Paralelamente al estreno de la película se realizan conciertos de presentación de la película en Madrid, Valladolid y Santiago de Compostela, en los que intervienen Camané, Mariza, Miguel Poveda y el propio Carlos do Carmo. Carlos do Carmo es galardonado con el Premio Goya a la Mejor canción original por Fado da saudade.

Ha sido embajador de la música y la cultura portuguesa a través de sus innumerables actuaciones por varios países, pasando por el Teatro Olympia de París, por las Óperas de Fráncfort del Meno y Wiesbaden, por la casa de espectáculos Canecão de Río de Janeiro, el Savoy de Helsinki y por otras muchas ciudades, como San Petersburgo, Copenhague, São Paulo, entre otras. A nivel nacional destacan los conciertos en la Fundación Gulbekian, en el Monasterio de los Jerónimos de Belém, en el Casino de Estoril o en el Centro Cultural de Belém.

Es ciudadano honorario de la ciudad de Río de Janeiro y miembro de la Honra del Claustro Ibero-Americano de las Artes. Asimismo, le fue concedido un diploma por el Senado de Rhode Island (Estados Unidos) por su contribución a la divulgación de la música portuguesa, el Globo de Oro de Mérito y de la Excelencia, el Premio de la consagración de su carrera de la Sociedad Portuguesa de Autores. Es además miembro de la Orden del Infante Don Enrique.

 

 

Selección

Barrio Alto

Bairro Alto aos seus amores tão dedicado / Quis um dia dar nas vistas / E saíu com os trovadores mais o fado / Pr'a fazer suas conquistas / Tangem as liras singelas / Lisboa abriu as janelas Acordou em sobressalto / Gritaram bairros à toa / Silêncio velha Lisboa / Vai cantar o Bairro Alto / Trovas antigas, saudade louca / Andam cantigas a bailar de boca em boca / Tristes bizarras, em comunhão / Andam guitarras a gemer de mão em mão / Por isso é que mereceu fama de boémio / Por seu condão fatalista / Atiraram-lhe com a lama como prémio / Por ser nobre e ser fadista / Hoje saudoso e velhinho / Recordando com carinho seus amores suas paixões / Pr'a cumprir a sina sua / Ainda veio pr'o meio da rua, cantar as suas canções / Trovas antigas, saudade louca...

 

Barrio Alto a sus amores tan dedicado / Quiso un día ser fadista / Y salió con los trovadores y con el fado / Para hacer sus conquistas / Tocan las liras sencillas / Lisboa abrió las ventanas / Se levantó con sobresalto / Los barrios gritaron a voces / Silencio, vieja a Lisboa / Va a cantar el Barrio Alto / Trovas antiguas, saudade loca / Van las cantigas bailando de coca en boca / Tristes y gallardas, en comunión / Están las guitarras gimiendo de mano en mano / E por eso que mereció fama de bohemio / Por su don fatalista / Y le tiraron barro como premio / Por ser noble y ser fadista / Hoy, con saudade y viejecito / Recordando con cariño sus amores y sus pasiones / Para cumplir su destino / Va aún por medio de la calle, cantando sus canciones / Trovas antiguas, saudade loca...

Discografía

 

O fado de Carlos do Carmo

O fado em duas gerações (con su madre, Lucília do Carmo)

Por morrer uma andorinha

Fado Lisboa – An evening at the "Faia"

Carlos do Carmo

Pedra filosofal

Uma canção para a Europa

Um homem na cidade

Carlos do Carmo com guitarras

O maior intérprete da música português

Carlos do Carmo ao vivo no Olympia

Os imigrantes (BSO)

A arte e a música de Carlos do Carmo

Um homem no país

Carlos do Carmo Live Alt Oper Frankfurt

Mais do que amor é amar

A touch of class

Ao vivo no Canecão

Que se fez homem de cantar

Canoas do Tejo

Lisboa menina e moça

Dez fados vividos

Ao vivo no Olympia

Live, Alte Oper Frankfurt

Em concerto

Mais do que amor é amar

Margens

Nove fados e uma canção de amor

Ao vivo no CCB

À noite

Singles

 

A Voz Que Eu Tenho: O nosso amor e livre (Bom dia, meu amor), Cidade Cinzenta, Sou da Noite, Tenho a pátria num rosto de criança.

Recopilaciones

 

A arte e a música de Carlos do Carmo

Os sucessos de 35 anos de Carreira

O melhor de Carlos do Carmo

Un parfum de fado, Vol. 1 Carlos do Carmo

Un parfum de fado, Vol. 6 Carlos do Carmo

Voz marinheira, Carlos do Carmo

A morte de Mariquinhas

Sem amigos e sem pão / Lá morreu a Mariquinhas / Dizem que foi no caixão / Feito só com tabuínhas / Num quarto escuro, fechado / Sem cortinas nas janelas / Em noite negra sem estrelas / Sem guitarras e sem fado; / Num silêncio bem magoado / Há choros no Capelão / E um ou outro coração / Já recorda cheio de dôr / A que morreu sem amor / Sem amigos e sem pão / De todo o lado veio gente / Que se aperta e se atropela / Pois toda a gente quer vê-la / De rosto frio e ausente; / Mas com ela, isso é diferente / Não se riam as vizinhas! / Altiva como as raínhas / Lenços e fitas agarra / E abraçada a uma guitarra / Lá morreu a Mariquinhas / Deixou escrito em testamento / Lido de alto p'las vizinhas / Qué guitarra e às tabuínhas / Seu espólio de momento; / Queria este seguimento: / A guitarra ali à mão / E as tábuas no coração / Coisa um bocado bizarra / Mas o certo é que a guitarra / Dizem que foi no caixão / E chegou a madrugada / Com toda a gente na rua / Havia uns restos de lua / E de noite mal passada; / Mas foi data assinalada! / Pois qual bando de andorinhas / As colegas e as vizinhas / Com o luto no coração / Transportavam o caixão / Feito só com tabuínhas

Sin amigos y sin pan / Allí murió Mariquinhas / Dicen que se fue en un ataúd / Hecho sólo de tablillas / En un cuarto oscuro, cerrado / Sin cortinas ni ventanas / En noche negra sin estrellas / Sin guitarras y sin fado / En un silencio bien herido / Hay lloros en Capelão / Y algún que otro corazón / La recuerda lleno de dolor / La que murió sin amor / Sin amigos y sin pan / De todas partes vino gente / Que se acerca y se empuja / Pues toda la gente quiere verla / Con el rostro frío y ausente; / pero con ella eso es diferente / ¡Que no se rían las vecinas ! / Altiva como las reinas / Pañuelos y cintas agarra / Y abrazada a una guitarra / Allí murió Mariquinhas / Dejó escrito en testamento / Leído en alto a las vecinas / Que la guitarra y las tablillas / Son despojo del momento; / Ella quería este cumplimiento: / La guitarra a mano / Y las tablas en el corazón / Cosa un poco extraña / Pero lo cierto es que la guitarra / Dicen que iba en el ataúd / Y llegó la madrugada / Con toda la gente en la calle / Había restos de luna / Y de noche mal pasada; / ¡Pero fue un día señalado! / Pues cual bandada de golondrinas / Las colegas y las vecinas / Con luto en el corazón / Transportaban el ataúd / Hecho sólo de tablitas

À noite

No fado em que nasci, no fado em que morri, / Um fado vi nascer na sina de morrer / Em tudo que eu cantei um rosto me sorri, / Um fado me ensinou que nunca vou esquecer / E se o fado me leva para onde te ouvi / É porque é só no fado que eu ouço a tua voz / A mais bela das noites que a voz me ensinou / Onde é noite o teu fado e o fado somos nós / Quero ouvir neste fado outro fado igual / E viver nesta noite que à noite aconteceu / Ser outro nos teus braços ser outro e ser igual / Sermos um em ser dois e seres tu em ser teu / Ver a noite inventada num amor descoberto / Ser riso o próprio pranto ser fado no meu canto / Ser dia a noite escura e certo o mais incerto / Ver nascer deste fado um fado em cada canto. 

 

En el fado en que nací, en el fado en que morí, / Un fado vi nacer en el sino de morir / En todo lo que canté un rostro me sonríe, / Un fado me enseñó que nunca voy a olvidar / Y si el fado me lleva para donde te escuché / Porque es sólo en el fado donde escucho tu voz / La más bella de las noches que la voz me enseñó / Donde es de noche tu fado y el fado somos nosotros / Quiero escuchar en este fado otro fado igual / Y vivir en esta noche que de noche sucedió / Ser otro en tus brazos, ser otro y ser igual / Ser uno en ser dos y ser tú en ser tuyo / Ver la noche inventada en un amor descubierto / Que sea risa el propio llanto, ser fado en mi canto / Que sea día la noche oscura y cierto lo más incierto / Ver nacer de este fado un fado en cada canto

Bom dia meu amor

Bom dia meu amor, meu cravo intemporal / Sem grilhetas nos pés, à distância em que lavras / Sem algemas de fumo na voz de Portugal / Onde a memória viu que amordaçou palavras / Bom dia meu amor, porque tu vais chegar / Sem aquelas presenças da sombra que fez medo / E vais falar mais alto, ouvindo e repetindo / Cada letra de luz que projecta o segredo / Bom dia meu amor, meu campo e minha casa / Regato da manhã que entre os penedos dança / Bom dia ao pé do sol, bom dia ao pé da noite / Minha força encontrada nos caminhos da esperança / Bom dia meu amor, meu poema de paz / Só de olhar para ti, o futuro já vive / Por isso na alegria, do amor que me dás / Canto-te em português, o nosso amor é livre

 

Buenos días, mi amor, mi clavel intemporal / Sin grilletes en los pies, a la distancia en que me cubres / Sin esposas de humo en la voz de Portugal / Donde la memoria vio que se amordazaron palabras / Buenos días, mi amor, porque tú vas a llegar / Sin aquellas presencias de sombras que dan miedo / Y vas a hablar más alto, escuchando y repitiendo / Cada letra de luz que proyecta el secreto / Buenos días, mi amor, mi campo y mi casa / Arroyo de la mañana que entre los peñascos danza / Buenos días al pie del sol, buenos días al pie de la noche / Mi fuerza encontrada en los caminos de la esperanza / Buenos días, mi amor, mi poema de paz / Sólo con mirarte el futuro ya vive / Por eso en la alegría del amor que me das / Te canto en portugués, nuestro amor es libre

Canoas do Tejo

Canoa de vela erguida / Que vens do Cais da Ribeira / Gaivota, que andas perdida / Sem encontrar companheira / O vento sopra nas fragas / O Sol parece um morango / E o Tejo baila com as vagas / A ensaiar um fandango / Canoa / Conheces bem / Quando há norte pela proa / Quantas docas tem Lisboa / E as muralhas que ela tem / Canoa / Por onde vais? / Se algum barco te abalroa / Nunca mais voltas ao cais / Nunca, nunca, nunca mais / Canoa de vela panda / Que vens da boca da barra / E trazes na aragem branda / Gemidos de uma guitarra / Teu arrais prendeu a vela / E se adormeceu, deixa-lo / Agora muita cautela / Não vá o mar acordá-lo

 

Canoa de vela erguida / Que vienes del Cais da Ribeira / Gaviota que anda perdida / Sin encontrar compañera / El viento sopla en los peñascos / El sol parece una fresa / Y el Tajo baila con las ondas / Para ensayar un fandango / Canoa / Conoces bien / Cuando hay norte por la proa / Cuantos diques tiene Lisboa / Y las murallas que ella tiene / Canoa / ¿Por dónde vas? / Si algún barco te embiste / Nunca más volverás al muelle / Nunca, nunca, nunca más / Canoa de vela panda / Que vienes de la boca del puerto / Y traes en la brisa suave / Gemidos de una guitarra / Tu patrón tensó la vela / Y se adormeció, dejadlo / Ahora mucha cautela / No vaya el mar a despertarlo

Cantigas de maio

Trago dentro da garganta / As letras do teu nome / Quando um homem se levanta / Grita fúria em vez de fome / Só a força das palavras / Fez do medo esta verdade / Quando é teu o chão que lavras / O arado é liberdade / Meu país vontade corcel de saudade vencida / Meu povo em viagem ganhando a coragem perdida / Meu trigo meu canto meu maio de espanto doendo / Meu abril tão cedo tão tarde meu medo morrendo / Meu amor ausente meu beijo por dentro queimado / Num tempo tão lento tardamos no vento até quando / Até quando? / Trago as palavras desertas / Na canção que eu inventei / E nas duas mãos abertas / Estas veias que rasguei / Por isso o meu sangue corre / Na seiva da primavera / Sou um homem que não morre / Sou um povo que não espera

 

Traigo dentro de la garganta / las letras de tu nombre / Cuando un hombre se levanta / Grita furia en vez de hambre / Sólo a fuerza de palabras / Hice del miedo esta verdad / Cuando es tuya la tierra que trabajas / El arado es libertad / Mi país, deseo corcel de saudade vencida / Mi pueblo en un viaje ganado al coraje perdido / Mi trigo, mi canto, mi mayo de espanto doliendo / Mi abril tan temprano, tan tarde mi miedo muriendo / Mi amor ausente, mi beso por dentro quemado / En un tiempo tan lento tardamos en el viento hasta cuándo / ¿Hasta cuándo? / Traigo las palabras desiertas / En la canción que inventé / Y en las dos manos abiertas / Estas venas que corté / Por eso mi sangre corre / En el bosque de la primavera / Soy un hombre que no muere / Soy un pueblo que no espera

Carta a Ângela

Para ti meu amor, é cada sonho / De todas as palavras que escrever / Cada imagem de luz e de futuro / Cada dia dos dias que viver / Os abismos das coisas, quem os nega / Se em nós abertos, ainda em nós persistem? / Quantas vezes os versos que te dou / Na água dos teus olhos é que existem / Mais humana da terra dos caminhos / E mais certa dos erros cometidos / Foste de novo e sempre, a mão da esperança / Nos meus versos errantes e perdidos / Transpondo os versos, vieste à minha vida / E um rio abriu-se onde era areia e dor / Porque chegaste à hora prometida / Aqui te deixo tudo, meu amor

 

Para ti, mi amor, es cada sueño / De todas las palabras que escriba / Cada imagen de luz y de futuro / cada día de los días que viva / Los abismos de las cosas, ¿quién los niega / Si en nosotros abiertos, aún en nosotros persisten? / Cuántas veces los versos que te doy / En el agua de tus ojos es donde existen / Más humana que la tierra de los caminos / Y más cierta que los errores cometidos / Fuiste de nuevo y siempre la mano de la esperanza / En mis versos errantes y perdidos / Supero los versos, viniste a mi vida / Y mi río se abrió donde había arena y dolor / Porque llegaste a la hora prometida / Aquí te dejo todo, mi amor

Duas lágrimas de orvalho

Duas lágrimas de orvalho / Caíram nas minhas mãos / Quando te afaguei o rosto / Pobre de mim, pouco valho / P'ra te acudir na desgraça / P'ra te valer no desgosto / Porque choras não me dizes / Não é preciso dizê-lo / Não dizes, eu adivinho / Os amantes infelizes / Deveriam ter coragem / Para mudar de caminho / Por amor, damos a alma / Damos corpo, damos tudo / Até cansarmos na jornada / Mas quando a vida se acalma / O que era amor, é saudade / E a vida já não é nada / Se estás a tempo, recua / Amordaça o coração / Mata o passado e sorri / Mas se não estás, continua / Disse isto minha mãe / Ao ver-me chorar por ti

 

Dos lágrimas de orvallo / Cayeron en mis manos / Cuando te acaricié el rostro / Pobre de mí, poco valgo / Para ayudarte en la desgracia / Para servirte en tu disgusto / Por qué lloras no me dices / No es preciso decirlo / No lo dices, yo lo adivino / Los amantes infelices / deberían tener coraje / Para cambiar su camino / Por amor damos el alma / Damos el cuerpo, lo damos todo / Hasta cansarnos en la jornada / Pero cuando la vida se serena / Lo que era amor, es saudade / Y la vida ya no es nada / Si estás a tiempo, retrocede / Amordaza el corazón / Mata el pasado y sonríe / Pero si no estás, continúa / Esto me dijo mi madre / Al verme llorar por ti

Estrela da tarde

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia / Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia / Era tarde tão tarde que a boca tardando-lhe o beijo, morria / Quando à boca da noite surgiste na tarde, qual rosa tardia / Quando nós nos olhamos, tardamos no beijo que a boca pedia / E na tarde ficamos, unidos, ardendo na luz que morria / Em nós dois nessa tarde que tanto tardaste, o sol amanhecia / Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia / Meu amor, meu amor, minha estrela da tarde / Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde / Meu amor, meu amor, eu não tenho a certeza / Se tu és a alegria ou se és a tristeza / Meu amor, meu amor, eu não tenho a certeza / Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram / Dos nocturnos silêncios que à noite, de beijos e aromas se encheram / Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram / E da estrada mais linda da noite, uma festa de fogo fizeram / Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram / Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam / Era a noite mais clara daqueles que à noite se deram / E entre os braços da noite, de tanto se amarem, vivendo, morreram / Eu não sei meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto / É por ti que adormeço, e acordado recordo no canto / Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto / Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto / Meu amor... nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto

 

Era la tarde más larga de todas las tardes que me sucedían / Yo esperaba por ti, tú no venías, tardabas y yo atardecía / Era tarde, tan tarde que a la boca tardándole un beso, moría / Cuando a la boca de la noche surgiste en la tarde, como rosa tardía / Cuando nosotros nos miramos, nos demoramos en el beso que la boca pedía / Y en la tarde nos quedamos, unidos, ardiendo en la luz que moría / En nosotros dos en esa tarde que tanto tardaste, el sol amanecía / Era demasiado tarde para que hubiera otra noche, o hubiera otro día / Mi amor, mi amor, mi estrella de la tarde / Que la luz de la luna te amanezca y mi cuerpo te guarde / Mi amor, mi amor, yo no tengo la certeza / Si tú eres la alegría o eres la tristeza / Mi amor, mi amor, yo no tengo la certeza / Fue la noche más bella de todas las noches que me adormecieron / Dos nocturnos silencios que por la noche de besos y aromas se llenaron / Fue la noche en que nuestros dos cuerpos cansados no se adormecían / Era el día de la noche de todas las noches que nos precedieron / Era la noche más clara de aquellas que por la noche se dieron / Y entre los brazos de la noche, de tanto amarse, viviendo, murieron / Yo no sé mi amor, si lo que digo es ternura, si es risa, si es llanto / es por ti que adormezco, y despierto recuerdo en el llanto / Esa tarde en que tarde surgiste de un triste y profundo escondrijo / Esa noche en que temprano naciste desnuda de amargura y de espanto / Mi amor… nunca es tarde ni temprano para quien se quiere tanto

Fado da saudade

Nasce o dia na cidade, que me encanta / Na minha velha Lisboa, de outra vida / E com um nó de saudade, na garganta / Escuto um fado que se entoa, à despedida / E com um nó de saudade, na garganta / Escuto um fado que se entoa, à despedida / Foi nas tabernas de Alfama, em hora triste / Que nasceu esta canção, o seu lamento / Na memória dos que vão, tal como o vento / O olhar de quem se ama e não desiste / Na memória dos que vão, tal como o vento / O olhar de quem se ama e não desiste / Quando brilha a antiga chama, ou sentimento / Oiço este mar que ressoa, enquanto canta / E da Bica à Madragoa, num momento / Volta sempre esta ansiedade, da partida / Nasce o dia na cidade, que me encanta / Na minha velha Lisboa, de outra vida / Quem vive só do passado, sem motivo / Fica preso a um destino, que o invade / Mas na alma deste fado, sempre vivo / Cresce um canto cristalino, sem idade / Mas na alma deste fado, sempre vivo / Cresce um canto cristalino, sem idade / É por isso que imagino, em liberdade / Uma gaivota que voa, renascida / E já nada me magoa, ou desencanta / Nas ruas desta cidade, amanhecida / Mas com um nó de saudade, na garganta / Escuto um fado que se entoa, à despedida

 

Nace el día en la ciudad que me encanta / En mi vieja Lisboa, de otra vida / Y cn un nudo de saudade, en la garganta / Escucho un fado que se entona, en la despedida / Fue en las tabernas de Alfama, en hora triste / Que nació esta canción, su lamento / En la memoria de los que van, tal como el viento / La mirada de quien se ama y no desiste / Cuando brilla la antigua llama o el sentimiento / Oigo este mar que reposa mientras canta / Y de Bica a Madragoa, en un momento / Vuelve siempre esta ansiedad de la partida / Nace el día en la ciudad que me encanta En mi vieja Lisboa de otra vida / Quien vive sólo del pasado, sin motivo / Se queda preso en un destino que lo invade / pero en el alma de este fado siempre vivo / Crece un canto cristalino, sin edad / es por eso que imagino, en libertad / una gaviota que vuela, renacida / Y ya nada me entristece, o desencanta / En las calles de esta ciudad, amanecida / Pero con un nudo de saudade, en la garganta / Escucho un fado que se entona a la despedida

Fado dos azulejos

Azulejos da cidade / Numa parede ou num banco / São ladrilhos da saudade / Vestida de azul e branco / Bocados da minha vida / Todos vidrados de mágoa / Azulejos despedida / Dos meus olhos rasos de água / À flor de um azulejo uma menina / Do outro um cão que ladra e um pastor / Ai! Moldura pequenina / Que és a banda desenhada / Nas paredes do amor / Azulejos desbotados / Por quanto viram chorar / Azulejos tão cansados / Por quantos viram passar / Podem dizer-vos que não / Podem querer-vos maltratar / De dentro do coração / Ninguém vos pode arrancar / À flor dum azulejo um passarinho / Um cravo e um cavalo de brincar / Um coração com um espinho / Uma flor de azevinho / E uma cor azul luar / À flor dum azulejo a cor do Tejo / E um barco antigo ainda por largar / Distância que já não vejo / E enche Lisboa de infância / E enche Lisboa de mar.

 

Azulejos de la ciudad / En una pared o en un banco / Son ladrillos de saudade / vestida de azul y blanco / Pedazos de mi vida / Todos vidriados de tristeza / Azulejos despedida / De mis ojos arrasados de agua / A la flor de un azulejo, una niña / En otro un perro que le ladra a un pastor / ¡Ay, moldura pequeñita¡ / Que es la franja diseñada / En las paredes del amor / Azulejos desvaídos / Por cuanto vieron llorar / Azulejos tan cansados / Por cuantos vieron pasar / Pueden deciros que no / Pueden querer maltrataros / De dentro del corazón / Nadie os puede arrancar / A la flore de un azulejo, un pajarito / Un clavel y un caballo de juguete / Un corazón con un espino / Una flor de acebo / Y un color azul de luna / En la flor de un azulejo, el color del Tajo / Y un barco antiguo aún por zarpar / Distancia que ya no veo / Y llena Lisboa de infancia / Y llena Lisboa de mar.

Fado fadista

Não digam ao fado com ar de disfarce / Que é baixo que é reles, que não tem valia / Que aprenda ciências, que vá doutorar-se / Que seja poeta, mas doutra poesia / Mas digam ao fado, que não se entristeça / E apenas se alegre, nas provas de vinho / Que por maus ciúmes, não perca a cabeça / E não ande às cegas por tão maus caminhos / O fado fadista / Tem de tudo um pouco / Tem tanto de artista como tem de louco / Veste-se de novo / À maneira antiga / É filho do povo e o resto é cantiga

  

No hablen al fado con aire fingido / Que es bajo, que es vulgar, que no tiene valor / Que aprenda ciencias, que vaya a doctorarse / Que sea poeta, pero de otra poesía / Díganle al fado que no se entristezca / Y apenas se alegra en las catas de vino / Que por más celos no pierda la cabeza / Y que no ande a ciegas por tan malos caminos / El fado fadista / Tiene de todo un poco / Tiene tanto de artista como tiene de loco / Se viste de nuevo / A la manera antigua / Es hijo del pueblo y el resto es canción

Lisboa menina e moça

No Castelo ponho um cotovelo / Em Alfama descanso o olhar / E assim desfaço o novelo de azul e mar / Á Ribeira encosto a cabeça / Almofada da cama do Tejo / Com lençóis bordados à pressa na cambraia dum beijo / Lisboa menina e moça... menina / Da luz que os meus olhos vêm... tão pura / Teus seios são as colinas... varina / Pregão que me traz à porta... ternura / Cidade a ponto-luz... bordada / Toalha á beira-mar... estendida / Lisboa menina e moça... amada / Cidade mulher da minha vida / No Terreiro eu passo por ti / Mas na Graça eu vejo-te nua / Quando um pombo te olha, sorri, és mulher da rua / E no bairro mais alto do sonho / Ponho um fado que soube inventar / Aguardente de vida e medronho, que me faz cantar / Lisboa no meu amor.. deitada / Cidade por minhas mãos... despida / Lisboa menina e moça... amada / Cidade mulher da minha vida

 

En el castillo pongo un codo / En Alfama descanso la mirada / Y así deshago el ovillo de azul y mar / En Ribeira apoyo la cabeza / Almohada de la cama del Tajo / Con sábanas bordadas de prisa en el lino de un beso / Lisboa niña y muchacha... niña / De luz que mis ojos ven... tan pura / Tus pechos son las colinas... pescadora / Pregón que me trae a la puerta... ternura / Ciudad a punto de luz... bordada / Toalla a orilla del mar... extendida / Lisboa niña y muchacha... amada / Ciudad, mujer de mi vida / En Terreiro yo paso por ti / Pero en Graça te veo desnuda / Cuando una paloma te mira, sonríe, eres mujer de la calle / Y en el barrio más alto del sueño / Pongo un fado que supe inventar / Aguardiente de vida y madroño, que me hace cantar / Lisboa en mi amor... acostada / Ciudad por mis manos... desnudada / Lisboa niña y muchacha... amada / Ciudad, mujer de mi vida

Não se morre de saudade

Não se morre de saudade / De saudade eu não morri / Nem morro nesta ansiedade / De viver, morrendo em ti / Não sou a flor que tu beijas / Nem o Deus das tuas preces / Não serei o que desejas / Mas sou mais do que mereces / Sou pausa no teu recreio / Sou o brinquedo quebrado / És um livro que não leio / Porque está sempre fechado / No banco verde da esperança / Estou sentado à tua espera / Continuo a ser criança / No meu jardim de quimera / Traz a bola e vem brincar / Traz o arco e vem correr / Traz a corda e vem saltar / Meu amor, p'ra eu te ver

 

No se muere de saudade / De saudade no morí / Ni muero en esta ansiedad / De vivir muriendo en ti / No soy la flor que tú besas / Ni el dios de tus oraciones / No seré lo que deseas / Pero soy más de lo que mereces / Soy pausa en tu recreo / Soy el juguete roto / Eres un libro que no leo / Porque está siempre cerrado / En el banco verde de la esperanza / Estoy sentado a tu espera / Continúo siendo niño / En mi jardín de quimera / Trae la pelota y ven a jugar / Trae el arco y ven a correr / Trae la cuerda y ven a saltar / Mi amor, para que te vea

No teu poema

No teu poema... existe um verso em branco e sem medida / Um corpo que respira, um céu aberto / Janela debruçada para a vida / No teu poema... existe a dor calada lá no fundo / O passo da coragem em casa escura / E aberta, uma varanda para o mundo / Existe a noite, o riso e a voz refeita à luz do dia / A festa da Senhora da Agonia e o cansaço / Do corpo que adormece em cama fria / Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte / O risco, a raiva e a luta de quem cai, ou que resiste / Que vence ou adormece antes da morte / No teu poema... existe o grito e o eco da metralha / A dor que sei de cor mas não recito / E os sonos inquietos de quem falha / No teu poema... existe um cantochão alentejano / A rua e o pregão de uma varina / E um barco assoprado a todo o pano / Existe um rio... o canto em vozes juntas, vozes certas / Canção de uma só letra e um só destino a embarcar / No cais da nova nau das descobertas / Existe um rio, a sina de quem nasce fraco ou forte / O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste / Que vence ou adormece antes da morte / No teu poema / Existe a esperança acesa atrás do muro / Existe tudo o mais que ainda me escapa / E um verso em branco à espera de futuro

 

En tu poema... existe un verso en blanco y si medida / Un cuerpo que respira, un cielo abierto / Ventana que se asoma hacia la vida / En tu poema... existe un dolor callado allá en el fondo / El paso del coraje en casa oscura / Y abierta una terraza para el mundo / Existe la noche, la risa y la voz rehecha a la luz del día / La fiesta de la Señora de la Agonía y el cansancio / Del cuerpo que se adormece en cama fría / Existe un río, el sino de quien nace débil o fuerte / El riesgo, la rabia y la lucha de quien cae o que resiste / Que vence o se adormece antes de la muerte / En tu poema... existe el grito y el eco de la metralla / El dolor que sé de memoria y no recito / Y los sueños inquietos de quien falla / En tu poema... existe un canto gregoriano del Alentejo / La calle y el pregón de una pescadera / Y un barco avanzando a toda vela / Existe un río... el canto en voces juntas, voces ciertas / Canción de una sola letra y un solo destino que embarca / En el puerto de una nueva nave de descubrimientos / Existe un río, el sino de quien nace débil o fuerte / El riesgo, la rabia y la lucha de quien cae o que resiste / Que vence o se adormece antes de la muerte / En tu poema / Existe la esperanza encendida tras un muro / Existe todo lo demás que aún me espera / Y un verso en blanco a la espera del futuro

O amarelo da carris

O amarelo da carris / Vai da Alfama à Mouraria, quem diria / Vai da Baixa ao Bairro Alto / Trepa à Graça em sobressalto / Sem saber geografia / O amarelo da carris / Já teve um avô outrora, que era “o chora” / Teve um pai americano / Foi inglês por muito ano / Só é português agora / Entram magalas, costureiras / Descem senhoras petulantes / Entre a verdade, os beliscos e as peneiras / Fica tudo como dantes / Quero um de quinze p'ra Pampulha / Já é mais caro este transporte / E qualquer dia, mudo a agulha porque a vida / Está pela hora da morte / O amarelo da carris / Tem misérias à sucapa, que ele tapa / Tinha bancos de palhinha / Hoje tem cabelos brancos / E os bancos são de napa / No amarelo da carris / Já não há "pode seguir" para se ouvir / Hoje o pó que o faz andar / É o pó do lava-lar / Com que ele se foi cobrir / Quando um rapaz empurra um velho / Ou se machuca uma criança / Então a gente vê ao espelho o atropelo / E a ganância que nos cansa / E quando a malta fica à espera / É que percebe como é / Passa à pendura, o pendura que não paga / E não quer andar a pé

 

El amarillo del tranvía / Va de Alfama a Mouraria, quién lo diría / Va de la Baixa al Barrio Alto / Trepa hasta Graça en sobresalto / Sin saber geografía / El amarillo del tranvía / Tuvo un abuelo en otro tiempo que era “el llorón” / Tuvo un padre americano / Fue inglés por muchos años / Sólo es portugués ahora / Entran reclutas, costureras / Bajan señoras petulantes / Entre la verdad, los pellizcos y las vanidades / Se queda todo como antes / Quiero uno de quince para Pampulha / Cada vez es más caro este transporte / Y cualquier día cambio de vía porque la vida / Está como para morirse / El amarillo del tranvía / Tiene miserias escondidas que él tapa / Tenía bancos de caña / Hoy tiene cabellos blancos / Y sus bancos son de napa / En el amarillo del tranvía / Ya no hay un “puede seguir” que se escuche / Hoy el polvo que lo hace andar / Es el polvo de la escoria / Con que él se cubrió / Cuando un chaval empuja a un viejo / O se empuja a una criatura / Entonces la gente ve por el espejo el atropello / Y la ganancia que nos cansa / Y cuando la caterva está a la espera / Es cuando se ve como es / Pasa al pescante el caradura que no paga / Y no quiere caminar

O homem das castanhas

Na Praça da Figueira, ou no Jardim da Estrela / Num fogareiro aceso é que ela arde / Ao canto do Outono, à esquina do Inverno / O homem das castanhas, é eterno / Não tem eira nem beira nem guarida / E apregoa como um desafio / É um cartucho pardo, a sua vida / E se não mata a fome, mata o frio / Um carro que se empurra, um chapéu esburacado / No peito, uma castanha que não arde / Tem a chuva nos olhos, e tem um ar cansado / O homem que apregoa ao fim da tarde / Ao pé dum candeeiro acaba o dia / Voz rouca com o travo da pobreza / Apregoa pedaços de alegria / E à noite, vai dormir com a tristeza / Quem quer quentes e boas... quentinhas / A estalarem cinzentas... na brasa / Quem quer quentes e boas... quentinhas / Quem compra leva mais calor p'ra casa / A mágoa que transporta, é miséria ambulante / Passeia na cidade o dia inteiro / É como se empurrasse o Outono diante / É como se empurrasse o nevoeiro / Quem sabe a desventura do seu fado? / Quem olha para o homem das castanhas? / Nunca ninguém pensou que ali ao lado / Ardem no fogareiro dores tamanhas

 

En la Plaza de Figueira o en el Jardín de Estrela / En un brasero encendido es donde arde / Al canto del otoño, en la esquina del invierno / El hombre de las castañas es eterno / No tiene nada de nada, ni guarida / Pregona como un desafío / Y un cartucho pardo es su vida / Y si no lo mata el hambre, lo mata el frío / Un carro que se empuja, un sombrero agujereado / En el pecho una castaña que no arde / Tiene la lluvia en los ojos, y tiene un aire cansado / El hombre que pregona al final de la tarde / Al pie de una farola acaba el día / Voz ronca con el amargor de la pobreza / Pregona pedazos de alegría / Y por la noche se va a dormir con la tristeza / ¿Quién quiere? Calientes y buenas, calentitas / Mientras las coloca, cenicientas, en la brasa / ¿Quién quiere? Calientes y buenas, calentitas / Quien compra lleva más calor a su casa / El dolor que transporta es miseria ambulante / Pasea por la ciudad el día entero / Es como si empujase el otoño hacia delante / Es como si empujase la nevada / ¿Quién sabe la desventura de su fado? / ¿Quién mira al hombre de las castañas? / Nunca nadie pensó que allí al lado / Arden en el brasero dolores tamaños

Palavras minhas

Palavras que disseste e já não dizes / Palavras como um sol que me queimava / Olhar louco de um vento que soprava / Em olhos que eram meus, e mais felizes / Palavras que disseste e que diziam / Segredos que eram lentas madrugadas / Promessas imperfeitas, murmuradas / Enquanto os nossos beijos permitiam / Palavras que dizias, sem sentido / Sem as quereres, mas só porque eram elas que traziam / A calma das estrelas à noite que assomava / À noite que assomava ao meu ouvido / Palavras que não dizes, nem são tuas / Que morreram, que em ti já não existem / Que são minhas, só minhas, pois persistem / Na memória que arrasto pelas ruas / Palavras que disseste e que diziam / Segredos que eram lentas madrugadas / Promessas imperfeitas, murmuradas / Enquanto os nossos beijos permitiam / Palavras que dizias, sem sentido / Sem as quereres, mas só porque eram elas que traziam / A calma das estrelas à noite que assomava / À noite que assomava ao meu ouvido / Palavras que não dizes, nem são tuas / Que morreram, que em ti já não existem / Que são minhas, só minhas, pois persistem / Na memória que arrasto pelas ruas

 

Palabras que dijiste y ya no dices / palabras como un sol que me quemaba / Mirada loca de un viento que soplaba / En ojos que eran míos y más felices / Palabras que dijiste y que decían / Secretos que eran lentas madrugadas / Promesas imperfectas, murmuradas / Siempre que nuestros besos lo permitían / Palabras que decías sin sentido / Sin quererlas, pero sólo porque eran ellas las que traían / La calma de las estrellas a la noche que asomaba / La noche que se asomaba a mi oído / Palabras que no dices ni son tuyas / Que murieron, que en ti ya no existen / Que son mías, sólo mías, pues persisten / En la memoria que arrastro por las calles / Palabras que dijiste y que decían / Secretos que eran lentas madrugadas / Promesas imperfectas, murmuradas / Siempre que nuestros besos lo permitían / Palabras que decías sin sentido / Sin quererlas, pero sólo porque eran ellas las que traían / La calma de las estrellas a la noche que asomaba / La noche que se asomaba a mi oído / Palabras que no dices ni son tuyas / Que murieron, que en ti ya no existen / Que son mías, sólo mías, pues persisten / En la memoria que arrastro por las calles

Poetas de Lisboa

É bom lembrar mais vozes, pois Lisboa / Cidade com poético fadário / Cabe toda num verso de Cesário / E alguma, em ironias de Pessoa / Para cada gaivota, há um do O'Neil / Para cada paixão, um do David / E há Pedro Homem de Melo, que divide / Entre Alfama e Cabanas, seu perfil / E há também o Ary e muitos mais / Entre eles, o Camões e o Tolentino / Ou tomando por fado, o seu destino / Ou dando de seu riso, alguns sinais / Muito do que escreveram e se canta / Na música de fado que já tinha / O próprio som do verso, vem asinha / Assim do coração para a garganta / Que bom seria, tê-los a uma mesa / De café, comparando as emoções / E a descobrirem novas relações / Entre o fado e a língua portuguesa

 

Es bueno recordar más voces, pues Lisboa / Ciudad con poético destino / Cabe toda en un verso de Cesário / Y alguna en ironías de Pessoa / Para cada gaviota hay uno de O’Neil / Para cada pasión uno de David / Y hay un Pedro Homem de Melo que divide / Entre Alfama y Cabanas su perfil / Y está también un Ary y muchos más / Entre ellos Camões Y Tolentino / O tomando por fado su destino / O dando de su risa algunas señales / Mucho de lo que escribieron y se canta / En la música del fado que ya tuvo / El propio sonido del verso viene deprisa / Así, del corazón a la garganta / Qué bueno sería tenerlos en una misma mesa / Con café, comparando las emociones / Y a descubrir nuevas relaciones / Entre el fado y la lengua portuguesa

Por morrer uma andorinha

Se deixaste de ser minha / Não deixei de ser quem era / Por morrer uma andorinha / Não acaba a primavera / Como vês não estou mudado / E nem sequer descontente / Conservo o mesmo presente / E guardo o mesmo passado / Eu já estava habituado / A que não fosses sincera / Por isso eu não fico à espera / De uma emoção que eu não tinha / Se deixaste de ser minha / Não deixei de ser quem era / Vivo a vida como dantes? / Não tenho menos nem mais / E os dias passam iguais / Aos dias que vão distantes / Horas, minutos, instantes / Seguem a ordem austera? / Ninguem se agarre à quimera / Do que o destino encaminha? / Pois por morrer uma andorinha / Não acaba a primavera

  

Si dejaste de ser mía / No dejé de ser quien era / Por morir una golondrina / No acaba la primavera / Como ves no estoy cambiado / Ni siquiera descontento / Conservo el mismo presente / Y guardo el mismo pasado / Yo ya estaba acostumbrado / A que no fueses sincera / Por eso no estoy a la espera / De una emoción que no tenía / Si dejaste de ser mía / No dejé de ser quien era / ¿Vivo la vida como antes? / No tengo menos ni más / Y los días pasan igual / A los días que van distantes  / Horas, minutos, instantes / ¿Siguen un orden austero? / Nadie se agarra a la quimera / ¿Dónde se encamina el destino? / Pues por morir una golondrina / No acaba la primavera

Teu nome Lisboa

Jà te chamaram rainha / Cidade-mãe da tristeza / Jà te chamaram velhinha / Menina e moça, princesa / Jà rimaram o teu cais / Com gaivotas e marés / Querem saber onde vais / Não querem saber quem és / Vão chorando as tuas mágoas / Sem matarem tua fome / Chamam Tejo ás tuas águas / P'ra não dizer o teu nome / Ai Lisboa, se soubesses / Encontrar quem te encontrasse / Talvez um dia tivesses / Um nome que te agradasse / Ai Lisboa, se evitasses / Que te chamassem á toa / Talvez um dia encontrasses / Quem te chamasse Lisboa / Jà te chamaram vadia / Noite-mulher de má fama / Jà te chamaram Maria / Teu nome ninguém te chama / Disfarçaram–te as raízes / Com roupagens de outras gentes / Vão ouvindo o que tu dizes / P'ra esquecerem o que sentens / Engrandecem-te o passado / Fazem trovas ao teu povo / Vão repetindo o teu fado / Mas não te inventam de novo / Ai Lisboa, se soubesses / Encontrar quem te encontrasse / Talvez um dia tivesses / Um nome que te agradasse / Ai Lisboa, se evitasses / Que te chamassem á toa / Talvez um dia encontrasses / Quem te chamasse Lisboa / Ai Lisboa, se evitasses / Que te chamassem á toa / Talvez um dia encontrasses / Quem te chamasse Lisboa / Talvez um dia encontrasses / Quem te chamasse Lisboa

 

Ya te llamaron reina / Ciudad-madre de la tristeza / Ya te llamaron viejecita / Niña y muchacha, princesa / Ya rimaron tu puerto / Con gaviotas y mareas / Quieren saber dónde vas / No quieren saber quién eres / Van llorando tus tristezas / sin matar tu hambre / Llaman Tajo a tus aguas / Para no decir tu nombre / Ay, Lisboa, si supieses / Encontrar a quien te encontrase / Tal vez un día tuvieses / Un nombre que te agradase / Ay, Lisboa, si evitases / Que te llamasen en alto / Tal vez un día encontrases / Quien te llamase Lisboa / Ya te llamaron vagabunda / Noche-mujer de mala fama / ya te llamaron María / Tu nombre nadie te llama / Disfrazaron tus raíces / Con ropajes de otras gentes / Van escuchando lo que dices / Para olvidar lo que sientes / Engrandecen tu pasado / Hacen trovas a tu pueblo / Van repitiendo tu fado / Pero no te inventan de nuevo / Ay, Lisboa, si supieses / Encontrar a quien te encontrase / Tal vez un día tuvieses / Un nombre que te agradase / Ay, Lisboa, si evitases / Que te llamasen en alto / Tal vez un día encontrases / Quien te llamase Lisboa / Ay, Lisboa, si evitases / Que te llamasen en alto / Tal vez un día encontrases / Quien te llamase Lisboa / Tal vez un día encontrases / Quien te llamase Lisboa

Atrapo la madrugada

Como si fuese un niño

Un rosal entretejido

Una cepa de esperanza

Igual que el cuerpo de la ciudad

Que por la mañana temprano ensaya la danza

De aquellos, que a fuerza de voluntad

Nunca se cansan de trabajar

Recorro la calle con esta luna

Que en mi Tajo se ilumina temprano

Voy por Lisboa, marea desnuda

Que desemboca en el Rossio

Soy un hombre de la ciudad

Que por la mañana temprano se despierta y canta

Y por amor a la libertad

Con la ciudad se levanta

Voy por la calle deslumbrada

Por la luna llena de Lisboa

Hasta que la luna enamorada

Crece en la vela de la canoa

Soy la gaviota que derrota

Cualquier mal tiempo en altamar

Soy el hombre que transporta

La marea de gente asustada

Y cuando atrapo la madrugada

Capturo la mañana como una flor

Al borde de la pena desflorada

Una margarita de color azul

La margarita de la libertad

Que me quiere como nadie

La margarita de esta ciudad

Que me quiere, que me quiere

En mis manos, la madrugada

Abrió también la flor de abril

La flor sin miedo, perfumada

Con el aroma del mar

Flor de Lisboa, bien amada

Que no me quería pero ahora me quiere

Agarro a madrugada

Como se fosse uma criança

Uma roseira entrelaçada

Uma videira de esperança

Tal qual o corpo da cidade

Que manhã cedo ensaia a dança

De quem por força da vontade

De trabalhar nunca se cansa

Vou pela rua desa lua

Que no meu Tejo acende o cio

Vou por Lisboa, maré nua

Que desagua no Rossio

Eu sou o homem na cidade

Que manhã cedo acorda e canta

E por amar a liberdade

Com a cidade se levanta

Vou pela estrada deslumbrada

Da lua cheia de Lisboa

Até que a lua apaixonada

Cresça na vela da canoa

Sou a gaivota que derrota

Todo o mau tempo no mar alto

Eu sou o homem que transporta

A maré povo em sobressalto

E quando agarro a madrugada

Colho a manhã como uma flor

À beira mágoa desfolhada

Um malmequer azul na côr

O malmequer da liberdade

Que bem me quer como ninguém

O malmequer desta cidade

Que me quer bem, que me quer bem

Nas minhas mãos, a madrugada

Abriu a flor de Abril também

A flor sem medo, perfumada

Com o aroma que o mar tem;

Flor de Lisboa tão amada

Que mal me quis, que me quer bem

Um homem na cidade

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